domingo, 27 de março de 2011

111

Tanto assopra quanto morde
Minha vida não sossega
E caminha quase cega
Onde o canto não aborde
E decerto já recorde
Do que possa e não se entrega
A verdade em novo acorde
Nas violas já se nega.
Vendedor das ilusões
Entre versos e repentes
Onde o tanto não compões
Ou decerto nem mais tentes
Descarrilas os vagões
E os meus ermos tu pressentes.

112

Mais um trago que está frio
E a vontade é de falar
O momento onde desfio
Traduzindo em cada bar
O que possa e desafio
Não deixando descansar
Sem destino, desvario
E vagasse céu e mar.
Procurando do passado
Qualquer coisa que inda trace
O meu mundo desolado
Oferece nova face,
Mas decerto enquanto brado,
Ninguém mesmo ainda ousasse.

113

Sertanejo coração
Não respeita nem o medo,
Onde vejo a dimensão
Do momento onde o concedo
Sei que os dias mostrarão
Mesmo tarde ou sendo cedo
A diversa direção
Onde esqueço algum segredo.
Das mortalhas e muralhas
Carregando dentro em mim,
Na verdade se batalhas
Também tens a alma ruim,
E negando tantas falhas,
O meu verso traz o fim.

114

Engravido quem decerto
Sabe bem o que deseja
O meu mundo se deserto
Noutra face esta peleja
Encontrando o campo aberto
Sendo sempre como seja
A palavra onde me alerto
Não traduz o quanto veja.
Acrescento cada morte
Como fosse mais um passo
Ao caminho que comporte
Todo o meu velho cansaço,
E se possa e não suporte
Outra vez sigo devasso.

115


Mataria por prazer,
Esteja certo, meu amigo,
Mas agora ao perceber
Quanto sou decerto antigo,
O meu mundo eu passo a ver
Da maneira que consigo
Sem sequer poder saber
Se inda tenho algum abrigo,
Barbarizo quando sonho
E se tanto sou medonho
Enfadonha a vida agora,
Deposito e não se entenda
Qualquer verso de uma lenda
Que decerto me devora.

116


Nesta praça jogo damas
E se queres outro fato,
Acendendo velhas chamas
O que tanto ora retrato
E misturam tantas tramas
Onde o fim ora constato
E se possa quando clamas
Mar bravio hoje é regato.
Mas resgato alguma luz
Quando a sorte traz lembranças
E também se reproduz
Toda vez que tu me lanças
A verdade feita em cruz
Sem querer tantas mudanças.

117

Tantos filhos, filhas, netos
E decerto o que viria
Não traria mais completos
O que basta a cada dia,
Os meus sonhos prediletos
Balas, facas, heresia,
Nos momentos mais diletos
Todo enredo outra sangria.
Mas do pouco que me resta
Do momento aonde pude
Encontrar a luz funesta
Nesta sorte mesmo rude,
Coração vergando em festa
Quando lembra a juventude.

118


Cicatrizes que carrego
Corpo tanto maltratado,
Olho esquerdo? Há tempos cego
Em descuido foi vazado,
E o martelo traz no prego
O destino desenhado,
Mesmo quando em paz sossego
Outro tempo é relembrado.
Bravamente a mente escora
O que tanto se quisera
E sabendo sem demora
Que em verdade se fui fera
O que resta e vês agora
Pouco a pouco degenera.

119

Dos grisalhos da esperança
Resta apenas solidão
E meu passo não avança
Nem permite a solução
E se tanto em confiança
Expandindo a negação,
Onde houver qualquer mudança
Meus olhos jamais verão.
Esquecido nalgum canto,
Noutro tempo desigual,
O meu mundo, eu não garanto
Provisão neste bornal,
A saudade traz o manto
Que amortalha o meu final.

120

Mas agora de partida
Volto após o tempo escuro,
Onde perco a minha vida
Minha paz eu asseguro,
Qualquer bala após perdida
Ultrapassa o velho muro,
E se possa decidida
Sorte em morte o que procuro.
Mas não posso nem falar
Se eu tentar estou errado,
Tudo tendo o seu lugar,
Seu destino já traçado,
Porém como imaginar
Um jagunço aposentado?

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