141
Procurara no passado
Qualquer porto mais seguro,
Mas o barco naufragado
Noutro engodo configuro,
Visto o sonho sombreado
E o que possa não conjuro,
A verdade em vário tom
Ao momento se sagrando
Coração em rude dom
Pouco a pouco vai sangrando
E desanda em vago som
No vazio mais infando.
Bandos ledos, entremeio
O momento em vão receio.
142
Nada mais pudesse até
Entregar ao vento o verso
E se busco a mesma fé
Onde o tempo eu desconverso,
No final saber quem é
Expressasse o tom diverso.
Resumindo o que procuro
Noutro tanto sem sentido,
O meu passo neste escuro
Traz o quanto dilapido
E se possa sobre o muro
O meu canto é dividido.
Resta apenas o tormento
Onde vivo o sofrimento.
143
Na palavra mais sutil
Ou no verso sem proveito
O que tanto ora se viu
Explorando o que ora aceito
Resumindo onde gentil
Meu momento, ora desfeito.
Jaz desta alma alguma luz
E se pude discernir
A vontade reproduz
O que nega o que há de vir,
No caminho onde me pus
O tormento irá luzir.
Versejando sem sentido
Todo o rumo agora olvido.
144
Quis hedônica manhã
Nos teus braços, redentores,
Mas a vida mesmo vã
Não presume aonde fores,
O caminho, e tão malsã
Minha sorte mata as flores.
Nada mais se vendo após
O que pude e não quisera,
Prosseguindo rumo à foz
Apresento a mais sincera
Emoção em tom atroz,
E meu canto desespera.
Não se vendo novo rumo,
Os meus erros; logo assumo.
145
Apresento no final
Do espetáculo o vazio
E se possa em raro estral
Desfilar o que inda crio
Noutro toque mais banal
Sou somente o céu sombrio.
Mal pudesse de um amor
Traduzir felicidade.
Seja lá o quanto for
Não resume lealdade
E o meu mundo sem rancor
Busca ainda a liberdade.
Verso sobre o que teria
Se eu pudesse em sintonia.
146
Dos cometas que percebo
Neste céu tão deslumbrante
Cada amor onde o concebo
Traz o mundo e me garante
Mesmo sendo algum placebo
Outro rumo se adiante
Vagamente em tom suave
O que pude e não se visse,
Traduzindo a sorte, agrave
A verdade em tal mesmice.
Coração libertando a ave
No final tudo desdisse.
Realmente nada fiz
E sequer serei feliz.
147
Acolhendo cada engano
Onde o tempo se desfia,
Verso dita imenso dano
E esta sorte ora vazia,
No que possa em soberano
Caminhar mais nada havia,
O meu passo sem proveito
O meu mundo sem razão
Esperando o quanto aceito
Da sublime dimensão
Do meu verso contrafeito
Mergulhando neste vão.
Esquecendo o que me resta
Adentrando a mera fresta.
148
Das feridas que carrego
Dos anseios onde eu pus
O meu mundo sempre cego
O meu canto sem tal luz
Versejando não emprego
O que tanto me conduz
Na verdade o tempo veda
Qualquer chance de mudança
E pagar com tal moeda
No final ao nada lança
O caminho onde envereda
Sem saber qualquer fiança.
Nada mais se pode ver
Onde o tempo a se perder.
149
Nada mais se vendo enquanto
Pousaria a solidão
Entre o verso em desencanto
E a dorida sensação
Do meu mundo aonde o canto
Não traria a solução.
Resta pouco ou quase nada
Do momento mais atroz,
A verdade noutra estrada
Discordando desta voz
Traz enfim esta alvorada
Pondo o sonho em rude foz.
Escoltando o que se via
Nada tenho em alegria.
150
Bebo um gole do passado
Adivinho o meu futuro
O caminho desolado
Traz o quanto configuro
Do veneno desejado
Ou de um passo mais seguro.
Resumindo o que se faz
Onde o tempo se definha,
A verdade contumaz
No final já desalinha
O caminho mais mordaz
Rompe além a frágil linha.
E bebendo mais um gole
Solidão não se console.
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