341
Mapeio esta sorte
Moldada do nada
E quanto comporte
Gerando a virada
Do tempo onde o norte
Não traga esta alçada
Vestígios do peso
Vergando o costado,
E estando surpreso
Meu mundo calado,
Com certo desprezo
O passo vedado.
Mal posso sentir
O quanto há de vir.
342
Não vejo o que tente
Sequer o cenário
E mesmo descrente
Vagar solitário
Presume o que ausente
Do tempo o sol vário,
Acendo o pavio
E bebo este lume
A luta desfio
E nada presume
Somente o vazio
Em rude costume,
O preço a pagar
Já não há lugar.
343
Não quero o que um dia
Pudesse ir além
Da sorte sombria
Envolto em desdém,
A morte me guia
E nada convém.
O marco feroz
Do que se fez vida,
Ausência de voz
A sorte remida
O canto este algoz
Aumenta a ferida,
E sei do que temo
Em medo supremo.
344
Não tento outro atento
Caminho onde o mundo
Transido no vento
Enquanto aprofundo,
Viver desalento
E sei deste imundo
Cenário vacante
Aonde não veja
O que não garante
Nem mesmo deseja
A luta outro instante
Expressa a peleja
Cansado da guerra
Meu tempo se encerra.
345
Não pude sentir
Sequer qualquer luz
E sem ter porvir
O tanto reduz
O quanto há de vir
E nada produz,
Cerzindo o passado,
O verso se alenta
Canto embolorado
Adentro a tormenta
E bebo o que evado
Em noite sangrenta.
Reparo este engano
Enquanto me dano.
346
Marcando o compasso
Aonde não resta
Sequer menor traço
Da luta funesta
E sei que desfaço
A vida sem festa,
A morte aproxima
Redime os enganos
E sei deste clima
Em dias profanos,
O mundo se estima
Em versos e danos.
Esqueço o que trago,
Apenas o estrago.
347
Não mais quero o canto
Aonde pudera
Vencer desencanto
E sei da insincera
Versão e garanto
O tempo não gera
Sequer o bravio
Momento em tal fúria
O quanto desvio
Traduz a penúria
E neste pavio,
A luta é incúria.
O verso não traz
Sequer mesmo a paz.
348
Resumo do fato
Que possa deixar
E quando constato
Ausente luar
A vida eu retrato
Sem nada escoltar.
Vagar sem sentido
Ou mesmo fronteira
Trazer o que olvido
Quer queira ou não queira
O que dilapido
Aos poucos se esgueira.
Reparo este engano
E sei que me dano.
349
No verso sem rumo
No tempo perverso,
O quanto acostumo
Deveras disperso
E tento este insumo
Enquanto aquém verso,
Esqueço meu tempo
E vivo o vazio,
Onde há passatempo
Não mais desafio
Viver contratempo
Resvala onde o crio.
Navego sem senso
Num mar mero e denso.
350
Marcante vontade
De quem se fez tanto
O quanto em invade
Deveras garanto,
Fatal sanidade,
Expressa este espanto.
O mundo em redoma
Implode o que trago
E sei do que toma
A vida em estrago,
Marcando esta soma,
Enquanto divago.
O preço sonega
A sorte tão cega.
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