quinta-feira, 31 de março de 2011

401

Banhando aonde a vida
Pudesse num instante
O quanto, revolvida
A sorte não garante
A luta presumida,
O passo deslumbrante
Invisto na partida
De quem já se adiante.
E vedo qualquer luz
Em leda escuridão,
O mundo reproduz
As sortes desde então,
E o quanto me seduz,
Expressa o vago não.

402

Deste vagão perdendo
A luta em tal fastio,
O verso mais horrendo
O tempo sempre frio,
E sei do que colhendo
Apenas desafio
Meu canto num remendo
O tanto ora sombrio.
Espero após o fato
Somente prosseguir
E sei do que constato
E busco resumir
O canto onde retrato
No sonho que há de vir.

403

Visões diversas; tenho
E sei do que pudesse
Ainda num desenho
Envolto no que tece
O mundo enquanto ordenho
Meu canto em rude prece,
O prazo sem empenho
No fim nada merece,
Ousando acreditar
No tempo sem proveito
Tentando adivinhar
O canto insatisfeito
Versando sem parar,
Em vão tento e me deito.

404


Jamais acreditei
No passo sem sentido
E tanto mergulhei
Aonde ora envolvido
Espero em nova grei
Meu canto resumido
E nisto o que terei
Decerto ora duvido,
Encontro tão somente
O que se faz atroz
Cevando esta semente
Colheita rara após
O tempo não desmente
E segue em mansa foz.

405

No reticente passo
No fim de cada dia
O corte aonde traço
O que jamais viria,
Apenas no cansaço
A velha alegoria
Ousando sem espaço
Em dura fantasia,
Esqueço o que provenha
Da luta sem descanso,
E quanto mais contenha
O passo aonde avanço,
O medo se desdenha
E em nada enfim me lanço.

406

Acordo e sem talvez
Ainda ter um canto
O mundo agora vês
Reinando em desencanto
E sei da insensatez
E nada mais garanto
Sequer o que se fez
Em ledo e rude espanto,
O verso se desmembra
E a vida não traduz
O quanto não relembra
E segue em frágil luz
A sorte escassa lembra
Somente desta cruz.

407

Não vejo o que se quer
E quero o não vejo,
Apenas sem qualquer
Vontade, eu vivo em pejo
O tempo que vier
E nele em cada ensejo
O rosto da mulher
Que tanto em vão desejo.
Somente poderia
Ousar noutro tormento,
A vida em agonia
Expressa o sofrimento
E tanto quanto havia
Decerto busco e tento.

408

O peso de uma vida
Sem ter a dimensão
Há tanto proferida
E sempre sendo em vão,
Apresenta a ferida
A fúria em provisão
Do quanto já duvida
A luta em tal senão,
Apresentando o rude
Caminho aonde eu tento
Viver mais do que pude,
Sem ter alheamento,
A sorte desilude,
E sigo contra o vento.

409

Não quero o que se fez
Em lenta sintonia
A vida, estupidez,
O medo não veria,
O mundo aonde vês
O que jamais teria
Senão sem lucidez
Na morte, uma iguaria.
O preço a se pagar
O rumo sem sentido
Vontade de chegar
Aonde mal divido
O passo sem lutar,
O canto em ledo olvido.

410

Não quero o que se faz
Sem tempo de esperança
A vida mais mordaz
O passo não avança
E o peso tão fugaz
Expressa esta lembrança
E sei do quanto traz
Apenas a vingança
Resulto deste caos
E bebo em gole farto,
Os dias sendo maus
O tempo onde comparto,
Invisto em vários graus,
Porém sonego o parto.

Nenhum comentário: