domingo, 27 de março de 2011

21

Um dia a bala vem
Perdida ou com tal mira
Que nada mais retira
Nem mesmo sigo além
O verso não convém
Envolto em tal mentira
O pouco que se atira
Traduz o raro bem.
Prenunciando o quanto
Apenas desencanto
E canto sem sentir
O manto se entreabrindo
E nisto o tempo infindo
Resolve então partir.

22

Revolvendo o passado
Revólveres e fugas
Os olhos, cãs e rugas
O cerco anunciado,
E quando enfim me evado
Ainda quando alugas
Decerto não refugas
E vejo o velho enfado.
As cartas sobre a mesa
O dado já rolando
E o tempo desde quando
Tentara outra surpresa
E presa do que sou
De mim, nada restou.

23

Além do mais, o menos
Compensa o que se quer,
A trama que vier
Os dias mais serenos,
Os olhos são venenos
Nas mãos de uma mulher
Que segue sem sequer
Tentar dias amenos.
Não pude e nem talvez
Ainda o quanto vês
Transcende ao que ficara
A voz já me intrigando
Do tempo desenhando
A turva e vã seara.

24


O amar tranquilamente
É tudo o que se tenta,
Porém a voz sangrenta
Não deixa plenamente
E o tempo nos desmente
Embora a noite atenta
Moldara enquanto venta
O dia ora inclemente.
Resplandecendo o fato
Enquanto o que constato
Num ato se traduz,
Vestígios de outras eras
E sei que não me esperas
Nem mesmo em mera luz.

25

Buscando cada anseio
Na boca mais gentil,
O quanto amor se viu
Tocando manso o seio
E sei em devaneio
O corte aonde o vil
Percebe o que cerziu
E traz já sem rodeio.
O mar dentro do peito
O peito noutro mar,
E assim ao navegar
O sonho quando aceito
Explode sem temor
Em ânsias de um amor.


26

Os corpos se tocando
Os brindes mais audazes
E sei que quanto trazes
Traduzes desde quando
O mundo nos tornando
Deveras mais vorazes
E após diversas fases
O dia se blindando
Num canto em privilégio
Vencendo o sortilégio
Deste régio tormento,
Não tento amanhecer.
Apenas posso ver
Sentindo o manso vento.

27

Um sempre doce sonho
É pura hipocrisia,
O mundo não traria
Um ar tão enfadonho.
E quanto mais componho
A sorte dia a dia
Já nada mais veria
Nem mesmo o que proponho;
Vestígio de uma senda
Diversa já desvenda
O tempo sem cuidado,
O manto que me deste
Azul quase celeste
Agora, desbotado.

28

Pudessem tão suaves
As noites entre nós,
Os corpos, mesma voz
Os dias sem entraves,
Vagando em plenas naves
O amor moldando a foz
E sei do canto atroz
E dele suas chaves.
Respiro e neste tanto
O peso que levanto
Permite nova luz,
Assim ao me entranhar
Nas tramas de um luar
O sonho em paz seduz.

29

Das naves libertárias
Aos ermos de quem tenta
Vencer qualquer tormenta
Em formas necessárias
Já não são solitárias
As noites quando alenta
O tempo que apascenta
Em rotas solidárias.
Jorrando dentro da alma
A vida nos acalma
E trama novo passo,
Depois do que viera
A luta noutra esfera
Desenha um vão compasso.

30

Desejo sempre imenso
Do sonho que liberte
Ainda que deserte
O mundo enquanto penso
Num dia menos tenso
E nisto já se acerte
Outrora um corpo inerte
Agora um ser intenso.
Restando deste fato
A sorte onde retrato
Um ato sem fastio,
E bebo tão somente
O quanto se apresente
Em manso desafio.

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