terça-feira, 29 de março de 2011

31

A verdade não se nega
Nem renega quem a quer
Ponho o sonho nesta adega
Seja lá como puder.
A verdade se carrega
Nas vontades da mulher
Expressão audaz e cega
Onde o dom se faz qualquer,
Na palavra que se tenta
Outro rumo ou mesmo até
O desenho aonde ostenta
O cenário feito em fé,
Enfrentar nova tormenta?
Prosseguindo sempre a pé.

32

Balas cruzam cada céu
E o que fosse uma esperança
Desprezando o seu papel
No vazio ora se lança
O meu mundo em carrossel,
Novamente não avança
E seguindo sempre ao léu
Quem batalha ao fim se cansa.
Revestindo cada noite
Com angústias e tormentas
Onde a vida nos açoite
Tantas vezes não aguentas,
E se possa enquanto acoitei
Ilusões que ora alimentas.

33

Há momentos nesta vida
Que a palavra não se diz,
E se molda outra ferida
Onde o tempo este aprendiz
Rege a sorte em despedida,
Ou decerto contradiz,
Alma morta noutra ermida,
E não sei ser mais feliz,
O marcante sonho invade
E jamais se possa crer
Além desta tempestade
A vontade de viver,
Noutro enredo a claridade
Nem mais tento conceber.


34

Restaurando cada fase
De uma vida sem proveito,
Onde quer e tanto atrase
O momento onde foi feito
O cenário já sem base
E talvez seja direito
Noutro passo o que defase,
Ou moldasse em rude peito.
Nada mais se poderia
Quando a vida disse não,
E se tento em alegria
O que nega vinho e pão
Meu caminho se faria
Na total escuridão.

35

Bebo um gole de cicuta
E se tanto pude crer
Nesta vida que reluta
E não deixa mais se ver
A palavra que ora escuta
Traduzisse o não querer,
Adentrando grota e gruta
Enfurnando o desprazer.
Nas entranhas do Eldorado
O meu tempo não seria
O que tenta do passado
Renovar em dia a dia
Deixo a sorte e sigo ao lado
Da dispersa fantasia.

36

Brava gente? Nada disso
O meu verso se perdeu
Onde tanto o que cobiço
Jamais fora um dia meu,
Meus espinhos, velho ouriço,
Eriçando o quanto ateu
Ansiar foi movediço
E deveras trouxe o breu.
Condizendo com a lavra
Que produza em tal palavra
A incerteza de um futuro,
Não seria e não viesse
O que tento em clara messe,
Mas no fim não asseguro.

37

No viver já sem cuidado
No momento que não pude
Desenhar o doce fado
E tentar a plenitude,
Não seria feito em gado
E se possa e já me ilude,
O momento desejado
Muda sempre de atitude.
Restaurando passo a passo
O que tente e não viera,
O delírio onde me faço
A certeza mais sincera
De quem segue sendo escasso
E não sabe a primavera.


38

Resultado do que influi
Nos meus dias mais sutis
O caminho se reflui
E os meus olhos onde os quis
No conluio aonde rui
O cenário onde desfiz
Se esta vida ora não flui
Vivo apenas cicatriz.
Retenções em ermos fatos,
Ouso até não ter nas mãos,
Nem sequer velhos retratos
Dos ingratos ledos sóis
E se sei dos tantos nãos
Os meus sonhos tu destróis.

39

Não percebo outra saída
E se vejo o que inda resta
Da palavra feita em vida
Da incerteza feita em festa,
A verdade construída
No que tanto ora me empresta
Com a sorte em despedida,
Cada sonho se detesta.
Navegar quando é preciso,
Mas no cais permanecer,
E se tento e me matizo
Dos anseios de um querer
Cada passo sem aviso,
Poderia percorrer.


40


Na verdade o quanto tenho
De uma senda sem proveito
Onde possa e se desdenho
Traço o rumo onde me deito,
E não tendo o desempenho
Vivo dentro do meu peito,
Olho além fechando o cenho
E sei ser algum direito,
Navegando mansamente
Sem saber se existe cais
O momento não desmente
Onde a vida em vão esvais,
No meu canto iridescente,
Nem sequer velhos sinais.

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