segunda-feira, 7 de junho de 2010

35771 até 35780

1


Imagens dolorosas de outros dias
Aonde poderia acreditar
Ainda alguma luz a me guiar
Por entre noites toscas e sombrias,
E quando a cada passo percebias
O quanto é necessário inda lutar
Para poder enfim saber luar
E acreditar em novas fantasias,
O mundo se renega e nada vejo
Senão a mera ausência do desejo
Amortalhando enfim este caminho
E bebo cada gota da penumbra
Nem mesmo alguma luz já vislumbra
Persisto sem destino e vou sozinho.


2

Acreditava enfim em fartas rosas
Aonde se espalhara esta semente
E agora tal cenário se apresente
Em turvas tardes frias e penosas,
O quanto deste sonho não mais gozas,
O todo se desnuda plenamente
E o quanto do viver de mim se ausente
Porquanto as horas morrem dolorosas,
E tantas ilusões a vida traz,
O sonho mais feliz, hoje mordaz
Apenas uma vã caricatura
Do todo desnudado em tua ausência
Sem ter neste canteiro a florescência
A solidão adentra e me amargura.

3


Acreditara outrora em cada afago
Da vida aonde vejo agora o vão
E sei da incontestável solidão
No dia mais atroz por onde vago,
Vivera com certeza um manso lago
E quando se chegara a previsão
Do tempo numa tétrica estação
Apenas meu olhar ausente eu trago
E vejo tão somente a realidade
No passo se transborda esta verdade
E dela nada vejo no horizonte
Porquanto fora um dia mais feliz,
O olhar em turbulência contradiz
Negando cada brilho que desponte.

4

O frêmito das ondas sobre a areia
Delineando a vida em outra face,
Sem ter o quanto possa; o nada eu trace
No quanto a sorte em mim morrendo alheia
O olhar ausente agora delineia
O tanto desnudado em duro impasse
Vivendo a solidão nela embarace
O passo aonde a morte se incendeia.
Assim ao preceder o verso amargo
As ânsias de um futuro, enfim eu largo
E sigo para ausência e nada mais,
Sombria realidade dominando
Num ar quase terrível e nefando
Sonega plenamente qualquer cais.

5

As lágrimas rolando neste rosto
Esgotam o que fora uma esperança
E quando trespassada em mim tal lança
O mundo noutra face vejo exposto,
O quanto poderia ser proposto
E agora nada trama em confiança
Gerando este vazio aonde avança
O olhar para o não ser seguindo oposto
E quantas vezes pude acreditar
Na fonte iridescente, mas galgar
Apenas no meu peito esta incerteza
Gestando a solidão cruel e vã,
O olhar procura inútil u’a manhã
Aonde não se veja só tristeza.

6

Ansiosamente eu busco após a noite
Alguma luz e nela se sacia
O olhar onde vivera a fantasia
E tão somente vira tal açoite,
No quanto a realidade se apresenta
E mostra sem as máscaras de outrora
A face desdenhosa onde se aflora
A inútil e mordaz, louca tormenta,
Eu vejo desvendada a realidade
E nisto a solidão que se pintara
Mostrando na verdade a crua escara
Por onde tão somente a morte invade,
Mas sei do quando rege uma esperança
E em plena tempestade, a vida avança.

7

Palavras misteriosas traduzidas
Nas ânsias solitárias e ferozes,
Ouvindo do passado vivas vozes
Mostrando luas pálidas, sofridas,
Ao renascer em mim diversas vidas
E nelas outras tantas buscam fozes
Porquanto se esvaindo em vãos e atrozes
Caminhos eu encontro tais saídas
Nas vagas sensações desta esperança
Que quando sem pedir agora alcança
Por mais que na verdade isto me ilude
Revivo neste instante e tão somente
O quando ainda vivo tal semente
E nela um ar em rara plenitude.

8

Ousando na palavra tal buril
Que possa permitir um passo além
Sabendo deste encanto e nele vêm
As sortes onde nunca se previu,
O tanto deste passo mais sutil
E nele a realidade me convém
Sentindo tão distante ainda o bem
Embora um ar se mostre mais gentil,
Esperançosamente ora prossigo
E mesmo quando ausente algum abrigo
Consigo vislumbrar belo horizonte
Aonde esta mortalha se desfaça
E novo amanhecer sem a fumaça
De outrora o meu olhar ainda aponte.

9

Pudesse ter em mim o que perdi
E ter em minhas mãos esta certeza
Da vida com real, rara leveza
Que um dia eu conhecera, amor, em si.
Agora ao perceber quanto eu sorvi
Da faca mais amarga da vileza
Embora inda persista a sutileza
Saudade dominando tudo aqui,
E sendo assim a vida se amortalha
Num campo tão cruel, venal batalha
Espalha no horizonte em tom brumoso
Agrisalhando o passo rumo ao nada,
A sorte noutra senda já selada,
Revivo o tempo claro e majestoso...

10


Num passado feliz e até sincero
O dia transformado em luz serena,
Agora a realidade se envenena
Distante do que pensa ou mesmo quero,
O verso se transborda em tom mais fero
A própria realidade me apequena
E vejo a cada instante a mesma cena
No amor mais belo e raro que inda espero
Revisitando a casa aonde outrora
A sorte desta feita não demora,
E tudo se renova em vã saudade,
Olhando para além e nada existe
O coração decerto embora triste
Dos brilhos do que fora ora se invade.

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