quarta-feira, 30 de março de 2011

61

Já nada quis e tento
Após o não mais ter
Sequer o provimento
Audaz de algum prazer,
A cada movimento
Um pouco a me perder
E bebo o forte vento
Sem nada a recolher,
Vivendo o quanto pude
Em tanto frenesi
Deixando a juventude
Aonde não mais vi,
A vida em atitude?
Nem mais a conheci.


62

Jamais pude tentar
Outro caminho quando
O mundo a se entregar
Presume o já moldando
O verso a se tramar
O prazo dilatando
O canto sem lugar
Meu canto mais infando,
Em referências tais
Aonde nada vejo,
Somente os mais boçais
Anseios e pelejo
Ousando querer mais
Que a vida em vão desejo.

63

Na parte que nos cabe
Nos ermos que eu carrego
O vento não desabe
O verso agora cego,
E o mesmo que se sabe
Diria o que não nego,
Cravando o que se acabe
Ao destroçar meu ego.
Esgares em diversos
Momentos desta lida,
Pudesse nos meus versos
Achar qualquer saída,
E sinto os mais perversos
Temores; despedida.

64

Os ecos de uma luta
Sem ter proveito, trago
E bebo desta bruta
Vontade onde me alago,
E quando assim reluta,
O passo ora divago,
Marcando o que se escuta
Aonde o quis tão mago
E magro se percebe
O rústico cenário,
Na sorte em leda sebe
O mundo necessário
E nele se concebe
Um tom imaginário.

65

Não pude imaginar
Nem mesmo qualquer sonho
Aonde sem lugar
O que inda mais proponho
Expressa o navegar
E nada mais componho
Senão tanto vagar
Num ar mais enfadonho.
O tempo que se passa
O verso sem proveito
O amor feito em fumaça
A luta, enquanto aceito
A fonte mais escassa,
Tomando o velho leito.

66

Dos repentes que faço
Assonetando o verso,
O manto onde desfaço
O canto mais perverso,
Seguindo traço a traço
Um rumo mais disperso
Daquele que o cansaço
Moldasse em ar submerso.
Navegar contra a fúria
De todos os tormentos,
Ainda em tal penúria
Enfrento tantos ventos
E bebo desta fúria
Em frios desalentos.

67

Não pude e não tivera
Qualquer momento em paz,
E sei da primavera
Que o tempo já desfaz,
Na fúria da quimera,
Pudesse ser tenaz,
E nada do que espera
Expressa o que se faz.
Resulto deste enredo
Diverso e sem promessa
Aonde o que concedo
Jamais se recomeça
A vida sem segredo,
O tempo vai depressa.

68

Embarco no saveiro
E tento imenso mar,
O dia derradeiro
Tomando este lugar,
O passo, o timoneiro
O canto a sonegar,
A paz deste Cordeiro,
A luz a cada olhar,
Resumos de uma história
Já tanto desolada,
Na fuga da memória
Não resta quase nada,
Somente a luta inglória
Deveras tatuada.

69

Ao menos pude ver
Depois do quanto quis
A sorte de um prazer
O tempo este infeliz,
Gerando o bem querer
E tanto quanto o fiz,
Mudando sem saber
Da imensa cicatriz;
No preço que se paga
Na plaga mais distante
A vida dita a adaga
E a fúria se garante,
Enquanto imensa vaga
Apenas se adiante.

70

Depositando em fés
Os tempos mais agudos,
E nisto de viés
Os versos morrem mudos,
Cabendo por quem és
Aos dias tão miúdos
Tentando além dos pés
Cerzir novos escudos.
Reparo o que se fez
Na luta envilecida,
O mundo, a lucidez
A farsa feita em vida
E o quanto agora vês
Processa a despedida.

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