261
Não tento melhor sorte
Nem mesmo poderia
A vida traz na morte
O que me redimia
Do vento atroz e forte
Em leda fantasia
Ourives do vazio
Segredos sei de cor,
O tempo desafio
E sendo em sal suor,
O canto onde desfio
Jamais se fez maior.
Apenas reproduz
A velha e leda cruz.
262
Não quero qualquer rumo
E nem felicidade
O tanto onde resumo
Deveras me degrade
E bebo inteiro o sumo
Ausente liberdade.
Esquento o meu caminho
Em ledos, vários sóis
E quando me avizinho
Deveras tu destróis
O quanto fosse ninho
Em rotos, vis lençóis
E sei do que se tente
Em tom duro e frequente.
263
Acolho o que se fez
Em lenta hipocrisia
A velha insensatez
Matando a cada dia
O que já não mais vês,
Domina a fantasia,
E bebo o que se possa
Em aguardente e tédio
A luta gera a fossa
E sem qualquer remédio,
O mundo não endossa
A vida em lento assédio.
Ocasionando a queda
Aonde a morte seda.
264
Ao emplastar o risco
Em dores e temores
O prazo onde confisco
As tramas em rancores,
O mundo mais arisco
Expressa o que inda fores.
Primaveril vontade
Não traz o que desejo
O mundo se degrade
E nada mais prevejo
Somente a velha grade
E nela inda pelejo.
Restando o que inda leva
Esta alma feita em treva.
265
Andando sem saber
O quanto pude e tente
Vagando a me perder
Inútil penitente,
O marco a se verter
Deveras não me atente,
Acolho cada engano
E bebo o que não vivo
Somente se me dano
Ao ser mero cativo
O passo mais profano
Apenas lenitivo.
Acolho o que recolha
A sorte em leda folha.
266
Não quero nem saber
O que inda mais jazia
Da vida sem prazer
Em tons de hipocrisia,
E passo a recolher
O quanto não havia
Do mundo sem provento
Da luta sem sentido.
E quando me alimento
Do canto aonde olvido
O dia em tal tormento
E nisto dilapido
O prazo sem caminho
Carinho vão, mesquinho.
267
Navego contra a fúria
De um mar que não se faz
Além desta penúria
Enquanto nada traz
Somente cada injúria
Em tom ledo e mordaz.
Espero o que se agita
No encanto sem desejo
E sei desta pepita
Aonde a cada ensejo
O mundo enquanto grita
Proteja o que não vejo,
Apresentando o rude
Caminho onde se ilude.
268
Negociando o fato
Aonde o que se quis
Trouxesse o que constato
Em torpe e vão matiz,
O mundo onde o retrato
Refuga o que já fiz.
Mergulho sem saber
O quanto a cada traço
Diverge do querer
E nada mais refaço
E sei do que irei ter
Em tosco e rude espaço,
Avesso ao que inda venha
O mundo não convenha.
269
Não quero de tal forma
O mundo aonde um dia
Vencendo o que transforma
Gerasse em ironia
Apenas a reforma
Que tudo impediria;
Repare cada engano
E veja o que se quer
Negando onde me dano
Nas tramas da mulher
Em cada novo plano
O quanto Deus quiser,
Mas colho com a morte
O que já me conforte.
270
Não quero e não teria
A sensação completa
Da luta em poesia
A vida mais discreta
Aonde a sintonia
Aos poucos me repleta.
O verso sem sentido
Atento e sem proveito,
O mundo resumido
Aonde em vão me deito,
Já vejo dividido
O que se fez direito.
O caos entremeando
O tempo mais infando.
271
Mal pude acreditar
Nas tramas de um anseio
E sei que devagar
Invado o mundo alheio
E bebo a me fartar
E nisto o meu recreio.
Rescendo ao que não pude
E nada mais teria
Senão a voz que rude
Expresse esta agonia
E quando em magnitude
Matasse o novo dia,
Repito o que não veja
Uma alma em vã peleja.
272
No caos aonde eu possa
Trazer a vida em riste,
A sorte nega a roça
E sei quanto persiste,
Marcando o que se endossa
No verso amargo e triste,
Ainda sem sentir
O quanto pude em vão
Apenas o porvir
Indica a dimensão
Do quanto resistir
Expresse a negação,
E dos porões da vida
A sorte em despedida.
273
Negar o que não veio
Anseio que não tento
Ao menos se receio
Bebendo inteiro o vento,
O mundo segue alheio
Ao vão contentamento.
E possa noutro engodo
No lamaçal desta alma
Ao mergulhar no lodo
A vida não se acalma
E sei que deste todo,
Apenas resta o trauma,
E nada se aproveita
Enfim desta colheita.
274
Debulhando o canto
Envolto em treva e medo
O que pudera tanto
Agora não concedo,
Resumo o desencanto
E nisto o meu segredo.
Evade-se do rumo
Aonde quis um riso,
E sei do que consumo
E nisto me matizo
A vida em ledo sumo
A morte sem aviso
E o passo aonde eu tente
Viver, imprevidente.
275
Não mais se vendo o canto
Aonde vejo o fim,
E bebo o desencanto
Guardado dentro em mim,
O prazo eu não garanto,
Acendo este estopim.
O mundo desabando
A banda apodrecida
O corte desde quando
A carne envilecida
Aos poucos se formando
Em luta sem guarida.
Espero o quanto reste
Do tempo exposto em peste.
276
Mapeio com meu medo
O que não pude ter
E sei deste arvoredo
E o vejo apodrecer,
O mundo sem segredo
O tempo a se verter,
Na fonte mais atroz
Que tanto poderia
Ousar dentro de nós
Em torpe sintonia
Vencido e já sem voz,
Em vão eu morreria.
Marcante derrocada
Traduz o mesmo nada.
277
Anunciando a morte
De quem se fez gentil,
O tempo não comporte
O quanto não se viu,
O verso sem aporte
Aborte o que previu,
O manto se desnuda
E nada possa ver
Senão a dor aguda
E nela o receber
Ausenta alguma ajuda
E mata sem saber.
O medo não se cala
E toma esta senzala.
278
No marco em dor, remendo
O caos se mostra quando
O tanto que desvendo
Presume o mais infando
Cenário me revendo
E nisto desabando.
Reparo cada engano
E bebo o fim de tudo,
Enquanto ora me dano
Eu sei do quanto iludo,
Vestindo o mais profano
Caminho eu sigo mudo.
O verso sem sentido
E o tempo revolvido.
279
Não pude ter no olhar
Sequer algum apoio
E sei do caminhar
E mesmo num comboio
O tempo a se traçar
Expande o velho arroio
E o tempo não se faz
Além do quanto eu pude,
O mundo mais mordaz
A cena atroz e rude,
O canto contumaz
Ausente juventude;
E sei do que se busca
Em noite alheia e brusca.
280
Espero qualquer tom
E nada mais se visse,
Versando em rude dom
O quanto da mesmice
Trouxesse o que foi bom
E nada mais se disse,
Somente o que repare
O canto em desatino.
E nada mais ampare
O que jamais domino,
O marco não separe
O teto e determino
O mundo em vã centelha
E à morte me assemelha.
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