301
Já não pude conceber
Outro rumo em minha vida,
A vontade de saber
Desta senda em despedida,
Noutro passo tento ver
A verdade resumida
No caminho entremeado
De momentos mais cruéis,
Velejando sempre ao lado
De quem tenta em carrosséis
Novo rumo desenhado,
Invertendo estes papéis,
O que fora sonhador,
Hoje explode em vão temor.
302
Não se quer saber do fato
Sem sentido e sem proveito
Onde bebo o que constato
Noutro rumo e não aceito
Nem sequer o mais ingrato
Caminhar em ledo pleito,
Nada mais pudesse quando
O meu mundo fora assim,
Outro tempo desenhando
A verdade morta em mim,
O meu sonho desabando
Já traçando o ledo fim,
Nesta estrada sem sentido,
O meu rumo está perdido.
303
Nada mais
Do que quero
Vendavais
Onde espero,
Mas esvais,
Rude e fero.
Ouço o vento
Bebo a porta
E se tento
Sorte morta,
Sem provento
Sonho aborta.
Sigo aquém
Sem ninguém...
304
Meu canto perdido
Nas noites vazias
O tempo cedido
Enquanto querias
O sonho sentido
Nas horas vadias,
Acasos e quedas
Anseios e medo
E quando me enredas
Apenas concedo
As tramas que sedas
Marcando o degredo,
Não pude e talvez
Já nem mesmo crês.
305
O mundo se faz
Da forma cruel,
Aonde o mordaz
Presume tal véu
E matando a paz,
Reduz meu papel,
Encontro o farsante
Além numa esquina
O que se garante
Deveras termina
Matar num instante
E o nada germina,
Na podre semente
O tempo só mente.
306
Versar sobre o canto
Encantos e risos
O passo em quebranto
Vitais e concisos
Os dias; e espanto
Sem crer nos avisos.
O medo prossegue
E nada se faz
Aonde carregue
Ausência de paz,
O mundo sonegue
O sonho ora audaz.
Enquanto prossigo,
Envolto em perigo.
307
Não quero saber
Tampouco se pense
No mundo a perder
O tempo em non sense
Melhor é morrer
Enquanto compense,
Vestindo ironia
Ou mesmo tormento
O quanto viria
Traduz sentimento
E nada teria,
Nem mesmo o que alento.
Arcando com erros,
Somemos desterros.
308
Versificações
Em toques sutis
E quando me expões
O tempo que eu quis
Buscando os verões,
Mera cicatriz.
O medo não traz
Sequer esperança
E sem ter a paz
A vida se lança
No risco mordaz
Em turva pujança
Levantando a lebre
Só resta o casebre.
309
Andei pelas sendas
Das noites vazias
E sei quando estendas
Em tais ironias,
Vencendo estas prendas
E nelas terias
Meu verso cansado
Meu tempo sem nexo,
O quanto ora evado
No fim nada anexo
Somente o cevado
No canto em reflexo,
Nada mais importa,
Em vida tão torta.
310
Bebendo o vazio
Da noite sem rumo,
O quanto esvazio
Do tempo e resumo
Meu mundo em sombrio
Cenário, onde esfumo.
Espero na espreita
Tocaias diversas
E sei quanto aceita
A vida onde versas
Na rua que estreita
Os sonhos, dispersas.
Reparando bem,
Além nada tem.
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