terça-feira, 13 de abril de 2010

HOMENAGEM A TOBIAS BARRETO

Dois de Julho
Na frente dos belos dias
Que trajam mais viva luz,
Desfilando entre harmonias
No vasto império da cruz,
Passa um dia sublimado,
Qual guerreiro namorado,
Valente, bravo e gentil,
Que traz a glória estampada,
Na face meio embaçada
Pelo alento do fuzil.
Neste dia, sempre novo,
Entre os aplausos do mar,
Entre os ruídos do povo,
Vai a cidade falar...
Atriz majestosa e bela,
Falando só e só ela
Diante de duas nações,
Representa um alto feito,
Que arranca brados do peito
De emudecidos canhões.
1861

TOBIAS BARRETO


1

“De emudecidos canhões”
De momentos mais cruéis
Tantos dias fartos féis
E deveras tu compões
Os anseios mais ferozes
Outros tantos sonhadores
E se tens ainda flores
Posso ouvir as mansas vozes
Prometendo primaveras
Muito além do que me destes
Em tais solos mais agrestes
Tanto quanto ainda esperas
Nas espreitas por momentos
Os terrores, sofrimentos.

2


“Que arranca brados do peito”
Os anseios e os tormentos
E deveras pensamentos
Neles vivo insatisfeito
Ao gerar cada abandono
Ao gerir a tempestade
Cada passo que degrade
Cada vez do quanto adono
Esperança dita o quando
Não pudesse mais sonhar
Tendo além qualquer luar
O meu mundo se moldando
Na mortalha que me resta
Noite amarga e tão funesta.


3

“Representa um alto feito,”
O prazer de quem domina
A verdade em nova sina
O caminho contrafeito
Quem pudesse ter a sorte
De viver felicidade
Mas deveras me degrade
Tanta dor traçando a morte
E o terror a cada passo
Não cabendo mais conforto
Onde houvera um manso porto
Turbulência agora eu traço
Do vazio que sou eu
Tudo há tanto se perdeu.


4


“Diante de duas nações,”
Emoção, razão e medo
O que tanto não concedo
Na verdade não compões
O meu verso mais atroz
A palavra tanto fera
Dela muito aquém se espera
Nem sabendo rio e foz
Mergulhando no vazio
Os penhascos do passado,
A mortalha é meu legado
Cada verso é desafio
Morte feita há tantos anos
E deveras desenganos...


5


“Falando só e só ela”
O que tanto poderia
Quem vivendo a fantasia
Noutro encanto se revela
Mas a sorte é caprichosa
E não deixa que se veja
Todo bem que tanto almeja
Quem conhece espinho e rosa
Sendo assim itinerante
Sendo assim tão destrutiva
Do caminho que se priva
Novo mundo se adiante
E talvez ainda creia
Neste tanto em luz alheia.


6


“Atriz majestosa e bela,”
Lua imensa, sertaneja
Tudo quanto mais deseja
No seu colo já se atrela
Prateando em noite clara
Dominando este horizonte
Bem mais alto ali desponte
Quem decerto de declara
Muito mais do que pensava
Um sobejo caminheiro
Ao se ver em tal luzeiro
Alma nunca sendo escrava
O braseiro da alegria
Tanto quanto se recria.


7


“Vai a cidade falar”
Quem conhece este sertão
E deveras sedução
Espalhando céu e mar
Se provendo do que tanto
Mergulhara noutras eras
E se mais do quanto esperas
Encontrares o meu canto
Com ternura feita em luz
Expressando esta alegria
Tanto amor já se recria
Neste encanto que conduz
Caminheiro em noite imensa
Sempre espera a recompensa.


8


“Entre os ruídos do povo”
As senzalas do passado
Ao se ver já vislumbrado
O que nunca mais de novo
Reprovando cada engano
Dos engodos mais ferozes
Aumentando nossas vozes
Dia calmo e soberano
Não podendo mais colher
Do pomar desta esperança
O meu brado ao não se lança
Tanto mundo a percorrer
E se teimo contra a sorte
Um amor é meu suporte.


9

“Entre os aplausos do mar,”
Muitas vezes naveguei
E se fosse a sorte a lei
Não podia mais sonhar
Viajante do passado
No futuro não concebe
Novo dia em mesma sebe
Sabe tanto o seu legado
E não posso ver o quanto
Não mereço e nem pudera
Sem saber da primavera
Este inverno em desencanto
Universo em desacato
Noutro tempo eu me retrato.

10


“Neste dia, sempre novo,”
Batalhões de sonhos trago
Procurando algum afago
Adentrando assim meu povo
Ao provar ser necessário
Caminhar de peito aberto
Se meus sonhos não deserto
Sigo sendo temerário
E deveras sonhador
Quem se fez quase poeta
Na verdade tendo a meta
Se completa no louvor
Poesia me amortalha,
Mas meu campo de batalha.




11



“Pelo alento do fuzil”
Da mortalha da esperança
Minha voz ora se lança
Desta forma mais sutil
Caminheiro do presente
Procurando no futuro
Algum porto mais seguro
Onde a vida se apascente
Mergulhando no que sou
Esquecendo o mais que fora
Alma sendo sonhadora
Do passado não levou
A medalha da vitória
Nem tampouco quis a glória


12


“Na face meio embaçada”
Nos olhos mais tenebrosos
Dias tanto pavorosos
Dominando cada estrada
Nela vendo outra presença
Que o cansaço dominara
E se sei de cada escada
A mortalha não compensa
Glória é fardo e nada mais
Onde houvera penitência
Só buscando com clemência
Ausência de temporais
Navegando em mar tranqüilo
Esperança enfim desfilo.

13


“Que traz a glória estampada,”
No caminho mais gentil
Tanto quanto se previu
O terror tomando a estrada
Derrocada não transcende
Mais ao quanto poderia
Sorte nova novo dia
Coração à paz atende
E mergulha no que tanto
Se mostrara em ar mais claro
O meu verso em paz declaro
E deveras meu encanto
Se traduz em esperança
Não jamais em nova lança.

14


“Valente, bravo e gentil,”
Esperando um novo dia
Onde a etérea poesia
Abasteça o meu cantil
Não podendo mais sentir
O terror que dominava
Alma livre e não escrava
Do prazer vivo elixir
Esgueirando-se deveras
Não espera nova guerra
E somente já descerra
No poder das primaveras
Dominando o sentimento
Nunca mais quero o tormento.


15


“Qual guerreiro namorado,”
Que conhece o chão mais duro
Na verdade me amarguro
Ao saber do destroçado
Caminhar em noite escusa
E deveras ser assim
O que tanto busco enfim
A saudade não mais cruza
Com terror e com falência
Do que tanto procurei
Na mortalha desta grei
Na procura, numa ausência
Sem saber do quanto pude
Perder minha juventude.

16

“Passa um dia sublimado,”
Em terrores costumeiros
Os meus versos mensageiros
Da esperança, meu legado
Brado feito em luz serena
A saudade do sertão
Lua nova em direção
No caminho que se acena
Pós tempesta dita a sorte
De quem tanto quis a luz
E o Amor que reproduz
Seja sempre o conforte
A medalha da vitória
Já não trama alguma escória.


17


“No vasto império da cruz,”
No temor a cada olhar
Horizonte a se nublar
Ao contrário do que pus
Caminhando com ternura
Nas estradas mais bonitas
Tantas almas tão aflitas
Traduzindo esta amargura
De quem quis felicidade
Nas estâncias do meu chão
E ao saber da podridão
Que deveras nos degrade
Degradando a natureza
No futuro, uma incerteza.


18

“Desfilando entre harmonias”
Caminheiro coração
Encontrando a direção
Que decerto mais querias
Ao saber do quanto posso
Quem não cala, mas consente
O futuro sem presente
Traça o quanto não endosso
Bebo a sorte sem medalha
Sem fuzil e sem rancor
Viver claro e farto amor
Que deveras já se espalha
Conduzindo ao braço forte
O carinho como aporte.


19


“Que trajam mais viva luz,”
Esperança verdejando
Um caminho bem mais brando
Minha sorte reproduz
Vencedor diz da alegria
De sabermos todos bem
E o caminho que convém
Neste amor que ora nos guia
Sem saber de sangue e guerra
Só sabendo do perdão
Nele nossa salvação
Tanta glória amor encerra
E vencer o vencedor,
Ao mostrar o claro amor.

20


“Na frente dos belos dias”
Toda a sorte diz do quanto
Farto amor em raro encanto
Traduzindo as melodias
Que deveras preferias
E com brando manso canto
Um momento em claro manto
Transcrevendo em poesias
Dias mansos, belos sons
Harmonias geram dons
E decerto já se alcança
Com ternura e com carinho
Não posso cantar sozinho
Quando é mote esta esperança!

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