quinta-feira, 31 de março de 2011

351

O caminho aonde eu traço
O que tanto quis outrora
Noutro rumo o velho laço
Tão somente desancora,
E se possa mais escasso
O momento sem demora,

O cenário não reflete
O que esta alma desejara
Num alarme o que compete
Traduzisse em noite amara,
Nos olhos o canivete,
O vazio desampara.

O meu mundo sem sustento
Não refaz o quanto tento.

352

Ousaria acreditar
Nos medonhos dias. Vago
Sem saber sequer chegar
Nas entranhas deste afago,
E o meu mundo, morto o mar
Traz apenas mais um trago.

E se bebo do veneno
Que trouxeste, mansamente
Pouco a pouco eu me condeno
Onde o verso não atente
Para o tempo onde sereno,
Outro rumo se apresente.

O meu prazo em desencanto
Nada mais possa ou garanto.

353

Esbravejo contra a sorte
Que talvez inda mostrasse
O que possa ou não suporte,
E se dita em desenlace
Bem diverso do que corte
E transcende à rude face.

Expressões diversas, medo
Excrescências entre vãos
Os momentos que concedo
Em tormentos feitos nãos
Os meus dias sem segredo,
Mortos; vejo os velhos grãos.

A sensata luz que havia
Hoje morre atroz, sombria.

354

Nas palavras mais gentis
Ou nos ermos de minha alma
O que possa e já não quis
Tantas vezes nega a calma,
Conhecendo o céu tão gris
Por inteiro, sonho e palma,

Na insensata noite escusa
O meu verso não presume
O que tanto a vida abusa
E moldando em vago estrume
Esta sorte mais confusa
Procurando qualquer lume.

Esperando após a queda
O que tanto a sorte veda.

355

Não mereço nova chance
E talvez ainda veja
Onde o sonho não alcance
Revertendo esta peleja,
O meu tempo ora se lance
No que possa e não poreja.

Apresento o caos e bebo
O que pude imaginar
Amor sendo um vão placebo
Nesta angústia a se mostrar,
E do pouco que recebo
Mal pudesse caminhar.

Nada mais se vendo após
Desfilamos sobre os pós.

356

Não se vendo qualquer luz
Onde o quanto fora pouco
O meu tempo onde o propus
Traz o ritmo quase louco,
E gritando sem ter jus
O meu verso morre rouco.

Adentrando este vazio
Onde o manto se remete
Ao que possa e não recrio
Na incerteza me arremete
Num insano e longo estio.
E meu verso ora repete.

Vagão sem locomotiva
A esperança sobreviva?

357

Num anseio onde não veja
A incerteza dita a regra
E se possa enquanto seja
A verdade desintegra
O caminho não poreja
O que possa; dor integra.

A velhaca sensação
Desmontando o quanto havia
Na diversa imprevisão
Da tormenta dia a dia,
Outros temos me trarão
O que fora fantasia.

Nada mais restando em mim,
Bebo a morte e sei meu fim.

358

Na verdade o que se quer
Expressasse o quanto veio
Sem saber e se vier
Encontrando o mundo alheio,
Versejando sem sequer
Esboçar um devaneio.

Outra vez nada se tente
Nem ausente em vaga luz,
O meu passo imprevidente
Na verdade não conduz
Ao que possa impertinente
Refletir o que faz jus.

Nesta areia movediça
Novo tempo já não viça.


359


Marcas frias de uma vida
Desenhada a ferro e fogo,
Uma estrada destruída
Outro tempo em ledo rogo,
Nesta ausência presumida
Perco a essência deste jogo

Arrogantemente a sorte
Sem saber o que inda tenha
No final já desconforte
E deveras não convenha
Resumindo cada corte
Onde a sorte não mais venha.

Vejo o caos e sei do quanto
Meu momento em vão espanto.

360


Jorra em pútrida lembrança
A verdade mais atroz
E se tanto a vida alcança
No vazio sei a foz,
E quem dera em esperança
Procurar ir logo após,

O meu verso ora inaudito
O que tanto se presume,
Na verdade necessito
Tão somente de algum lume
O meu mundo onde acredito
Mata o sonho em vago ardume.

Dos cardumes em terrores
Outros ermos onde fores.

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