151
Onde quis felicidade
Nada mais eu pude ver
O caminho se degrade
E negando algum prazer
Onde houvera claridade
Bem mais cedo, escurecer.
Resumisse noutro passo
O que tanto quis e, nada
O meu verso onde o desfaço
Traz a velha madrugada
E se posso ou se não possa
A esperança é sonegada.
Versifico enquanto sonho,
Mesmo quando aquém me ponho.
152
Bem pudera imaginar
Novo rumo ou mesmo até
O que tento navegar
Sem saber da velha fé
Que transforma todo o mar
E renega outra maré.
Teu retrato na parede
Tua fome em fonte atroz,
Onde mate minha sede
Num anseio dentro em nós
E deitando numa rede
Tento a calma logo após.
Apostando no que tente
Meu caminho: impertinente…
153
Restaurando o que inda veja
Do passado e não presumo
O meu mundo em tal peleja
Este tempo em vão consumo,
E conforme sempre seja
Na esperança o supra-sumo.
Versifico com a sorte
E pudera imaginar
O que tanto me conforte
Ou desabe, devagar
Onde quis a vida forte
Nada resta em seu lugar.
Esperando o que não veio,
Envolvido em vão receio.
154
Na palavra que redime
Na esperança quando doma
O que fora quase um crime
Hoje envolto em tal redoma,
No final mais nada estime
Relegando ao vão a soma,
Esperasse mais um dia
Ou quem sabe eternidade,
Provocando o que viria
E deveras já degrade
Nada mais em poesia
Trace a amada liberdade.
No clarão aonde tento
Outro passo: sofrimento.
155
Resolvendo cada fato
Onde o nada se aproveita
Do que possa e se retrato
Expressando esta maleita
A verdade ora constato
Mal decerto em vão se deita;
Assumindo o desengano
Pouso manso no que um dia
Enfrentando o velho dano
Relegasse em poesia
Ao caminho que profano
Marca atroz em ironia.
Sem vestígios deste enredo
Meu anseio se faz ledo.
156
Bebo um gole de esperança
E jamais pudera ter
Onde quer, a vida alcança
O cansaço de viver
E sem ter qualquer mudança
Nada mais tentasse ver.
Cada passo outro tentáculo
Cada engano novo tombo,
A verdade do espetáculo
Traz a porta aonde arrombo
E tentando um novo oráculo
Escondido atrás; biombo,
Esgarçando uma ilusão
Sem meus dias, sigo em vão.
157
Não se faz a vida assim
Nem tampouco quero o brilho
O meu passo e de onde vim
Reduzindo o que palmilho
Se eu pudesse mandarim,
Se eu tentasse um andarilho
Renegar o que inda vejo
Ou talvez mesmo sentisse
No cenário malfazejo
É decerto uma tolice
E se tento ou não almejo
Meu sonhar se contradisse.
Cevo em solo duro, o grão,
A colheita espero, em vão.
158
Nada mais se vendo enquanto
O momento não desvenda
O que possa e não garanto
Ser além desta contenda
Quando olhando aquém eu canto,
Todo o sonho rege a lenda.
Meu anseio sem futuro
Meu presente em tal receio
O caminho configuro
Muito aquém do quanto veio,
E este tempo agora escuro
Dita o sonho em devaneio.
Na verdade, nada tenho
E esperança. Um mau desenho.
159
Terminando cada etapa
De uma vida sem sentido
O meu mundo não escapa
E transborda em ledo olvido
O que possa além do mapa
Noutro canto resumido
Aspergindo uma ilusão
Onde nada mais se visse
Os caminhos que virão
Mostrarão mesma crendice
E o que resta em solidão
Desenhando esta tolice.
Aturdida e francamente
A saudade me desmente.
160
Não quisesse ter nas mãos
Outros dias tão iguais
E pudesse em tantos vãos
Dias ermos e banais
Já cansado de teus nãos,
Quero o sim e muito mais.
Mas bem sei que nada disto
Traduzisse alguma luz
E se eu posso e até resisto
Esvaindo em corte e pus,
O que possa e não desisto
Cada passo ora faz jus,
Justamente o que se quis
Alimenta a cicatriz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário