quarta-feira, 30 de março de 2011

181

Já não cabe nem pudesse
Ser diverso do que um dia
Ao mostrar a rude prece
Na verdade não viria,
Entretanto me enlouquece
A verdade em ironia,

Nada mais se vendo ao lado
Do que pude acreditar
O cenário desolado
Já não deixa mais olhar
O que tento e se me evado
Nada resta em seu lugar.

O mergulho no vazio
Traz o vento amargo e frio.




182

No momento mais atroz
O meu verso se presume
E se possa ter na foz
Outro rumo, o de costume
Mostra a queda mais veloz,
E deveras não aprume.

O versar sobre o que tente
O saber do mais venal
Onde fora impertinente
Em suor, sangria e sal,
A verdade se apresente
Neste termo hoje fatal.

A manhã não se deslinda
E o que resta? Vida finda...

183

No meu passo sem proveito
No meu tempo sem caminho
Onde possa ser aceito
Outra queda em tom mesquinho,
O meu mundo em preconceito
Já não traz o mais daninho

Desenhar onde se tente
Desvendar o que não tenho,
A palavra num repente
Traz o fim deste desenho;
E tanto se apresente
O mundo em vago empenho,

Não pude ter no olhar
Sequer o que sonhar.

184

Não quero a sorte assaz
Vestida em tédio e morte,
Apenas o que traz
No fundo não conforte
E vendo o mais audaz
Anseio não suporte,

A luta sem proveito
O rumo sem sentido
O quanto não aceito
Expressa o dividido
O rio onde este leito
Há tanto destruído

Vestindo o desalinho
Presume o ser sozinho.

185

Não cabe no meu verso
Sequer o que inda tenha
Do tempo aonde imerso
A vida trama a lenha
E abraso e desconverso
A sorte onde se empenha

Navego contra tudo
E sei dos tantos lodos,
Meus passos quando iludo
Deveras sempre todos,
Entranham e nada mudo
Senão meus velhos lodos.

Arejo com a morte
O que já não comporte.

186

No caos que se aproxima
No medo sem proveito
O tempo em rude clima
O verso sem direito
Ao quanto subestima
O que jamais aceito,

Não quero outro caminho
Senão meu próprio fim,
Teu canto ora mesquinho
Destrói qualquer jardim
E quando em vão me alinho
Mergulho aonde eu vim.

Negar o que se tenta
Em turva e vã tormenta.

187

Não pude acreditar
Nos ermos de que tanto
Pudera no vagar
Gerar o desencanto,
Morrendo devagar,
A cada desencanto,

Florescesse um futuro
E nada mais se vendo
Apenas me torturo
E bebo o ser horrendo
E quando me asseguro
O todo irei perdendo,

Negado algum aporte
De quem tanto se importe.

188

Não quis e não vivesse
Sequer o que se tente
E sei do que perdesse
A cada imprevidente
Momento e não me esquece
Do verso impertinente.

Apenas o meu canto
Sem caos e sem sentido
O prazo em desencanto
O mundo enquanto olvido,
O rude encantamento
No sonho subvertido,

No cerne da questão
A velha solidão.

189

No meu velho castelo
Aonde quis mudança
O quanto já revelo
Ao fogo enfim me lança
Um dia se fez belo,
Porém logo se cansa.

Depois do caos o corte
E nada se anuncia
Negando algum aporte
E quando se esvazia
O verso onde se aborte
O sonho da alegria,

Arcando com enganos
Os dias são profanos.

190

Vagando sem saber
Aonde possa um porto,
O mundo a se tecer
Esquece o velho aborto
E sei que em tal sofrer
Melhor estar já morto.

Resumo o meu anseio
E nada se permite
O tempo enquanto veio
E nada necessite
Do mundo onde rodeio
Aquém deste limite,

Sofrendo a dor intensa
A luta não compensa...

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