terça-feira, 8 de junho de 2010

35901 até 35910

1

O quanto diz a vida em abandono
Depois de tantas noites, solidão
Adentra sem perguntas cada vão
Nem mesmo do meu sonho já me adono,
O resto do que fora tão sutil
Aumenta esta temível tempestade
E ainda que se viva tal saudade,
O mundo noutra face não se viu,
Servindo de alimária em tal desdém,
Resisto o mais que posso, mas persigo
Apenas o caminho mais antigo
E nada nem a sombra ainda vem
E resoluto busco a minha morte,
Quem sabe finalmente eu me conforte.

2

Ocasos de uma vida em trevas feita
As nuvens emolduram ledo céu,
O coração audaz, hoje cruel
Apenas no vazio se deleita
E quando a realidade já se aceita
Perdido em tom amargo, sigo ao léu
Coberto por grisalho e turvo véu,
A morte me rondando em clara espreita.
Arranco estes pedaços do que um dia
Pensara ser apenas fantasia
Amortalhando a dita desde então,
O passo rumo ao nada eu reconheço
Das sendas mais escusas, o endereço
Traçado por um mundo triste e vão.

3


A vida rapineira bebe em gotas
As minhas ilusões enquanto traça
A sorte noutra face, a da desgraça
Tramando estas entranhas ledas, rotas,
E quando noutro instante me trouxeras
Apenas alegria e nada mais
Pensara ter nos olhos o meu cais,
Distante das atrozes, duras feras.
Mas nada do que tanto imaginara
Somente a solidão e nada além,
Tristeza a cada passo ora contém
A imagem bem mais forte e tão amara
Restando longe mesmo da esperança
A minha voz ao nada enfim se lança.

4

Do quanto inda se molda o meu futuro
Em turbulências tantas, heresias,
E quando se percebem agonias
O tempo mais atroz onde perduro,
Jamais se imaginara mais seguro
Imerso nas tolices, fantasias,
E quantas vezes mesmo tu trazias
No olhar este momento amargo e duro,
Tristeza dita o tom desta conversa
Minha alma no vazio se dispersa
E o tempo se anuncia em treva e medo,
Do quanto poderia e jamais tive,
Quem ama e se perdendo sobrevive,
Deveras segue ao fim inerte e ledo.

5

Não deixo de pensar e de penar
A vida não me trouxe mais escolha
Por quanto do passado se recolha
Distando da esperança o meu olhar
Entulhos carregando, vária escória
O passo não se mostra em claridade,
E quanto mais atroz a dor invade,
Ausência de esperança na memória,
Restando apenas isso: o fim em trevas
Portanto não se vendo uma alegria
A morte a cada tempo se anuncia
Enquanto as luzes fogem, tolas levas,
Alçando a negação por onde eu sei
O enfastiado sonho dita a lei.

6



Os dias que me restam, miseráveis
Os olhos sem saber de um horizonte
Aonde novo brilho enfim desponte
Em dias mais sublimes, desejáveis,
Caminhos entre pedras, insondáveis
Sem ter sequer saber de rara fonte
E desta forma apenas já se aponte
A sombra dos meus dias mais aráveis,
O cândido sonhar da adolescência
Agora na temível excrescência
Essencialmente molda o meu vazio,
E morto em vida somo mais um nada,
A porta onde buscara a paz, fechada,
Sobreviver é ledo desafio.


7


Aonde poderia crer em luzes
Ao menos uma sombra e nada mais,
Olhando para trás, vejo o jamais
E nele novos dias reproduzes,
Enquanto ao mais terrível me conduzes,
Expondo os meus caminhos aos venais
Desejos aprontando os funerais,
Cevando sob os pés imensas urzes,
Vasculho meus momentos mais felizes
E sei que na verdade são deslizes
Da intensa marcação da dor em mim,
Acreditar na viva florescência
Da primavera fora uma inocência
Na ausência do que fosse algum jardim.

8

Funéreo caminhar por entre espinhos,
As hordas, velhas súcias e matilhas
Aonde na verdade inda palmilhas
Devastas os prováveis frágeis ninhos,
E quando não se tendo mais carinhos,
Apenas vejo assim tais armadilhas
E sigo sem sentido pelas trilhas
Buscando inconseqüente tais caminhos,
A morte prenuncia cada passo,
E quando na esperança, um tolo, eu grasso,
Espúria face louca do histrião,
Fantoche simplesmente exposto ao nada,
A dita destroçando a mera estada
Deste corpo em completa podridão...


9


Não quis e nem desejo algum laurel
Apenas esta paz onde não creio
Somente da esperança um torpe meio
Coberto por escuso e farto véu,
Rendido ao bem mordaz torpe e cruel,
No olhar somente aceso este receio
O amor já não conhece sorte e veio,
Uma esperança amarga em frio e fel,
Resulto da tristeza e tão somente
Espalho pela terra esta semente
Proliferando a fera que inda resta
No olhar abandonado e quase esguio,
E quando noutra face me recrio,
Uma alma satisfeita, em paz. Funesta.


10



Minha alma se apequena a cada instante
E sabe do que possa acontecer
Na ausência de alegria em desprazer
O quanto noutra face radiante,
Por mais que a fantasia se adiante
Não tendo nem pretendo me esquecer
Da morta sensação de um querer,
Qual fosse um falso e torpe diamante.
Perpetuando em mim este vazio
E quando alguma luz vejo eu desvio
Meu passo rumo à morte e nada além,
Não quero mais saber da desventura
E quando se aproxima e me tortura
O olhar envenenado em teu desdém.

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