domingo, 27 de março de 2011

131

A palavra tendo espaço
Dentro da alma de quem sonha
Tantas vezes no cansaço
Trama a lenda onde se enfronha
O caminho que hoje traço
Já não traz sequer a fronha
Do momento aonde escasso
O meu verso não se ponha,
Vencedor ou já vencido,
Pouco importa, pois batalha
Traz o tempo ora perdido
Prejuízo em vã navalha
E o meu passo eu dilapido
Tanto quanto a vida falha.

132

Nas entranhas deste mundo
Entre grutas, furnas, gretas
Onde apenas me aprofundo
Entoando estas trombetas
E se tento e já me inundo
Do que tanto me prometas
Coração mais vagabundo
Segue os sonhos, meus cometas
E cometo a cada instante
Novo engano e sei do preço
Que se paga doravante
Sem saber o que mereço
Num momento onde inconstante
Esperava o recomeço.

133

Das entranhas deste imenso
Sertanejo coração,
Muitas vezes o que penso
Traz somente a alegação
Do momento onde compenso
Com sorriso a solidão.
O desejo deixa tenso,
Alivia uma paixão.
E procuro com certeza
Novo rumo sem sucesso,
Espalhando sobre a mesa
O caminho onde regresso
E se possa ser a presa,
Qualquer luz mata, o confesso.

134

Mas depois de tanta luta
Sem saber onde me apóia
Esperança não reluta
E entre mares turvos bóia.
Na vontade mais astuta
Apoiando na tipóia
O que possa e não se escuta
Não traduz a antiga jóia.
Entre ventos do passado
Tento a brisa de um futuro,
Porém sendo condenado
Meu caminho é sempre escuro,
Num cenário iluminado,
Trevas tantas eu procuro.


135

O que pude num repente
Traduzir em tom suave,
Noutro passo se apresente
Como fosse eu qualquer ave,
E o cenário impertinente
Adentrando o quanto agrave
Do sentido onde inclemente
Trago as asas como nave.
Resistindo o quanto possa,
Tento ser, mesmo diverso,
Quem supera a vera fossa
E produz sentido inverso,
Mas a luta não endossa
E deveras vago eu verso.

136

Talvez seja um impostor,
Talvez não, mas mesmo assim,
Nas entranhas de um amor,
Nunca tive o meu jardim,
Escalando aonde eu for
Acendendo este estopim
Onde a luz provoque a dor,
Eu prossigo e até meu fim.
Esperando alguma chance
De mudar a direção,
Mas no quanto a vida avance
Em total revelação
O meu mundo não alcance
Desbravando o coração.

137

Nas tormentas onde pude
Desenhar conforme a sorte
O que tanto sendo rude
Novamente desconforte,
Procurar a juventude?
Não se vendo qualquer norte
Esboçando esta amplitude
Traduzida pelo corte.
Nada mais me redimisse
Nem talvez a eternidade,
Simplesmente uma tolice
Sem ousar na liberdade
O que a vida contradisse
Não me traz felicidade.

138

Tantos séculos passados
Outros tantos que virão,
Os caminhos degradados
Nesta espúria dimensão
Ventos onde desejados
Sonhos não se moldarão,
Desejasse novos fados,
Noutro rumo e direção.
Mas a sina em vã fortuna
Não permite qualquer luz.
Inda mesmo que reúna
O que possa e me seduz,
A minha alma ora me puna
Desta sorte eu faço jus?

139



Só queria a primavera,
Pelo menos num instante
Ou talvez em nova esfera
Um momento radiante
O que tanto desespera
É saber deste constante
Desenhar em mim tal fera,
Roto mundo, discrepante.
De que vale a vida quando
Nada disso se concebe
O desejo desenhando
Luminosa e bela sebe,
Mas o tempo me nublando
Sol algum busca ou recebe.

140

Escutar quem se já se cala
Nos anseios sem sucesso.
A palavra que avassala
Traduzisse algum progresso.
Mas o tempo toma a sala
E se nega e te confesso,
Preferia uma senzala
Ao cenário onde professo
Meu destino aristocrata
Onde há luz esta alma esconde
Ao não querer mais ouro ou prata
Arvoredo já sem fronde
A verdade me maltrata,
Mesmo sendo eterno Conde.

Nenhum comentário: