terça-feira, 8 de junho de 2010

35841 até 35850

1


O quanto não se sente
Do medo em face escusa
Meu canto em vão já cruza
O medo mais freqüente
E bebe este indigente
Caminho em noite obtusa
Gerando a voz confusa
E nela este demente.
Resisto, mas pudesse
Vencer o quanto desse
E nada mais seria
Senão a falsa luz
E nela reproduz
A imagem do teu dia.


2

A seiva da esperança
Em frondes magistrais
Pudesse muito mais
Do quanto em vão me alcança,
No olhar sem confiança
Apenas vendavais
Ausente qualquer cais,
O medo assim se trança
E farto desta vida,
A sorte em despedida
A morte se traçando,
O sonho se desvenda
E quando noutra senda
Mergulho em mar infando.

3


Ausente algum porvir
No passo de quem tenta
Vencer qualquer tormenta
Sem nada pressentir,
Pudesse me exigir
Além do que apascenta
A morte violenta
O gozo sem sentir
A farpa, ledo espinho
E quando sou mesquinho
Retrato a tua face,
E nesta realidade
Enquanto em vão se brade
A sorte me devasse.

4

Aonde um estuário
Pudesse em calmaria,
O mar transbordaria
Além do imaginário
E o farto e temerário
Caminho da agonia
Alheio à fantasia
Traçando o meu fadário.
Reinando sobre o nada,
A morte anunciada
O corte em dor e medo,
No tanto ainda em mim,
Diverso do que enfim
Ainda em vão degredo.

5


Colossos magistrais
Olhares buscam fontes
E quanto mais apontes
Distantes, muito mais,
Certeza do jamais
Ausentes velhas pontes
Enquanto desapontes
Mergulho em teus cristais.
Resolvo com loucura
O quanto me amargura
E gero em turbilhão
A porta não se abrira,
A sorte, o medo e a mira
A morte em progressão.

6

O quanto já cansado
Do passo nunca visto
O tempo em que resisto
Deveras destroçado
Resulta deste enfado
E nele sei bem disto
O manto em que revisto
O verso desolado.
Espero algum momento
E sei que me atormento
Nos gritos de outro dia
Diverso do que agora
Ainda se demora
E mata a fantasia.


7

Outros dias verão
Meu passo rumo ao nada,
E seguir tal estrada
Sem nexo ou direção
Trazendo da amplidão
A noite enluarada
E nela devorada
A luz do coração,
O velho seresteiro
No tempo costumeiro
Na luta não se cansa,
Mas sei o quanto sou
E tudo o que restou
Matando uma esperança.


8


Esboço desta vida
Em outra face exposto
E quando vejo o rosto
Em lágrima e ferida
A morte não duvida
E sem qualquer desgosto
Deveras num proposto
Interna uma saída,
Vestira em funerais
Os dias tão iguais
Janelas entreabertas
E nelas se desnuda
A sorte tão miúda
Enquanto me desertas.

9

O quanto já me disse
Quem tanto pode ter
Nas mãos o bem querer
E sem que nada ouvisse
Temendo esta mesmice
Aonde posso ver
O olhar a se perder
Gerando outra tolice.
Resgato qualquer erro
E sei que em tal desterro
O farto se acumula,
E o medo não desvenda
O corte dita a lenda
Renega a fome e a gula.

10

Teimando em novo dia
Após os mesmos tantos
E neles versos, prantos
Toando a melodia
Aonde nada havia
Sequer mais desencantos
Os ritos, meus espantos
O fardo moldaria
Na parte mais audaz
Enquanto tanto faz
O fato de ser teu,
Não meço mais palavras
E quando em vão tu lavras
Colheita se perdeu.

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