quarta-feira, 9 de junho de 2010

35941 até 35950

1

Usando rimas ricas, peito pobre
Tateia inutilmente e nada colhe
A vida a cada passo mais me tolhe
Enquanto a realidade se descobre
O mundo que pensara ser tão nobre
Apenas os fantasmas já recolhe
E o pendular caminho não se escolhe
A mera fantasia tudo encobre.
Restando dentro em mim tal atitude
Porquanto a realidade mesmo ilude
Não pude perceber outra seara,
A sorte se moldando em tom diverso,
Somando cada força de algum verso
À morte todo passo em vão prepara.

2


Não posso mais pensar em ter a paz
Que tanto desejara e sei distante
Ainda quando em sonhos agigante
O corte se apresenta mais tenaz,
E tanto poderia quanto faz
A porta se trancando em inconstante
Delírio que deveras se adiante
E mostre a realidade vã, mordaz;
Resumo em luzes turvas a existência
O fato de sonhar é penitência
E tanto poderia ser diverso
Se o mundo fosse assim bem mais tranqüilo
E quando no vazio enfim desfilo,
Seguindo neste vago mundo imerso.

3

Viver esta saudade e nada mais,
Resoluto tentara alguma luz
E quanto mais exposta a dor e a cruz,
O corte se aprofunda sem jamais
Vencer os meus temores ancestrais
E neles cada verso em que propus
O mundo mais diverso em contraluz,
Porém das ilusões, sequer sinais,
A sombra de quem fora há tantos anos,
Causando novamente frios danos
E as ânsias dominando a poesia,
A sorte se apresenta em nova face,
Ainda que decerto me desgrace
Restando viva sombra em fantasia.


4

Jogado sobre as pedras deste porto
Ancoradouro há tanto abandonado
O reino que buscara, desolado
Apenas resistindo, semimorto,
E quando noutra face em desconforto
Entrego-me ao vazio, meu legado,
O corte pronuncia-se velado
Dos tantos que julgara mero e absorto
Resisto o mais que posso, mas sei bem
O quanto deste nada me contém
E o peso da existência vergando haste,
No todo imaginário e mais feliz,
Realidade invade e contradiz
Enquanto uma esperança me negaste.

5

Ocasos desta vida em tom sombrio,
Os ermos de minha alma eu inda tento
Porquanto entregue ao mero sofrimento
O dia a dia apenas desafio,
Desatinadamente busco o rio
E quando nova história enfim invento
Tocado pela força deste vento
Tomado por completo desvario,
Arranco dos meus olhos o horizonte
Por mais que um novo dia já se aponte
A morte não me deixa um só segundo,
Seguindo os velhos rastros que deixaste
Invés da fantasia outro desgaste
E assim nestas mortalhas me aprofundo.


6

Pudera acreditar na voz de quem
Traçando em fantasia novas sendas,
E quando a realidade tu desvendas
Do passo que virá seguindo aquém,
Resumo minha vida no que tem
Em fases discordantes não entendas
E sei das costumeiras, vãs contendas
Deixando no passado o mesmo alguém
Por vezes acredito ter enfim
O amor que imaginara e sei que em mim
Talvez pudesse ser a salvação,
Heréticos caminhos descobertos
Os céus das esperanças encobertos,
Negando desde sempre algum verão.


7

Olhando para trás não descortino
O fardo acumulado pelos anos,
E quando imaginara novos danos
Apenas o vazio em meu destino
Aonde poderia cristalino
O mundo se mostrando em desenganos
E os erros costumeiros e profanos
Nas sendas onde atroz me desatino,
Resulto nesta sombra que indolente
Caminha em busca apenas do nascente
Sabendo ser o sol, mera ilusão,
E o todo se dilui a cada queda,
O passo noutra face já se veda
Mudando com certeza a direção.

1
Domina o pensamento plenamente,
Não deixa mais espaços para nada,
A solidão devora e a madrugada
Em trevas e neblinas já se sente,
O quanto poderia e nada atente
Para os caminhos ermos desta estrada,
A sorte noutra face desenhada
Agora se transforma em penitente.
Vasculho alguns recantos do passado
E bebo deste mundo avinagrado
Medonhas e terríveis fantasias
Afloram a me entranham, vã promessa
O tempo que em vazio já se expressa
E os sonhos se inda restam, esvazias.

2

Chegando mansamente à minha porta
Rondando atocaiando cada passo
O quanto imaginara sendo escasso
Jamais outro caminho em paz aporta,
Olhando de soslaio nada importa
A fé no que virá, falta de espaço
Mergulho neste nada aonde traço
A solidão atroz que a vida corta.
Joguete entre as terríveis ilusões,
Buscara inutilmente direções
E os dias se repetem; sempre iguais,
Porquanto poderia acreditar
Numa esperança tola que a vagar
Revolve tais momentos espectrais.

3

Sentindo o vento ainda no meu rosto,
Realço com temores cada dia
E o quanto ainda em mim se poderia
Viver além do muito já proposto
Encontra amarga face do desgosto
A noite se mostrando sempre fria,
O verso se perdendo em agonia,
A liberdade ausente, o mundo trai,
Fagulhas do que fora sentimento
Expostas ao temível forte vento
A chuva em tempestade agora cai.

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