sexta-feira, 1 de abril de 2011

21

Das sementes que cultivo
A esperança brota e traz
No momento enquanto vivo
O que pudesse ser em paz,
Outro tempo mais altivo
Outra sorte mais tenaz
Na verdade o ser cativo
Esperasse o canto audaz
De quem vive o que se tenta
Na incerteza de outro passo,
Enfrentando esta tormenta
Resta apenas o cansaço
E se possa e me alimenta
Desta sorte um novo traço.

22

Encontrando no caminho
Quem decerto eu lá deixei
O meu passo em tanto espinho
Na tortura feita em lei,
O que vejo e se me alinho
Onde o rumo eu desvendei,
Traça o quanto sou sozinho
E jamais algo encontrei
A não ser o que se trace
Ministrando uma esperança
A verdade em desenlace
No final apenas lança
O que foge e se embarace
Na incerteza que nos cansa.

23

Nada mais eu poderia
Ou talvez quando incendeia
A verdade mais sombria
Desfiando inteira a teia,
O que possa em fantasia
Nada mais invade a areia
E sentindo a maresia,
O que venha se receia.
O jeito mais melindroso
O caminho sem cuidado,
O temor do pedregoso
Desenhar enquanto invado
Outro tempo pavoroso
Onde houvesse algum enfado.

24

Nada mais se faz além
Do que um dia desejaste
O meu canto quando vem
Destroçando em tal desgaste
O que nada diz tão bem
Quando o todo que negaste
O viver sem ter ninguém
Traz em sonhos o contraste,
E deveras já constate
O que possa me alentar
A palavra em arremate
Tento mesmo disfarçar
Onde quer que se resgate
Nada resta em seu lugar.

25

Vendo o quanto ainda tenho
E procuro pelo menos
Entre as tramas do desenho
Quaisquer dias mais serenos,
E os meus olhos de somenos
Outros olhos, quando venho
Entranhando tais venenos
Nada mais quero e contenho,
Resumindo o fato nisto
O meu tempo não traz luz,
E se possa e já desisto
No final carrego a cruz,
E se vejo e até resisto,
Outro engano se produz.

26

Produzindo do prodígio
O que pude acreditar
No momento sem litígio
Outro tanto a desenhar
Sem deixar qualquer vestígio
Do que viva em tal sonhar
Onde possa em vão prestígio
Noutro engano mergulhar,
Dos estágios que se vêm
Nas etapas que ultrapasso,
Os meus olhos no desdém
O meu canto em teu cansaço,
O que resta e sabe bem
Dita o velho sonho escasso.

27

Nada mais se vendo após
O que tanto quis um dia
O meu mundo segue em nós
O que possa em alegria,
O desenho mais atroz
Na verdade não traria
Sendo os sonhos rudes, sós
O cantar em harmonia.
Visto o sonho e tento o passo
Entre o quanto ser não ser
Marco a vida enquanto traço
A ventura do querer,
E se possa em tal cansaço,
Nada mais pudesse ter.

28

Na incerteza aonde pude
Desenhar algum repente
O que vejo sendo rude
Não traduz o quanto sente
Quem deveras desilude
E se mostra imprevidente
O meu canto em juventude
A palavra penitente,
O sentido sem saber
Do que possa e mesmo quero,
A vontade de viver
Num momento mais sincero
Permitindo alvorecer
Todo o brilho que ora espero.

29

Acordando o que se faz
E se busca noutro verso
Onde o mundo foi audaz
Muito embora mais perverso
Desenhar o que não traz
Nos meus olhos, o universo
Vedo o passo e sei mordaz
O sentido onde disperso
Ventania eu deixo e sigo
O que pude ou mesmo tento
Na verdade estar contigo
É sanar o sofrimento,
E se vejo este perigo,
Meu desenho é mais atento.

30

Nada mais se visse quando
Outro dia irradiasse
Ouso mesmo revelando
O que possa e sempre passe
No tormento me entranhando
Desolando a velha face
O caminho desabando
Onde quer que a vida trace
A medonha desventura
O que sonha e não reluz,
A saudade me tortura
E em verdade não faz jus
Ao que tanto se procura
E deveras me seduz.

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