quarta-feira, 9 de junho de 2010

36001 até 36010

1

Criando nosso amor onde não tinha
Sequer a menor sombra de esperança
Ao largo deste vão caminho avança
A sorte que desvendo em tez daninha,
Revelo toda sorte aonde aninha
O corte mais audaz em seta e lança
E vendo esta improvável confiança
Aonde nem sequer sonho continha,
Revelo-me surpreso, mas nem tanto
E quando neste verso amor eu canto
Sabendo quanto posso ser ainda
Feliz embora a dita se negasse
A vida se mostrando em nova face,
Com esta fantasia a paz já brinda.

2

Nós somos deste barro como irmãos,
E tendo nossos olhos no horizonte
Aonde um novo tempo já se aponte
Cevando da esperança tantos grãos,
Os dias que pensara serem vãos
Vislumbram novamente a rara fonte
Unindo nossos passos, bela ponte
Deixando para trás os vários nãos,
E a vida se perfaz em plenitude
Embora cada dia se transmude
E transfundindo sonhos mais audazes
Bebendo desta sorte sem igual
O amor seguindo assim seu ritual
Nas delicadas ânsias que me trazes.


3


A vida sem futuro em treva feita
Durante tanto tempo desfiara
Na face mais amarga da seara
Aonde uma tristeza se deleita,
E quando noutro rumo, satisfeita
Promessa mais audaz já se declara,
O quanto deste sonho enfim ampara
Uma alma mera e triste em dura espreita
E ser feliz agora se apresenta
Porquanto a sorte fora mais sedenta
Buscando cada mina aonde um dia
Pudesse saciar o meu delírio
Deixando para trás dor e martírio
No verso aonde a messe se desfia.

4


De antigas traições, tantas guerrilhas
Durante muito tempo acreditei
Na intensa fantasia em turva grei
Por onde na verdade ainda trilhas,
As almas entre tantas armadilhas
Buscando da ilusão a sorte e a lei,
Enquanto nos teus braços mergulhei
Tocado pelas luzes que polvilhas,
Assim ao me mostrar inteiramente
A vida noutra face não desmente
O quanto quis e tenho desde quando
O amor se emoldurara em rara tela
Nesta vontade imensa se revela
O mundo noutro tanto se formando.

5


Enquanto em mira certa me atingiste
Transformando o viver outrora atroz
Sabendo da esperança viva em nós
O coração que fora sempre triste
Agora noutra estrada em paz persiste
Chegando mansamente em calma foz,
O mundo solitário vil algoz
Às tramas deste sonho não resiste.
E eu vejo e bebo em fonte bem mais limpa
O quanto desta jóia se garimpa
Nas noites desvendas em segredos,
Meus dias entranhando fantasias
Vivendo o que decerto mais querias
Deixando os sofrimentos meros, ledos...

6

O anseio que a vontade reproduz
Na face mais feliz de um novo caso,
A vida sem saber de rumo ou prazo
Bebendo com fartura tanta luz
Deveras ao mais alto me conduz
Deixando no passado o vil ocaso,
E quando deste sonho tanto aprazo
Vivendo este caminho e nele eu pus
O barco da ilusão, leve saveiro
E sendo da esperança um timoneiro
Encontro finalmente em ti meu cais,
E sorvo cada gota que se emana
Na imagem mais airosa da profana
E sacra fantasia em vendavais.

7

Se nós somos assim iguais em tudo
Desejos coincidentes, gozos fartos,
Dourando em alegria tantos quartos
Não posso me conter e não me iludo,
O quanto desejara e me transmudo
De mim gerando assim diversos partos,
E fôssemos; na cama quais lagartos,
Alçando paraíso em ti me grudo
E rendido aos desejos sem defesas
Na cama se explodindo em sobremesas
Farturas de um banquete em tom orgástico
O amor sem ter segredos nem limites
No quanto também queres e acredites
Gerando este momento tão fantástico.

8


Nascidos nesta luz em plenitude
Reinando sobre nós a claridade
Enquanto o grande amor assim me invade
E vejo mais tranqüilo esta atitude
No quanto a vida às vezes nos ilude
E sei no teu olhar a realidade
Não vejo e não pretendo mais a grade
No quanto revivesse a juventude
No olhar extasiado de quem ama,
Mantendo com certeza intensa chama
Sem dramas, tramas noites fabulosas,
Destes canteiros tantos que inda adentro
No teu gozo supremo eu me concentro
E bebem os rocios, tuas rosas.


9

Sangrados pelo amor que não permite
Sequer um só momento em desafeto,
O corpo no teu corpo me completo
E a noite ultrapassando algum limite,
No quanto cada sonho se acredite
E nele o mais sublime e predileto
Caminho aonde reina o tão dileto
Sonhar sem ter de alguém qualquer palpite.
Resumos desta vida em tom voraz
Farturas entre noites mais profanas
As horas entre tantas soberanas
E nelas todo o gozo enfim se faz,
Resumos de momentos geniais,
Repito e na verdade eu quero mais.

10


Duvido que inda exista mor amor
Nas tantas e diversas vãs searas
E quando nos teus braços tu me amparas
Sentindo do teu corpo este calor,
Tocado sem juízo e sem pudor,
E nele se bebendo sempre às claras
Delícias onde em gozos me preparas
Na intensa maravilha a se compor.
Resultam-se nas ânsias mais sedentas
E quando nos teus braços me apascentas
Da guerra que se faz no dia a dia,
Batalhas em lençóis, sedas, cetins,
Momentos desejosos, sempre afins
Do quanto em plenitude se faria.

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