quarta-feira, 30 de março de 2011

141

Procurara no passado
Qualquer porto mais seguro,
Mas o barco naufragado
Noutro engodo configuro,
Visto o sonho sombreado
E o que possa não conjuro,

A verdade em vário tom
Ao momento se sagrando
Coração em rude dom
Pouco a pouco vai sangrando
E desanda em vago som
No vazio mais infando.

Bandos ledos, entremeio
O momento em vão receio.

142

Nada mais pudesse até
Entregar ao vento o verso
E se busco a mesma fé
Onde o tempo eu desconverso,
No final saber quem é
Expressasse o tom diverso.

Resumindo o que procuro
Noutro tanto sem sentido,
O meu passo neste escuro
Traz o quanto dilapido
E se possa sobre o muro
O meu canto é dividido.

Resta apenas o tormento
Onde vivo o sofrimento.

143

Na palavra mais sutil
Ou no verso sem proveito
O que tanto ora se viu
Explorando o que ora aceito
Resumindo onde gentil
Meu momento, ora desfeito.

Jaz desta alma alguma luz
E se pude discernir
A vontade reproduz
O que nega o que há de vir,
No caminho onde me pus
O tormento irá luzir.

Versejando sem sentido
Todo o rumo agora olvido.

144


Quis hedônica manhã
Nos teus braços, redentores,
Mas a vida mesmo vã
Não presume aonde fores,
O caminho, e tão malsã
Minha sorte mata as flores.

Nada mais se vendo após
O que pude e não quisera,
Prosseguindo rumo à foz
Apresento a mais sincera
Emoção em tom atroz,
E meu canto desespera.

Não se vendo novo rumo,
Os meus erros; logo assumo.

145

Apresento no final
Do espetáculo o vazio
E se possa em raro estral
Desfilar o que inda crio
Noutro toque mais banal
Sou somente o céu sombrio.

Mal pudesse de um amor
Traduzir felicidade.
Seja lá o quanto for
Não resume lealdade
E o meu mundo sem rancor
Busca ainda a liberdade.

Verso sobre o que teria
Se eu pudesse em sintonia.

146

Dos cometas que percebo
Neste céu tão deslumbrante
Cada amor onde o concebo
Traz o mundo e me garante
Mesmo sendo algum placebo
Outro rumo se adiante

Vagamente em tom suave
O que pude e não se visse,
Traduzindo a sorte, agrave
A verdade em tal mesmice.
Coração libertando a ave
No final tudo desdisse.

Realmente nada fiz
E sequer serei feliz.

147

Acolhendo cada engano
Onde o tempo se desfia,
Verso dita imenso dano
E esta sorte ora vazia,
No que possa em soberano
Caminhar mais nada havia,

O meu passo sem proveito
O meu mundo sem razão
Esperando o quanto aceito
Da sublime dimensão
Do meu verso contrafeito
Mergulhando neste vão.

Esquecendo o que me resta
Adentrando a mera fresta.

148

Das feridas que carrego
Dos anseios onde eu pus
O meu mundo sempre cego
O meu canto sem tal luz
Versejando não emprego
O que tanto me conduz

Na verdade o tempo veda
Qualquer chance de mudança
E pagar com tal moeda
No final ao nada lança
O caminho onde envereda
Sem saber qualquer fiança.

Nada mais se pode ver
Onde o tempo a se perder.

149


Nada mais se vendo enquanto
Pousaria a solidão
Entre o verso em desencanto
E a dorida sensação
Do meu mundo aonde o canto
Não traria a solução.

Resta pouco ou quase nada
Do momento mais atroz,
A verdade noutra estrada
Discordando desta voz
Traz enfim esta alvorada
Pondo o sonho em rude foz.

Escoltando o que se via
Nada tenho em alegria.

150


Bebo um gole do passado
Adivinho o meu futuro
O caminho desolado
Traz o quanto configuro
Do veneno desejado
Ou de um passo mais seguro.

Resumindo o que se faz
Onde o tempo se definha,
A verdade contumaz
No final já desalinha
O caminho mais mordaz
Rompe além a frágil linha.

E bebendo mais um gole
Solidão não se console.

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