domingo, 11 de abril de 2010

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29478

“Sincera e desordenada”
Sorte tanto indulgencia
Quem deveras a alegria
Tantas vezes não diz nada
Se eu pudesse noutro tanto
Geraria novo rito
E se ainda teimo e grito
Por mais forte velho canto
O quebranto muito pode
E transcorre em minhas veias
Quando em fúria me incendeias
Nem a sombra mais me acode
E desvia o rio quando
Outro tempo porfiando.

29479


“Esses, que são de dor”
Nada posso dizer
Se não sei do prazer
Se não sou trovador
Se nada posso ainda
Contra o quanto mais quis
O meu verso no bis
Se nada mais deslinda
Mergulho num abismo
E se tanto não vejo
Pode mesmo o desejo
E ainda sim eu cismo
Vagando contra a luz
Falena; não me opus.

29480


“Quanto aos meus poemas loucos,”
Nada faço nem faria
Se deveras a alegria
Dita dias tanto roucos
Mergulhando no vazio
Navegando insensatez
Tanto quanto ainda crês
Produzindo novo estio
Geração pós geração
Renascendo novo encanto
No que ainda tento e canto
Procurando a direção
Sei da sorte mais atroz
E decerto bebo a foz.

29481


“Que nunca souberam ler”
Os anseios deste povo
E se canto e mesmo aprovo
Os caminhos do saber
Não podia acreditar
No que um dia se fez meu
Meu caminho se perdeu
Noutro rumo a navegar
Das histórias do passado
Dos momentos mais presentes
O que tanto já não sentes
Pode ser o meu legado
Para as sendas do futuro
É por isso que amarguro.

29482

“São para os homens humildes,”
Os desejos da esperança
O meu verso agora alcança
Julietas e Matildes
Margaridas e os Antônios
Tantos outros campesinos
Com diversos vãos destinos
Nos olhares dos campônios
Lavradores, lavradoras
Dos senhores nem sinal,
O meu canto é sempre igual,
Almas puras sonhadoras
O meu verso é para quem
Sabe o que esta dor contém.

29483


“Das contas de outro sofrer,”
Das andanças pela terra
Onde o sol na lua encerra
A beleza sem poder
Sem diversa qualidade
Do que sempre é tal igual
Quando amor diz ritual
Canto sempre à liberdade
Na cidade, vila e campo
No sertão, nas pradarias
Onde estrelas são meus guias
Na esperança agora acampo
E vivendo sem temor,
Socialista, sim senhor!

29484


“E os livros, rosários meus”
São as armas de quem luta
Vencendo esta força bruta
Caminhando a cada adeus
Mortos tenho nesta senda
Na seara mais fecunda
Solidão quando me inunda
A vontade que se atenda
Com terror e com bravura
Sem temor armas expostas
As feridas formam crostas
Na batalha com ternura
Nas clareiras, nos anseios
Sanguinários sem receios.

29485


“Que não acredita em Deus”
Nem nos deuses dos engodos
Os caminhos, digo todos
E não vivo pelos breus
Se eu batalho pela sorte
Se esta luta se bendiz
Coração tanto aprendiz
Procurando sempre um norte
Não temendo algum canhão
Nem tampouco a baioneta
A minha alma se completa
Nesta imensa multidão
Onde a fome dita a guerra
E a justiça não se encerra.

29486

“Ofereço-o àquele amigo”
O meu sangue, minha glória
E decerto esta vitória
Servirá como um abrigo
A quem possa sem temor
Encontrar nesta batalha
Mesmo o fio da navalha
Traduzindo o puro amor,
Caminhando por searas
Mais diversas doloridas
Transformando nossas vidas
Quando em lutas escancaras
O futuro em nossas mãos
Cultivando belos grãos.

29487


“Este meu rosário antigo”
Que carrego no meu peito
Como um sonho insatisfeito
Cada curva outro perigo
Procurando algum apoio
Onde tanto poderia
Perfilar a fantasia
Separar trigo de joio
E seguir em noite mansa
Contra os medos mais atrozes
Pois ouvindo nossas vozes
A esperança nos alcança
E prepara outro momento
Onde cesse este tormento.


29488


“Todo tecido de renda”
Que fizesse com ternura
Quem deveras já procura
Tanto sonho que se atenda
Com sabedoria plena
Com a lucidez da luta
Quem conhece não reluta
Quando a sorte já lhe acena
E ao mudar a caminhada
Pretendendo um novo sol
Dominando este arrebol,
Noutro rum, nova estrada
Traduzindo o socialista
Delirar que já se avista.


29489


“O meu vestido-de-noiva,”
Lua branca em pleno céu
Esperança deixo ao léu
Tendo a sorte como noiva
Quem procura o casamento
Bebe a história e nada teme
Nem o corte que inda algeme
Nem o medo do tormento
Mesmo quando houver tal bruma
Na presença de um vulcão
Liberdade é qual tufão
A batalha não esfuma
Sangue escorre, medo doma,
Não conheço uma redoma.


29490

“Deixo o meu vestido branco,”
Ao amor que tanto quis
E se queres ser feliz
Necessitas ser mais franco
Nada cale a tua voz
Nem o medo nem tortura
Nem tampouco esta amargura
Nem a fera mais atroz
Liberdade é nossa estrela
Nela guio cada passo
O futuro agora traço
Na certeza de contê-la
Rasgo céus no meu corcel
Galopando em fogaréu.

29491


“Sonhando algures uma lenda,”
Aonde tanta luz se faz
O meu caminhar mais audaz
Que a todo teu desejo atenda
Percebendo então cada dia
Como se pudesse sonhar
Muito além do quanto o luar
Traduziria a poesia
Numa tortura e na amargura
Ao vencer com toda certeza
Não encontrará correnteza
Nem tampouco seja a procura
Em vão aquilo que te impeça
Encontrar no sol a promessa.

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