domingo, 27 de março de 2011

81

Mapeias com o sonho
As Terras mais distantes
E mesmo que adiantes
O mundo onde o proponho
Verá o ser medonho
E nele por instantes
Cenários degradantes
Num canto ora enfadonho.
Enfronho-me no vário
E torpe vil cenário
Viçosa noite eu quis,
Mas quando me entregara
A luta a cada apara
Jamais me fez feliz.

82

Não meça esta verdade
Conforme peso e traço,
No fundo o que inda faço
Talvez já se degrade,
O verso em realidade
Morrendo de cansaço
Agora em tom escasso
Sonega a claridade.
Pudesse ser diverso
E ter no olhar disperso
O mundo que não creio,
Mas tanto sendo assim
Principiando o fim
Prefiro estar alheio.

83

Sonetos entre enganos
Espalho sem saber
Se estendo algum prazer
Ou mesmo velhos danos,
E no frigir dos planos
Os olhos possam ver
Apenas o querer
Em rudes desenganos.
Anseio qualquer meta
E nada se completa
Senão a mesma luta
E sei do quanto pude
Viver em plenitude
E nada mais se escuta.

84

O tanto que pudera no passado
Jamais me apresentasse algum futuro
E sei do quanto resta e se procuro
No dia mais audaz, decerto evado,
E sinto este caminho desenhado
Nas tramas de um anseio ora inseguro
Saltando sem defesas sobre o muro
Embora saiba estar acostumado.
Arcar com erros tais e ver em frente
O tanto que talvez já ninguém sente
Ou mesmo não desmente esta ilusão,
Lunática presença do que outrora
Pudesse desejar e sem ter hora
Explode numa turva procissão.

85

O verso que se fez invade cada instante
E sei do que talvez pudesse ser maior
O tempo se desnuda e sinto em meu suor
O tanto quanto quis e nada mais garante.
O verbo com certeza em voz tão dissonante
Expressa na verdade o quanto sei de cor
Na estante da esperança não sei o que é pior
O que vivera outrora ou viva doravante.
Restando do meu canto apenas o vazio
Ainda quando muito o sonho eu desafio
E sei que cada fio entoa outro destino,
Sabendo disto sigo em busca de algum cais
E mesmo que se veja em dias tão banais
Sem rumo e sem caminho, enfim me desatino.

86

Não veja
Tal sorte
A morte
Deseja
Andeja
Sem norte
Comporte
Se almeja
Vencida
A vida
Nem resta
A festa
Que um dia
Queria.

87

Nas tramas deste enredo
A voz não calaria
E sei do meu segredo
Refeito a cada dia,
O tempo atroz e ledo
Exclui a calmaria
E nada que concedo
Decerto acalmaria
O velho coração
Cansado de sonhar
Negando a duração
Do quanto possa amar.
Deixando na estação
A vida sem lugar.

88

Mantendo o mesmo rumo
Depois da tempestade
O quanto se degrade
O tempo onde me esfumo,
O tanto enquanto aprumo
O verso não agrade
E sei fatalidade
E nisto eu me resumo.
Vagando sem destino
Deveras mal domino
O traço aonde vês
A vida de tal forma
Que quando nos deforma
Gerasse estupidez.

89

Negar o que não tenho
E ser bem mais tranquilo
E quando não vacilo
Enfrento o fraco empenho
E sei que enquanto venho
O mar traz o bacilo
Do tempo onde desfilo
E nada mais convenho,
Restaurações em ruas
Deveras sempre nuas
Cultuas com teu canto,
Mas quando se aproxima
A vida em ledo clima
Deveras eu me espanto.

90

Na reta de chegada
A sorte não presume
O quanto sem costume
Sonega e já se evada
Marcando a desolada
Vontade onde resume
O lento e vago ardume,
Depositando o nada,
A voz se faz presente
E quanto se pressente
Do tempo mais sutil,
O mundo se envereda
E sei que cada queda
Transcende ao que se viu.

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