27310
“Hão de abrir um caminho até seu coração”
As garras da ilusão às quais tu te entregaste
A vida em dor imensa expondo tal contraste
Em traiçoeira luz demonstra a podridão
Inerte em cada ser e nele se verão
As marcas mais sutis do medo que entranhaste
Ferrenha tentação aos poucos gera o traste
Que tanto se expusera em tétrica versão.
A morte me sondando encontra tão somente
A fétida impressão do quanto poderia
Em lástimas trazer além desta agonia
O que gerara vã, estúpida semente
Um pária na avenida esgota-se em vazios
Enquanto insanamente adentro podres rios...
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“E minhas unhas, como as garras das Harpias,”
Penetram tua pele expondo esta carcaça
E quando apodrecendo o olhar futuros traça
As noites tão sutis, deveras morrem frias,
O quanto desejara e nada mais terias
Somente o que não vês, o tempo atroz já passa
Deixando tão somente além desta fumaça
Entregue em suas mãos, as mortes que ora crias.
Estúpida quimera, a sorte desairosa
Canteiro em aridez, negando qualquer rosa
Esgota qualquer fonte e mesmo que inda houvesse
Momento mais feliz seria insensatez
Somente na mortalha agora sei que crês
E trazes no vazio, uma oração em prece...
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“Sobre ele pousarei a tíbia e férrea mão;”
Açoitando o quanto em lágrimas se fez
Gerando a podridão e dela a insensatez
Na gélida manhã, meu mundo sendo vão,
Escreve com terror, a negra solidão,
Diversa da que tanto ainda em sonhos vês
A vida não teria, ao menos seus porquês
O resto do que sou jogado em turvo chão.
Alheio caminheiro encontra o descaminho
E mede com temor o quanto me avizinho
Da morte redentora, a pútrida carcaça
Que tanto desejara e agora se percebe
Somente em vil navalha, adentrando esta sebe
Aonde uma esperança, aos poucos se esfumaça...
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“E ao fatigar-me dessas ímpias fantasias,”
Não poderei seguir mesmo contra as marés
Aonde se acorrenta em firmeza os meus pés
Algemando com terror as horas mais esguias
E nelas com astúcia; as mãos aonde guias
Astuciosamente as farpas e as galés,
Deixando para trás, o que pensaram fés
Amarga realidade; em trastes, desfazias.
Esgarça-se a esperança e nada mais percebo
Somente esta aguardente amarga que inda bebo
Expondo a minha face em trágica figura
Enquanto a luz se afasta e a noite me procura
O resto do que fora amante solitário
Esconde-se da luz e segue temerário...
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