quinta-feira, 15 de abril de 2010

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29824

“Sopeia em si os agros pesadumes;”
Negando alguma luz nesta seara
A vida com terrores se escancara
Deixando para trás cores, perfumes,
E quanto mesmo à dor já te acostumes
A sorte destilando a mais amara
Vontade de beber que se prepara
Em tons diversos, tétricos costumes,
Assisto à derrocada do meu sonho
Num ar que sei deveras tão medonho
E a morte bate assim em minha porta
O quanto poderia ter de paz
A cada amanhecer, bem mais mordaz
Vislumbra uma esperança; há tanto morta...


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“Ó compassiva tarde! Olha-te o escravo,”
Que tenta vislumbrar ainda a lua
Aonde em tom grisalho continua
Num céu tempestuoso, atroz e bravo,
Do quanto poderia e assim já travo
O passo que deveras não flutua
A sorte se mostrando nua e crua
O peso do viver ditando o agravo.
O pendular momento diz do não
Aonde se queria afirmação
A vida em solilóquio se fazendo
E dela nada herdando senão isto
Aonde se pudesse, já desisto,
A morte é o que me resta em dividendo...


29826


“Aquém ficou a angústia que moderas”
Dos passos onde pude imaginar
Ainda houvesse a força de um solar
Momento se expressando em primaveras
E quando se vislumbram as quimeras
Cansado muitas vezes de lutar
Teimoso quando vou desafiar
As hordas dos tormentos que me deras,
Assim ao me entregar nada levando
Senão este agasalho mais nefando
Traçado como fosse uma mortalha
A senda que pensara fosse minha
Agora que da morte se avizinha
Ainda insanamente, enfim, batalha...

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“Recentes gerações vai bafejando”
Aonde a fera imensa produzira
O peso do passado se prefira
Ao quanto se mostrasse bem mais brando
Momento aonde vejo se aprumando
A morte a cada tiro mais retira
A vida se perdendo em torpe mira
E dela nada sei se transformando,
Amar e ser feliz, uma ilusão
E quantas vezes luto contra o não
Do qual não escapara um só segundo,
Seguindo os falsos passos de quem tenta
Vencer com mansidão esta tormenta
Nas ânsias desta dor eu me aprofundo.

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“Já transpôs a montanha, e com seus risos”
A senda descoberta em luz suave
Porquanto ainda mesmo o sonho agrave
Expõe ao sonhador os paraísos,
E tendo acumulado prejuízos
O quanto se percebe em dura trave
E nela a vida em dor ditando a nave
Mergulha nesta insânia mata os sisos,
Arranco dos meus olhos o passado,
Mas quando vejo o fim determinado
Desde o momento atroz em que te vi,
Assisto à derrocada deste empenho
Ainda em ilusões terríveis venho
Sabendo desde sempre o que perdi...


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“Mas da puerícia o gênio prazenteiro”
Legando ao nada apenas o que sou,
Vazio dos meus sonhos me ditou
E dele a cada passo não me esgueiro
Vivesse a mansidão deste canteiro
Aonde uma esperança em vão gerou
Outra esperança atroz e mergulhou
Negando o que cevara um jardineiro,
Risonhos dias, noites mais felizes?
Se a cada amanhecer me contradizes
A tarde não seria diferente,
Assim ao me entregar sem mais batalhas
Encontro as mesmas facas e navalha
E delas esta dor que não se ausente...

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