quarta-feira, 30 de março de 2011

161

Jamais pude acreditar
Em tamanho desenredo
E procuro algum lugar
Onde tendo este segredo
Eu pudesse caminhar
Mesmo quando em vão procedo,

Jaz nesta alma outro vazio
E o meu canto se resume
No que possa em desafio
E deveras em vago lume
Presumindo o que desfio
Traz a dor, velho costume.

Restaurando o meu caminho?
Se de novo eu sou mesquinho...


162

Nada mais pudesse ter
Nem sequer o quanto eu quis.
Se esta vida é desprazer
Não seria então feliz,
O meu mundo a se perder
Sem a força geratriz,

O resumo deste fato
Quando em vão tal sobressalto
Terminando o que constato
Esperando enquanto salto
Na verdade o que retrato
Traz o mundo atroz e incauto.

Versifico com meu sonho,
Mas decerto o decomponho.

163

Se meu mundo fosse assim
Tão diverso do que eu quis
O cenário em tal jardim
Não seria mais feliz
Vicejando este jasmim,
Meu amor quer o que diz

Vento brando, vida mansa
A palavra não traz rumo
E se possa quando alcança
A vontade num resumo
Outro passo em temperança
Rege o canto aonde esfumo.

Nada mais pudera ter
Quem quisera algum prazer.

164

Nada mais traz o que um dia
Poderia ser diverso,
Onde o tempo se faria
O meu canto ora disperso
E se bebo a fantasia
Não me resta mais o verso.

Versifico com a luz
Que pudesse ser maior.
O meu passo me conduz
Ao caminho em que, de cor
O tormento faça jus
Ao que perco em tal suor.

Da esperança sem sentido,
Nenhum um som a ser ouvido.

165

Na manhã ensolarada
A visão se entorpecendo
A viola noutra estrada
O cantar, velho remendo,
A palavra desvendada
O meu mundo agora horrendo.

Mergulhasse em claras águas
Deste mar sutil e belo,
Onde outrora minhas mágoas
Destroçaram meu castelo
E sem medo tu deságuas
Neste amor que claro, atrelo.

Verso sobre este vazio
E deveras desafio.

166

Não vencesse o que inda trago
Nem pudesse ser assim,
O meu mundo sem afago
O vazio dentro em mim,
E se bebo neste lago
Inebrio e chego ao fim.

A palavra sem o senso
Outro imenso caminhar
Na incerteza do que penso
A vontade de lutar
No cenário bem mais tenso
Onde o pude cultivar.

Resumisse o que não tenho
Neste frágil desempenho.

167

O meu canto em dor e medo
O meu medo em desencanto
Tento em paz um novo enredo
E presumo o que garanto
Sem saber qualquer segredo
Resta apenas outro espanto.

Marcas desta sensatez
Que jamais fora meu forte
E se tanto agora vês
O que outrora desconforte
Meu anseio se desfez
Noutro passo, sem o norte.

Merecesse qualquer canto,
Mas o nada hoje eu garanto.

168

Esquecendo o meu tormento
Aprendendo a me perder
O que tente e mesmo alento
Não pudesse refazer
Onde solto o sentimento
Eu prefiro até morrer.

Nada mais se tendo em paz,
O cenário se resume
No sentido mais mordaz
Vida expressa em tal curtume
O veneno mais audaz
E ao vazio agora rume.

Esclareço o que se trama
Na verdade em ledo drama.

169

Respirando com temor
Espreitando o que inda venha
No meu mundo este rancor
Com certeza já desdenha
A verdade aonde a por
Sem saber sequer se a tenha.

Não querendo melhor sorte
Nem o corte que se faz,
O momento bem mais forte
Não rondando nunca a paz
O que sei e me conforte
Mata o quanto a vida traz;

Jogo as mãos e tento apenas
Onde sei que me condenas.

170

A mortalha que me deste
De presente, na verdade
Traz o solo mais agreste
E o caminho se degrade,
Onde o tempo se reveste
Já não vejo liberdade,

Esperando o que se queira
Noutro rumo sem sentido,
Desvendando uma ladeira
Onde a queda dita o olvido
E se possa verdadeira
A palavra a dilapido.

Acordando sem sentir
O que possa no porvir.

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