segunda-feira, 22 de março de 2010

27303/04/05/06/07/08/09

27303


“Só vejo espuma lívida, em cachões,”
E neles turbulências ditam sortes,
Na ausência do que outrora foram nortes
O que fazer se perco as direções,

E quando a realidade tu me expões
Sem ter quem na verdade te confortes,
Olhando num espelho, vejo as mortes
E nelas talvez nossas salvações.

Esgoto as minhas últimas palavras
Tocando estas daninhas que ora lavras
Permitindo espinhoso este canteiro,

E o canto a quem me entrego em ladainha
Há tanto com certeza nos convinha,
Por ser esteja certa, o derradeiro...

27304


“Na corrente e à mercê dos turbilhões,”
Já não consigo mais vencer quimeras
E sei que tanto queres quanto esperas
De todos os temores, soluções.

E quando se mostraram os verões
Aonde se pensara em primaveras,
Apenas os invernos, frias feras
Que agora sem temores recompões.

As cúpricas folhagens deste outono,
Do medo e do terror ora me adono
E adorno-me somente do granizo.

Esqueço que talvez houvesse um porto,
Já me percebo ausente e semimorto
Seguindo em passo trôpego e impreciso...

27305


“E eu mesmo, com os pés também imersos”
No imenso lamaçal chamado vida,
Há tanto se perdendo distraída,
Deixando para trás meus tristes versos,

E quando em outros rumos vão dispersos
Caminhos onde outrora uma saída
Se via na verdade é vã, perdida,
E nela estão ausentes universos.

Descrevo com terror cada momento
Aonde se mostrasse em desalento
A fúria do vazio em que mergulho.

Aonde imaginara flórea senda
A vida não permite e já desvenda
Somente um espinheiro, um pedregulho...

27306


“Na fuga, no ruir dos universos”
Já não conseguirei saber se outrora
O sol que se demonstra firme, agora
Trouxera raios frágeis e dispersos,

Aonde no passado em vão submersos
Desejos se perderam sem ter hora,
Porquanto noutro porto a paz se ancora,
Calando o que talvez pudesse em versos

Dizer com tal clareza sobre o amor,
Que tanto desejei e sem louvor
Expressa a derradeira luz, mas tento

Viver além do quanto poderia
Saber que mesmo sendo fantasia
Encontro no meu sonho algum alento...


27307

“Levados, como em sonho, entre visões,”
Os dias onde outrora fui feliz,
Enquanto toda a sorte se desdiz,
As dores em terríveis borbotões,

Bebendo as minhas lágrimas expões
Toda a fragilidade e a cicatriz
Que habita dentro da alma, uma infeliz,
Esconde as mais diversas emoções.

Esgarçam-se os meus dias, vagamente,
A sorte sem alento também mente
E tudo não passado de uma farsa.

O quanto imaginara ter nas mãos,
Momentos que não fossem todos vãos,
Nem mesmo uma ilusão finge ou disfarça.

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“arrastados no giro dos tufões,”
Os sonhos se perdendo em pesadelos,
Não pude e nem devia mais contê-los
Sabendo tão ausentes os verões.

E neles as tristezas e aversões
Envolvem minha vida em vãos novelos,
E quando se pudesse percebê-los
Ausentes dos meus olhos, tentações.

Escassas noites feitas em ternura,
E quando a sorte invade e me amargura
Não deixa sequer sombra do que outrora

Já fora uma alegria, agora morta,
Fechando eternamente a minha porta,
Somente a solidão, chega e devora...


27309




“Os que amei, onde estão? Idos, dispersos,”
Não pude nem sequer saber aonde
A sorte benfazeja ora se esconde,
Deixando assim calados os meus versos.

Pudesse ter nos olhos universos,
E o quadro mais feliz. Ninguém responde,
Calado, persistindo inda que eu sonde
Por mundos mais complexos e diversos.

Amores se perdendo em solidão,
Os dias novamente mostrarão
O quanto fora inútil caminhar.

Sozinho sem ter eira nem morada,
A noite que julgara enluarada,
Neblina sonegando este luar...

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