terça-feira, 29 de março de 2011

1

A princesa que eu sonhara
Nos grotões do meu sertão
Numa sorte bem mais clara
Toma em paz o coração,
Mas a vida desprepara
Quem vivendo uma ilusão
Para o que já se prepara
Sabe a mesma direção
Dos caminhos doloridos
E das estrelas me guiando
Os meus sonhos preferidos
Esperança venha em bando
Toca em paz os meus sentidos.

2


A lembrança de um passado
Tantas vezes tão sofrido,
Coração acelerado
Onde o todo faz sentido,
Deixo as tristezas de lado,
Vivo o quanto é permitido
Ao sonhar o mundo invado
Meu dever em paz cumprido.
O saber felicidade
O que pude noutros dias,
E talvez desta saudade
Vejo os rastros que trarias
Ao meu canto sempre agrade
Tanto amor quanto sentias.

3

Das lembranças vou vivendo
E conforme deus-dará.
Uma vida quase emendo
Onde a sorte se fará
No cenário mais horrendo
O que possa e me trará
O quanto não mais contendo
Esperasse e voltará.
O meu canto atravessando
Os desertos das Gerais,
O meu verso desde quando
Procurasse os meus cristais,
Mas a mina desabando
Respondendo: nunca mais.

4

Minha sorte é traiçoeira
Como qualquer sorte seja
Onde mostra a derradeira
Face nunca benfazeja
Levantasse uma poeira,
Mas talvez o que se veja
No infinito dá rasteira
E o que resta não mais queira.
Vencer mesmo os mais diversos
Insensatos corações
Só restando então meus versos
E sem rumos, direções.
Busco em sonhos já dispersos
Esta vida em seus senões.


5

Nas estradas mais compridas
Nos vazios da existência
Onde houvesse tantas vidas
Já não tenho a resistência
De lutar guerras perdidas
E buscar na imprevidência
O que fossem despedidas
E não vendo esta evidência
De uma sina mais tranquila
Caminhando no espinheiro,
Nem sequer assim vacila,
Mas já sabe o derradeiro
Perceber em longa fila
Este vão desfiladeiro.

6

Num instante eu pude ver
O que tanto procurei
No constante perceber
Ser vazia a minha grei,
O meu canto a se perder,
Desencanto aonde eu sei
Que, entretanto por não ter,
Qualquer pranto eu derramei.
E quarando uma saudade
Entre as trevas do passado
O que foi felicidade
E trazia do meu lado
Pouco a pouco já se evade
Deixa um corte tatuado.

7

Na medida do que posso
Caminhar contra o que um dia
Não tentara, pois destroço
Outra chance não teria,
Tão somente quando endosso
Meu sonhar com heresia,
Vivo e nada mais remoço
Só a morte e a poesia.
No sentido mais audaz
Da palavra que se lança
O meu mundo não me traz
Nem os restos da esperança
O que possa e nada faz
Trama o que jamais me alcança.

8

Deixo a vida para trás
E procuro a paz de um porto,
Meu caminho sempre traz
A lembrança de um aborto,
E o que fora mais audaz
Hoje vejo turvo e torto,
Não pudesse olhar pra trás
Meu passado segue morto.
Esfaqueia a sensação
Do vazio que me toca,
O meu mundo sempre em vão
O meu passo rumo à toca
Onde um dia este vulcão
Erupção atroz provoca.

9

Não me resta mais sequer
Cada passo que eu buscava
E haja tudo o que vier
O tormento feito em trava
Não deixando conhecer
O caminho onde desbrava
As angústias de um querer
Que nem mesmo eu me lembrava.
Amordaço a minha voz
Tento o resto que não veio,
O meu mundo segue após
Sem saber qualquer receio,
E o momento vivo em nós
Mesmo o vendo, sigo alheio.

10

Tanta luta sem motivo
Vivo apenas por viver
O que seja lenitivo
Noutro passo recolher,
E se em sonhos sou cativo,
Liberdade me faz crer,
Num momento aonde o privo
Da vontade de saber.
Ousaria ter além
E decerto poderia
Traduzir o que não vem
Em possível ironia,
Mas a noite de meu bem,
Derramando esta agonia.

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