quarta-feira, 30 de março de 2011

201

Jamais tentasse além
Do quanto reina em nós
Apenas o que vem
Trazendo em tom atroz
A sorte e sem ninguém
O mundo é mais feroz.

Resulto deste caos
E nada se anuncia
Alçando outros degraus
A luta em agonia
Os olhos rudes, maus.
A sorte não teria.

Esqueço o que inda veja
Uma alma em vã peleja.

202

Não tendo outra vontade
Senão sobreviver
O que deveras brade
Gerasse algum prazer,
No canto onde se evade
A luta a se perder,

Reinando sem sentido
O quanto quis e vejo
O mundo desprovido
A cada novo ensejo
E sei e não duvido
Do passo onde porejo.

O preço a se pagar
Não posso suportar.

203

Bastando para mim
Um verso em vento brando,
Mas quando chega ao fim
O todo desabando
O mundo de onde vim,
Esqueço-o desde quando.

O método sutil,
O vândalo tormento
O canto presumiu
O quanto agora tento
E nada mais gentil
Que o imenso e rude vento,

Abraço o turbilhão
E vivo a solidão.

204

Negociando o quanto
Eu pude e talvez tenha
A luta em desencanto
No fundo traz a ordenha
Do que se fez e canto
Embora nada venha.

Mecânicas diversas
Enredo discordante
As horas vãs e imersas
Negando o que adiante
O passo enquanto versas
No rumo degradante.

O canto sem sentido,
Na morte ora envolvido.

205

Na porta que se abrira
Em meio aos vendavais
A sorte acerta a mira
E assim tão cedo esvais
Sem nada que prefira
Viver um pouco mais.

Resvalo no que tento
Invento a dimensão
De cada sentimento
Em rude distensão,
A luta em desalento
Produz a solidão,

Não quero outro vestígio
Do quanto foi litígio.

206

Bastasse alguma sorte
Diversa da que dás
E o mundo com aporte
Teria enfim a paz,
Mas sei do quanto corte
A luta mais tenaz,

Encontro a cada engano
O quanto agora enfado
E bebo e já me dano
No tempo desenhado
Marcando o soberano
Caminho desolado.

Em dor e tédio e medo
E ao nada me concedo.

207

Quisera pelo menos
Um dia mais tranquilo
Embora rotos, plenos
Os rumos e vacilo,
Vestindo os mais serenos
Anseios e desfilo
Pousando nos venenos
Enquanto o vão destilo.
Reparo cada passo
Sem nada por fazer,
E sei do descompasso
Marcando em desprazer
O que sequer eu faço
Sem nada recolher.


208

A boca se entreabrira
E o tempo não trouxera
Além desta mentira
A sorte que se espera,
O verso se retira
E o medo destempera.

O canto se perdendo
Sem ter onde se acolha,
A luta noutro adendo
Expressa cada folha
E nisto o que remendo
Impede o que recolha.

A vida sem segredo
Enfrenta este rochedo.

209

Bastando para tal
Apenas um sorriso
E o vento desigual
Aonde o que matizo
Presume um ritual
Que venha sem aviso,

Negar o que se quer
E ter no olhar o medo,
O rosto da mulher
Envolto em sonho ledo
Não deixa mais sequer
O canto que concedo.

Esqueço o descaminho
E sigo mais sozinho.

210


Nefasta noite rude
Aonde não viera
O quanto nos ilude
A sorte em vã quimera,
O prazo se amiúde
E mate quem se espera.

Reparo muito bem
O vento em tom atroz
E sei do que contém
A angústia dentro em nós,
Depois de ser ninguém,
A vida cala a voz,

E sigo em compromisso
O tempo movediço.

Nenhum comentário: