domingo, 27 de março de 2011

121

Eu não sou nenhum bandido
Muito embora a sorte diga
O que tanto eu invalido
Com a história mais antiga
E se vejo resumido
Meu caminho em toda briga
Nada mais terá sentido
Nem tampouco mesmo a viga.
O vagar em noite fria
Canivete, foice e faca
Quando o tempo se esvazia
E a verdade nos ataca
A saudade não traria
Poesia que inda aplaca.

122

Do distante mar que trago
Dentro da alma nada vês
E se tanto num afago
Presumisse noutra vez
O meu mundo onde divago
Pressentisse o que não crês
E se possa e não indago,
Não existe nem talvez.
Assim sendo, companheiro
O que fiz; e pouco importa,
Traz sentido derradeiro
Arrombando a velha porta,
E se andaste no chiqueiro
Alma porca semimorta.

123

Mas não fiz o meu caminho
Nas hordas beligerantes
De tal forma se mesquinho
O meu passo não garantes,
Entre o rumo mais daninho
Outros tantos por instantes
Desenhassem o sozinho
Mundo em cenas degradantes.
Resta pouco e sem defesa
Nada mais posso fazer
Minha vida sem surpresa
O meu canto a se perder
Na verdade em fortaleza
O que pude e tento crer.

124

Nos anseios de um momento
Entre as pedras e espinheiros
Onde busco e mesmo invento
Os cenários verdadeiros
Entregando o peito ao vento
Sou daninha em tais canteiros
E se possa o sentimento
Dias rotos, costumeiros.
Mas talvez o que suporte
Mude o canto enquanto escuto,
E se possa noutro norte
Na verdade não reluto,
Não trouxera qualquer corte
Muito embora em passo bruto.

125

Nas entranhas desta corja
Aprendendo a caminhada
Onde a sorte então se forja
E não deixa quase nada,
Lacerando o que restasse
De um moleque sem destino,
No vazio desenlace
Tempo busco e não domino,
Acrescento ao que vier
Qualquer toque ou mesmo o rumo,
Onde o peso audaz, qualquer
Traça o todo onde resumo
O cenário que puder
Embebido em todo o sumo.

126

Inda quando molecote
O meu passo em sincronia
Onde quer que se denote
Traz decerto e mostraria
O que possa e não se note
Nesta vaga estrebaria,
E sem nada que se anote
Noite invade e volta ao dia.
Resumindo o meu passado
Sem saber sequer do medo,
Onde sigo aliviado
O caminho onde concedo
E se mal-acompanhado
Este foi o meu enredo.

127

Hoje a vida me permite
Trabalhar, embora seja
Informal e sem limite
Todo dia esta peleja
No que tanto necessite
Muito embora mais não veja
O meu passo não evite
E decerto nada almeja,
Sendo assim recolho a sobra
E buscando este alimento
Minha sina se desdobra
Entregando ao duro vento
O que o tempo sempre cobra
Cada dia um novo aumento.

128

Nas ruas onde adormeço
Outra vez pudesse a lua
Transferir este adereço
Que no céu, belo flutua,
Muito mais do que mereço
A beleza deusa nua
Estendendo em recomeço
O que além já continua.
Mas a chuva e a tempestade
Quando vêm nada segura
Na total calamidade
A verdade sendo dura,
Meu caminho sempre invade
E decerto me tortura.

129


Desta forma levo a vida
Como possa e Deus quiser
Na verdade construída
Muito além do que se quer,
Onde traga resumida
Esta face e o que vier,
Presumindo a despedida,
Sem saber um tom qualquer,
Conseqüência do passado
O futuro refletindo,
Onde o tempo desolado,
Também possa ser tão lindo,
O meu canto degradado,
Mansamente se esvaindo.

130

O que dizes, meu amigo,
Na verdade faz sentido,
Onde possa e se me abrigo
Outro rumo eu dilapido,
Cadencio e já nem ligo,
Finjo nem ter mesmo ouvido,
Voz do povo é um perigo,
Disto eu sei e não duvido.
Com porcos; quem se alimenta
Dos farelos também come.
Quando vivo na tormenta
O que sou decerto some,
Mas Jesus Cristo me alenta
Também teve sujo o nome.

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