sábado, 12 de junho de 2010

36321 até 36330

1

Os raios deste sol
Adentram no meu quarto
E quanto mais me aparto
Dos sonhos, tal farol
Ilude o girassol
Que dos amores farto
Além dos sonhos parto,
Mas volto ao arrebol,
Colhendo este solar
Caminho a se mostrar
Nas mãos das ilusões,
E quanto mais distante
Maior e deslumbrante
Desejo tu me expões.

2

A vida se refaz
Depois da tempestade
E quanto mais invade
Aumenta a minha paz,
O quanto fora, atrás
Escravo da saudade
E agora em liberdade
O amor suave e audaz
Domando o velho peito
Há tanto insatisfeito
Sem cais e sem abrigo,
Por tanto te querer
E poder te saber
Viver, enfim, consigo.

3

A sorte e meus amores
O tempo destroçara
E quanto mais amara
Maiores dissabores,
Seguindo aonde fores
A vida, mesmo amara,
Em ti já se declara
Sem medos ou rancores,
Vivendo este momento
E nele se me alento
Também eu posso ver,
Além da imensidão
O sol em profusão
Domando o amanhecer.

4


Destino tão cruel
Cevara em mim daninhas
E quando te avizinhas
O pensamento ao léu
A força em aço e fel
Searas nunca minhas
Agora que encaminhas
Adentram turvo céu.
E nada do que tive
Sequer por onde estive
Traduz esta tristeza,
O quanto do meu mundo
Em lágrimas inundo,
Intensa correnteza.

5

As rodas da fortuna
Em vão já se perderam
Searas se teceram
Aonde coaduna
Ausente praia e duna,
As ondas me esqueceram,
E enfim quando morreram
Levaram minha escuna
Além do mar imenso
E quanto em ti eu penso
Não vejo nada além,
Senão a noite em vão,
Sem ter mais direção
Procuro e ninguém vem.


6

Quem quis da vida festa
E teve esta amargura
Distante inda procura
Da sorte qualquer fresta
E quando nada resta
Sequer uma brandura
A vida tão escura
Ao nada já se empresta.
Resisto o mais que pude
E assim em plenitude
A dor não mais me deixa,
O quanto poderia
Alçar em novo dia,
Inútil minha queixa.

7

Já sabe que alvoradas
Não deixam que se veja
O quanto desta andeja
Ternura em mãos atadas
Subindo por escadas
Aonde se preveja
O quanto se deseja
Em sortes lapidadas.
Mas nada toma a forma
Enquanto nos deforma
O sonho vil, banal,
Pudesse ver a luz
E mesmo se me opus,
Aguardo um bom final.

8

No fundo se perdeu
Quem teve em suas mãos
Embora fossem vãos
O quanto mereceu,
O mundo fosse meu
E fôssemos irmãos
E vivos quais cristãos
Num tempo amargo e ateu
Talvez enfim pudesse
Além de mera prece
Viver a eternidade,
Mas quando te ausentaras
Restaram só aparas
E em mim algema e grade.

9

Saudade que já tive
De quem se foi há tanto
E agora quando eu canto,
Deveras não contive
O tempo em que eu estive
Buscando em qualquer canto
As sombras deste encanto
Que sei não sobrevive,
Vivesse algum momento
E nele sem tormento
Pudesse acreditar
Na força inusitada
Da luz em alvorada
Num céu a se dourar.

10

A morte vem tecendo
Caminhos discrepantes
E quando me garantes
Do tempo se perdendo
O quanto em estupendo
Momento diz bem antes
Dos fardos degradantes
Que aos poucos vou bebendo.
E resoluto espanto
Atrocidade em canto
E arisco, eu sigo em frente,
Porém a morte alcança
Uma alma atroz ou mansa
Que sinto já se ausente.

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