201
Jamais tentasse além
Do quanto reina em nós
Apenas o que vem
Trazendo em tom atroz
A sorte e sem ninguém
O mundo é mais feroz.
Resulto deste caos
E nada se anuncia
Alçando outros degraus
A luta em agonia
Os olhos rudes, maus.
A sorte não teria.
Esqueço o que inda veja
Uma alma em vã peleja.
202
Não tendo outra vontade
Senão sobreviver
O que deveras brade
Gerasse algum prazer,
No canto onde se evade
A luta a se perder,
Reinando sem sentido
O quanto quis e vejo
O mundo desprovido
A cada novo ensejo
E sei e não duvido
Do passo onde porejo.
O preço a se pagar
Não posso suportar.
203
Bastando para mim
Um verso em vento brando,
Mas quando chega ao fim
O todo desabando
O mundo de onde vim,
Esqueço-o desde quando.
O método sutil,
O vândalo tormento
O canto presumiu
O quanto agora tento
E nada mais gentil
Que o imenso e rude vento,
Abraço o turbilhão
E vivo a solidão.
204
Negociando o quanto
Eu pude e talvez tenha
A luta em desencanto
No fundo traz a ordenha
Do que se fez e canto
Embora nada venha.
Mecânicas diversas
Enredo discordante
As horas vãs e imersas
Negando o que adiante
O passo enquanto versas
No rumo degradante.
O canto sem sentido,
Na morte ora envolvido.
205
Na porta que se abrira
Em meio aos vendavais
A sorte acerta a mira
E assim tão cedo esvais
Sem nada que prefira
Viver um pouco mais.
Resvalo no que tento
Invento a dimensão
De cada sentimento
Em rude distensão,
A luta em desalento
Produz a solidão,
Não quero outro vestígio
Do quanto foi litígio.
206
Bastasse alguma sorte
Diversa da que dás
E o mundo com aporte
Teria enfim a paz,
Mas sei do quanto corte
A luta mais tenaz,
Encontro a cada engano
O quanto agora enfado
E bebo e já me dano
No tempo desenhado
Marcando o soberano
Caminho desolado.
Em dor e tédio e medo
E ao nada me concedo.
207
Quisera pelo menos
Um dia mais tranquilo
Embora rotos, plenos
Os rumos e vacilo,
Vestindo os mais serenos
Anseios e desfilo
Pousando nos venenos
Enquanto o vão destilo.
Reparo cada passo
Sem nada por fazer,
E sei do descompasso
Marcando em desprazer
O que sequer eu faço
Sem nada recolher.
208
A boca se entreabrira
E o tempo não trouxera
Além desta mentira
A sorte que se espera,
O verso se retira
E o medo destempera.
O canto se perdendo
Sem ter onde se acolha,
A luta noutro adendo
Expressa cada folha
E nisto o que remendo
Impede o que recolha.
A vida sem segredo
Enfrenta este rochedo.
209
Bastando para tal
Apenas um sorriso
E o vento desigual
Aonde o que matizo
Presume um ritual
Que venha sem aviso,
Negar o que se quer
E ter no olhar o medo,
O rosto da mulher
Envolto em sonho ledo
Não deixa mais sequer
O canto que concedo.
Esqueço o descaminho
E sigo mais sozinho.
210
Nefasta noite rude
Aonde não viera
O quanto nos ilude
A sorte em vã quimera,
O prazo se amiúde
E mate quem se espera.
Reparo muito bem
O vento em tom atroz
E sei do que contém
A angústia dentro em nós,
Depois de ser ninguém,
A vida cala a voz,
E sigo em compromisso
O tempo movediço.
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