161
A verdade que produza
Movimentos vida afora.
Traz a sorte mais confusa
Onde o passo me apavora,
No que possa e sempre abusa
Com certeza não demora,
A expressão que não mais usa
Trama a dor quando devora,
O vazio se permite
E talvez não seja assim,
O viver tem seu limite,
Tem começo, meio e fim,
E se tanto amor palpite
Nada trago dentro em mim.
162
Jamais pude acreditar
Nas tramóias do destino,
Onde a vida tem lugar
O que tente; determino.
O meu passo a se mostrar
Muitas vezes qual menino
Que procura no luar,
O cenário cristalino.
Mas o pulso sendo forte,
Nada escapa da visão
Que decerto nos comporte
Tendo em mãos o meu timão,
Sei decerto do meu norte
Sem mudar a direção.
163
Sendo assim a vida eu sigo
Sem temer qualquer derrota,
Vendo além algum perigo
Vou mantendo a mesma rota,
O que possa e não abrigo
Diz do verso onde não brota
Esperança que persigo
Sem saber nada denota.
Investindo cada passo
No que possa ser diverso.
Meu caminho quando o traço
Vago além deste universo
E se o tempo for escasso,
Sem tormento desconverso.
164
Porém tanto se deseja
O que outrora fora um bem
Entregara de bandeja
E depois nada e ninguém,
A verdade que se almeja
Noutro passo pouco tem,
E se possa enquanto seja
Transformasse em tal desdém.
Rude e leda caminhada
Já não traz um horizonte
Toda noite tão nublada
Sequer lua além se aponte
Paisagem degradada
Destruindo qualquer fonte.
165
Tanta coisa traz a vida
E no fundo nada vale
Onde a luz está perdida
Meu caminho em dor exale
A esperança em despedida
Da montanha morto o vale
A vontade descumprida
Minha voz, o tempo a cale.
Desvendar qualquer mistério
Ou razão aonde um dia
Derrubando o velho império
No final nada teria
Da frieza do minério
Outro passo em nostalgia.
166
Remontando ao que passei
Numa torpe mocidade
Quando em vão eu mergulhei
Em nome da liberdade
Caminhando ora sem lei
Sem ter nada que me agrade,
O desenho eu vislumbrei
Com terrível falsidade,
Num detalhe me perdi
E sabendo deste ocaso,
Meu futuro estava ali,
E meu passo sempre atraso,
Vida afora eu descobri,
Não foi obra de um acaso.
167
Quando eu vejo este retrato
Na gaveta da lembrança
Resumindo o velho fato
O passado ora me alcança
E se tanto assim constato
O que fora rude lança
No momento onde o regato
Sem ter fonte não avança;
Num instante mais cruel
Nada mais me conteria,
A palavra feita em fel
Traduzindo a covardia
Renegando o próprio céu
Traça enfim lenta agonia.
168
Percebendo este querer
De quem nunca desejara
Só nas tramas do poder
Desenhando em tal seara
Um caminho a se perder
Noutra sorte e se prepara
Tão somente sem saber
Onde a vida se escancara.
E decerto neste jogo
Corpo nu por sob a lua,
Juventude traz o fogo
E deveras sempre atua
Renegando qualquer rogo,
Demarcando a vida crua.
169
Neste instante, num repente
Quem se fez em rara entrega
Vendo o olhar que apenas tente
Novo mar e ali navega
E depois, já mais contente
Deixa a vida quase cega
E se mostra impertinente
E jamais a alguém se apega,
O cenário lamentável
Desnudando a realidade
O momento intolerável
Onde a vida se degrade,
Sendo enfim rude e intratável
Destruindo a liberdade.
170
Ao rever a velha cena
No vazio do horizonte
A verdade me condena
E sonega qualquer fonte
Onde a sorte se envenena
Nada mais ora desponte
Vida amarga concatena
O que possa e desaponte.
Quando enfim; percebo erguida
Lagrimada em turbilhão,
Revolvendo em dura vida
A terrível maldição
Intratável tal ferida
Eterniza a solidão.
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