quarta-feira, 30 de março de 2011

171

Se eu quisesse pelo menos
Num alento ter o brilho
De tais dias mais serenos
Onde apenas mal palmilho,
O que possa em tais venenos
Traça o rumo do andarilho.

Sem saber qualquer descanso,
Sem saber qualquer paragem,
O que tanto num remanso
Traduzisse tal aragem,
O caminho eu não alcanço
E findando esta viagem.

Nada mais se poderia
Transformar em alegria.

172

Sordidez de um ser qualquer
Onde o tempo perde o sumo,
Seja agora o que aprouver
E no fim nada resumo,
Encontrando o quanto houver
Deste mundo enquanto rumo.

Nada tendo em esperança
Nem sequer algum momento
Onde o passo ora se lança
E produz no alheamento
O meu verso ora balança
Entranhado em ledo vento,

Enfrentando o que não veio,
Sem destino, a morte anseio.

173

Ao abrir mão do futuro
Sem saber do que inda reste
O meu mundo eu configuro
De tal modo mais agreste
Que se possa em triste auguro
Vejo apenas o que empeste

Marcas com as garras, presas
A verdade onde pude
Ao vencer as vis surpresas
Transformar em atitude
Ânsias tantas, quando ilesas
No caminho bem mais rude.

Espalhando o tom amargo
Aonde a voz, decerto embargo.

174

Não pudesse de tal forma
Desejar o que não veio,
O meu mundo se conforma
Com o medo em raro anseio
E se possa ter em norma
O caminho em devaneio

Nada mais se vendo após
O que morto salvaria
A verdade mesmo atroz
Reina a cada novo dia,
E se possa mais veloz
Esta vã selvageria.

A incerteza se modula
Envolvida em dor e gula.

175

Não quisera ter além
Do momento mais cruel,
E se o mundo nada tem
O que resta, sempre ao léu
Caminhar sem ter alguém
Neste espaço em ferro e fel.

O meu mundo não procede
Nem o prazo determina
O que tanto a vida enrede
E renegue qualquer mina,
O momento onde se mede
No final já se extermina.

Vestimentas rudes, tendo
O cenário torpe e horrendo.

176

Nada mais se vendo enquanto
O que veja não permite
O meu mundo enquanto canto
A verdade sem limite,
E se possa em desencanto
O meu passo tanto grite.

Vestimentas variadas
Noites vagas, estrelares
E se possas, madrugadas
Entre tantos vis lugares,
As angústias deflagradas
Destroçando teus altares.

Resta apenas a incerteza
Desta morte sobre a mesa.

177


Nada mais pudera ver
Nem tampouco inda queria,
Ao sentir o desprazer
Marco em dor a fantasia,
O meu mundo a se tecer
Gera apenas a agonia.

O meu canto sem refrão
O refrão inutilmente
Estribilha em direção
Ao que possa e mesmo tente
Resumindo a redenção
Na incerteza que se sente,

Ousaria crer na paz,
Mas o tempo não a traz.

178

Comprimidos, morte e gozo,
Nada mais se faz além
Do caminho caprichoso
Onde o mundo nada tem,
E se fosse majestoso
O meu rumo em tal desdém

Nada mais se vendo enquanto
Num equânime caminho
Esperasse o que garanto
Não traduza o ser daninho
E se possa em dor e pranto
Traduzisse cada espinho.

Dos abrolhos que cultivas
As palavras corrosivas.

179

Nada mais se vendo após
O que tanto desejara
A verdade toma a voz
E resgata cada apara
Do que pude e mais feroz,
Noutro canto desprepara.

Versejando sem proveito
O meu mundo não teria
O que possa ser aceito
E sequer a fantasia,
Onde tolo eu já me deito
Vejo a noite mais sombria,

Desta lua nem sinais,
Tão somente os vendavais...

180

Resumindo o que se queira
Sem saber da qualidade
Desta sorte, a derradeira
Que deveras já degrade
A incerteza da ladeira
Traz a queda em realidade,

Ouso apenas no vazio
E não pude ter além
Do que tente em desafio
E no fundo nada tem,
Sem saber o desvario
Meu caminho diz ninguém.

Onde tive a lua em mim,
Mato em fúria este jardim.

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