221
Jamais eu poderia
Ousar noutro momento
A vida é mais sombria
E traz em sofrimento
O quanto dia a dia
Deveras atormento,
Não pude e nem quisera
Pensar no que se tente
Ainda sendo a fera
O que decerto atente
O passo destempera
E torna-me um demente.
Vestígios de uma lenda
Aonde o vão se estenda.
222
Não quero e não pudesse
Apenas bendizer
O que se faz e tece
Aquém o bem querer,
Navego em rude prece
Aguardo enfim morrer.
E sei do meu anseio
Vazio sem proveito
E quando o tempo veio
Num rumo aonde deito
O prazo em devaneio
O corte não aceito,
Esqueço o que se quer
Não tendo alguém, sequer.
223
Na escala que se tenta
Chegar ao infinito
O mundo em foz sangrenta
Presume o que não grito
E sei desta tormenta
E sempre a necessito,
Da nitroglicerina
Ao mundo nuclear
A vida é mais ferina
E canso de lutar,
Sem ter o que domina
Adentro em rude mar,
Jogado para as feras
As horas são quimeras...
224
Não tendo solução
Expresso o que não vejo
Num sonho em dimensão
Diversa do desejo
E sei que a negação
Expõe onde porejo
O prazo se extinguindo
O caos dentro do peito
O mundo não deslindo
E morro insatisfeito,
Do quanto me traindo
Deveras nada aceito,
Esqueço o meu passado
E volto ao velho enfado.
225
Bramisse o imenso mar
E nada mais se visse
Senão poder voltar
E mesmo em tal mesmice
A fúria a me tomar
O rumo contradisse,
Não quero e nem mais pude
Viver a luta atroz
Carpindo o tom mais rude,
Ninguém escuta a voz
Do que em atitude
Traduza os velhos nós
Reparo cada engano
E sei que ao fim me dano.
226
Não permitindo o fato
Enquanto sou assim,
O que sei e constato
Matando o meu jardim
Não deixa este regato
Na foz dentro de mim,
Elementar cenário
Aonde em turbilhão
O verso temerário
Não traz a sensação
Do quanto é solitário
O tempo em negação,
Apressando o final,
O turvo ritual.
227
Acolho com meu medo
Os dias mais venais
E bebo este segredo
Em termos desiguais,
Matando este arvoredo
Enquanto tu me trais,
Repare cada espanto
E nada mais servisse
Senão meu desencanto
Ou mesmo esta tolice
Aonde o que garanto
Jamais alguém ouvisse.
Persisto contra a sorte
Bebendo em paz a morte.
228
Não quero nem sinal
Do velho sentimento
E sei do sideral
Delírio aonde eu tento
Restando outro degrau
Exposto ao rude vento.
Não mais se quer a vida
Em tom diverso e rude,
Ainda desprovida
Do quanto já me ilude,
A luta ora perdida,
Em sórdida atitude.
O caos aonde o rumo
Expressa o que resumo.
229
Bebendo cada sonho
Aonde o nada veio,
E tanto recomponho
A vida em devaneio,
O marco mais bisonho
Expressa o vão receio
Apresentar enfim
O que não mais teria
Matando o meu jardim,
Ausente poesia,
O luto vivo em mim
A sorte em agonia,
O prazo determina
E seca a antiga mina
230
Acendo este vazio
Venal e sem proveito
E quando me recrio
Espero e não aceito
Sequer o desafio
Enquanto em vão me deito.
Reparo cada engano
E bebo o que não traça
A luta onde me dano
A vida em tal fumaça
Restando o velho pano
E nele a imensa traça,
O prazo se findando
E o mundo desabando.
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