domingo, 27 de março de 2011

181

No caminho aonde outrora
Eu pudera desenhar
Qualquer noite de luar
A saudade desancora
E se tanto revigora
O meu sonho noutro mar,
O que pude desejar
Noutro rumo não demora,
Revestindo a mesma cena
Onde o todo me serena
E a vontade se traduz,
Nas entranhas deste encanto
O que possa e já garanto
Traz enfim a rara luz.

182

Ousaria acreditar
Nas estrelas que não vejo,
E se tanto em raro arpejo
Busco o sonho desvendar
O que trame no luar
Argentino o meu desejo
E se possa noutro ensejo
Tantas vezes navegar.
O meu prato predileto
Onde além eu me repleto
Sem saber da antiga fome,
Emoção traçando o rumo
E em verdade eu me resumo
Ao que tanto não nos dome.

183

Ouço o canto da sereia
Entranhando todo o mar
E pudesse mergulhar
Quando a sorte nos rodeia,
Desta lua imensa, cheia,
Sinto o sonho a me encantar,
Mas sabendo no vagar
Movediça, enfim a areia.
Mares tantos, oceanos
E de baixo para cima
A certeza em raros planos
Gera o sonho onde se prima
A emoção supera os danos,
Mas amor com dor traz rima...


184

Jamais pude imaginar
Onde tanto procurava
Na expressão vulcão e lava
O que possa mergulhar
No vazio a me entregar
Alma turva e mesmo escrava
Nesta angústia que me trava
E me impede de sonhar.
Vendo apenas o caminho
Entre rudes esperanças
O meu passo é mais daninho
Mesmo quando tu avanças
E traçamos das lembranças
O que fosse antigo ninho.

185

Neste mar duro e bravio
Já não posso mais sentir
O que tanto a resumir
Transformasse o que desfio
Trafegando em ledo rio,
Nada mais a consumir
E somente o que há de vir
Superasse o desvario
De quem quis a liberdade
Muito embora já degrade
O que possa ser encanto,
Caminheiro onde se cansa
Traz no olhar esta mudança
E traduz o sonho em canto.

186

Aprazível tal cenário
Onde em flores desenhaste
O que sei e não notaste
Transformasse itinerário
E podendo o necessário
Sei do quanto mergulhaste
Se esta vida traz desgaste
Meu desejo é temerário.
E traduz o que pudesse
Numa graça da benesse
Transcender ao quanto trago,
Vejo apenas cada cena
E decerto o que serena
É deveras teu afago.

187

Outro verso e nada além
Sentimento? Roto, morto
E sabendo deste porto
Meu caminho não convém,
Em cenários o que têm
São delírios torpes. Torto
Faço na alma algum aborto
E prossigo sem ninguém.
Ao tentar em dimensão
Tão diversa desde então
Nada faço e nem consigo.
Deste vórtice voraz
O caminho contumaz
Leva sempre ao desabrigo.

188

Demarcando cada espaço
Pondo os olhos no futuro
Do meu canto me asseguro
Mesmo sendo o sonho escasso.
O que possa e já não traço
Noutro rumo o configuro
Gero além do velho muro
Meu momento em teu cansaço.
Esperando pelo menos
Dias calmos e serenos.
Onde a fera traz as garras
Afiadas e tortura
Quem decerto a paz procura
E do rumo ora desgarras.

189

Merecesse qualquer chance
Quem lutara até o fim,
O cenário de onde vim
Talvez tente e mesmo alcance
Onde o tempo ora me lance
Transtornando o que há em mim,
E traçando sempre assim
Outra sorte em vil nuance.
Meu caminho se presume
Onde a vida traz o lume
E mergulha no passado,
O meu canto se demanda
Onde a sorte traz a branda
Sensação de dor e enfado.

190

Nada mais se visse quando
O cenário desabasse,
O meu mundo em desenlace
Noutro tanto se moldando,
Versa sobre o mais infando
Caminhar onde notasse
O tormento a cada impasse
Ou o nada revelando.
Nas angústias costumeiras
As palavras derradeiras
Em ladeiras quedas, trago.
E se bebo deste sonho
O que agora mal proponho
Gera apenas novo estrago.

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