terça-feira, 8 de junho de 2010

35821 até 35840

1

O quanto se espraiara a imensa luz
Por sobre este oceano do passado
O manto em novos tons adivinhado
Ainda se formando em contraluz,
Reparo com detalhes onde pus
O barco há tanto tempo avariado,
E sinto o vento amargo e desolado
Rondando este cenário que compus
Nas tramas mais audazes, no infinito,
E quando a tal vazio em vão credito
Os erros costumeiros; vejo então
O porto aonde um dia preveria
A dita noutra forma, novo dia,
Restando desta luz a escuridão.

2

Um mar aonde há tempos poderia
Singrar com tal ternura, e hoje revela
A turbulência plena da procela
E nela toda a sorte em agonia,
O quanto dos sonhos, utopia
O vergalhão adentra, corta e sela
A dita noutro rumo e trama a cela
Aonde se tentara a fantasia,
Gananciosamente não disfarça
A falta de esperança, a rota esparsa
E a noite em trevas tantas se aproxima.
O mundo sem o cais aonde eu veja
Uma alma se mostrando mais andeja
Procura pelo menos a auto-estima.

3

O quanto se esfumara a vida em vão
Depois de ter teimado em luz escassa,
O tempo na verdade se desfaça
Moldando noutro tempo a negação,
Dos rastros nem os restos se virão
Enquanto a própria face não se traça
Na sorte onde o caminho me trespassa
E adentra sem sentido e solução.
Duvido dos meus versos, canto alheio
Ao quanto ainda sinto e se receio
O amanhecer em brumas não se nega
Vivendo em plena dor, na mendicância
Do sonho com a vida, a discrepância
Deixando uma alma amarga, fria e cega.

4

Além deste horizonte tão extenso
O quanto poderia haver de sol,
A imensidade entranha este farol
E nem sequer da sombra eu me convenço,
O dia se transforma e em tom intenso
Minha alma se isolando, vil atol,
Entranho a solução de um caracol,
E bebo deste vinho amargo e tenso.
E resolutamente inda prossigo
Embora a cada passo outro castigo
O verme se arrastando sobre o chão,
No parto sonegado da promessa
A vida noutra senda se endereça
Restando agora mesmo o etéreo não.

5

Avista-se distante deste olhar
O raio que inda possa me trazer
Na farta inconseqüência, o bem querer
E a sorte novamente a vasculhar,
Qual fora mera estrela que a vagar
Procura algum instante, posso ver
Do todo onde tentara me envolver
Apenas este vão especular.
E traço meu caminho em tal desdita
Porquanto a vida teima inda acredita
Nas curvas tão constantes e venais,
De tanto acreditar felicidade
Vivendo insofismável crueldade
Em dias corriqueiros, sempre iguais.

6

Um nevoeiro imenso toma os céus
E beijo a discrepante fantasia
No quanto num clarão inda podia
Talvez quem sabe mesmo em fogaréus
Restando sobre nós diversos véus
E neles outra sorte se teria
A noite não seria mais sombria
Nem mesmo os pensamentos toscos, léus,
Resisto o que mais posso, mas sei bem
O quanto o mesmo nada inda contém
E o passo rumo ao farto sonegado,
Depois de tantos anos, sempre assim,
A história na verdade não tem fim,
A morte dando em trevas seu recado.

7

Quem dera inda tivesse alguma ponte
Trazendo-me deveras a esperança
Ao menos nos teus olhos confiança
No quanto a realidade em medo aponte,
Resumo o meu caminho no horizonte
Aonde sem sentido o tempo lança
A dita e não redime em temperança
O quanto na verdade não desponte,
Assisto aos meus momentos derradeiros
E tento discernir entre os canteiros
Aqueles onde eu possa cultivar
Sem a árida presença deste estio,
Nem mesmo um ar duro e sombrio
Roubando alguma frágua do luar.


8

Minha alma dos teus sonhos, forasteira
Rasgando este caminho em treva e dor,
No quanto ainda posso nova cor
Mudando com certeza esta bandeira
A sorte na verdade em vão se esgueira
E trama noutro espaço o sofredor
Detalhe de quem tanto quis se por
E nada nem desdém inda me queira.
O fato de seguir contra as marés
Porquanto imaginando e sei quem és
Não deixa mais em mim a cicatriz
Que o tempo preconiza a cada ausência
E tendo no final por penitência
Um sonho bem diverso do que eu quis.

9


As asas libertárias deste que
Procura alguma luz onde não resta
Sequer desta alegria a menor fresta
E apenas devorando o quanto vê
De todos os meus dias, sem cadê
Cadenciado passo inda se presta
Aquém da noite em sonhos, rara festa,
E o todo que buscara não se crê.
Participando assim deste momento
O quanto na verdade me atormento
E tento a mais completa sensação
Do passo rumo ao farto e se negando
O tempo noutro instante transformando
Negando deste quando algum verão.

10

Num mar eterno e vago procurasse
Vencer as tempestades costumeiras
E quanto mais decerto ainda queiras
A vida não se mostra e se desgrace
O passo rumo ao nada, e neste impasse
Além dos meus olhares, as ladeiras
Por onde noutro tempo ainda esgueiras
E mostras com terror a turva face
Da vida aonde possa até saber
Do raro e desmedido bem querer
Ausente dos meus dias já faz tempo.
O passo rumo ao quanto inda teimara
Em noite turbulenta, nunca clara
Acumulando apenas contratempo.



11

A vida penetrando o seu inverno
Trazendo a cada passo a neve e o frio
E quanto mais dos sonhos me esvazio
Adentro sem temor teu duro inferno,
Por vezes mal disfarço e tento e hiberno
O mundo gera em tolo rodopio
No olhar mais traiçoeiro e mesmo esguio
Aonde poderia bem mais terno,
Resumo o meu caminho em discordantes
Temores mesmo quando me adiantes
E traces noutro instante algum clarão,
Vencido pelos erros, meus engodos
Penetro o pensamento nestes lodos
E sinto o meu caminho turvo e vão.

12

Bebesse cada gole
Do rum ou da aguardente
Enquanto se apresente
A fúria onde se engole
O temporal assole
E mude o penitente
Caminho aonde sente
O farto e roto fole,
Ausentam-se esperanças
E quando ao não te lanças
As lanças que me dás
Não mostram na verdade
O quanto ainda brade
Distante qualquer paz.

13

Talhado para o fim
Somente e nada mais
Sem ter no olhar jamais
O quanto quis enfim,
Vivendo sempre assim
Ausente de algum cais
Imerso em vendavais
Não resta nada em mim
Somente a luz sombria
E nela se traria
A porta de outro rumo,
Mas quando sem saída
Encontro a despedida
Nas vagas eu me escumo.

14

Grandezas que sonhara
Na tola juventude
Enquanto a vida ilude,
Por vezes sendo clara,
No todo se amiúde
O passo em amplitude
Gerada pela escara,
Restando do que fora,
A sorte tentadora
Assenta esta poeira,
Assim ao mesmo enquanto
Inutilmente eu canto
Minha alma se incendeia.


15

Tentando no crescer
Dos sonhos entre luzes
Vencer as várias urzes
E ter algum prazer,
Depois de me envolver
Nas rotas onde cruzes
Diversos sonhos, cruzes
Traçando o meu viver.
Resumo do fastio
E tento enquanto crio
Planeta imaginável
Um dia mais suave
Aonde nada agrave
Um passo suportável.


16

Ainda quis criar
Um mundo onde eu pudera
Conter a dura fera
Gerando outro lugar,
E imerso num luar
Na etérea primavera,
A fúria não se espera,
Domada devagar,
Ainda sim não creio
Sequer se existe um meio
Por onde este caminho
Descrito em tolo sonho
Refaça o que componho
Em pedra, dor e espinho.

17

Tentando além subir
E ver por sobre os montes
O quanto inda despontes
Promessas de um por vir
E tanto a se exibir
Tomando os horizontes
E quando em vão me apontes
O rumo sem sentir
Nevando dentro da alma,
A solidão me acalma
O parto reinstala
A fome de futuro,
Mas quando me procuro
Vazios, quarto e sala.


18

Um novo amanhecer
Aonde nada havia
A senda não traria
Sequer o meu querer
Pergunto sem saber
Da tola fantasia
Espúria alegoria
Mortalha do prazer,
Restando dentro em mim
Apenas este fim
E nele o desvalido
Mergulho no oceano
Imenso desengano
Sem paz e sem sentido.

19

Buscando neste mundo
Apenas o cenário
Aonde em necessário
Delírio me aprofundo,
Olhar mais tosco e imundo,
Tomando itinerário
Gerando em torpe erário
O canto vagabundo,
Transcendo ao que pudesse
Ainda em mera prece
E resolutamente
Não tendo outra vontade
Apenas a que invade
A cada passo mente.

20

Músculos e cortes
Dores e temores
Aonde tu te fores
Verás somente mortes,
Os passos já sem nortes,
Os olhos sem amores
Ausentes tantas flores,
Sem ter quem mais confortes
Ao fim da tarde opaca
A sorte entranha e atraca
O barco em falso cais,
Do todo que pudera,
Apenas degenera
A vida em vendavais.

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