quarta-feira, 14 de abril de 2010

HOMENAGEM A CORSINO FORTES

Girassol
Girassol
Rasga a tua indecisão
E liberta-te.

Vem colar
O teu destino
Ao suspiro
Deste hirto jasmim
Que foge ao vento
Como
Pensamento perdido.

Aderido
Aos teus flancos
Singram navios.

Navios sem mares
Sem rumos
De velas rotas.

Amanheceu!

Orça o teu leme
E entra em mim
Antes que o Sol
Te desoriente
Girassol!


CORSINO FORTES





1

“Girassol”
Roda o tempo
Contratempo?
Um farol
Cata vento
Mergulhando
Dia brando
Desalento?
Nada quero
Nada faço
Novo traço?
Mais sincero
Viva roda
Nunca a poda!

2

“Te desoriente”
Tempo mais atroz
Vida em nova foz
Bebe outra nascente
Singra tempestade
Risca o temporal
Amor sensual
Com calor invade
Gira contra a sorte
Que deveras guia
Mares, fantasia
Tanto que conforte
Sirva na bandeja
O que se azuleja...


3



“Antes que o Sol”
Alvorecer
No desprazer
Noutro arrebol
Se pela fresta
Entrasse luz
Que me seduz
Mesmo funesta
A poesia
Dita razões
E já me expões
Quando sombrias
Noites trazendo
Dia estupendo?




4

“E entra em mim”
Amor tanto
Quanto canto
Diz jardim
Viva sorte
Vivo sonho
Se eu reponho
Já conforte
Trace o rumo
Milhas fartas
Não descartas
Não me esfumo,
Sigo a lua
Bela e nua...


5


“Orça o teu leme”
Barcos além
Saudade vem
E tanto algeme
Se nada teme
O que contém
Assim ninguém
Ainda reme
Em noite fria
Em noite espessa
Pois que se teça
Outra alegria
Aonde a sorte
Já não diz norte...


6

“Amanheceu!”
Noites após
O quão feroz
Em tom ateu
Matasse o quando
Pudesse ser
Se o desprazer
Vai nos guiando
Aonde pude
Sem ter alento
Em sofrimento,
A juventude
Mortalha dita
Sorte maldita...


7


“De velas rotas”
De cenas duras
Não me asseguras
E nem mais brotas
Sonhos dispersos
Dias sutis
Tanto se quis
Outrora em versos
A noite clara
Assim luar
Pude encontrar
No que declara
Amor intenso
Se nele eu penso...


8


“Sem rumos”
Sem meta
Poeta
Em fumos
Diversos
Mordaz
Da paz
Dos versos
Somente
Palavra
A lavra
A semente
Atroz,
Sem voz...


9

“Navios sem mares”
Momentos terríveis
Sem dias plausíveis
Adeus meus luares
Pudesse em pomares
Os frutos possíveis
Dos versos cabíveis
As mortes negares,
Mas quando se vê
O quanto se quis
Agora infeliz
Viver sem por que
Sabendo do fim,
Mortalha em jardim.

10




“Singram navios”
Ternuras: não
Sem direção
Morrem estios
E sem pavios
O que farão
Amor em vão
Dias sombrios?
Negando a sorte
Negando o rumo
Se eu já me esfumo
Quem me comporte?
Apenas isso,
Luar sem viço...

11


“Aos teus flancos”
Meu saveiro
Derradeiro,
Dias brancos?
São meus francos
Por inteiro
Se eu me esgueiro
Nos barrancos
Quedas tantas
Mil cascatas
E desatas
Desencantas
Matas quando
Sonegando...



12


“Aderido”
Corpo é porto
Vivo ou morto
Sem olvido
Da libido
Tão absorto
Se eu reporto
Já vencido
Nada quero
Só teu gozo
Majestoso,
Mas sincero
Já desvenda
Rara senda...

13



“Pensamento perdido”
Nada posso fazer
Encontrar meu prazer
Atiçando a libido
Porto já desvendado
Cais diverso e sobejo
Novamente eu desejo
Reviver o passado
Onde tanto teria
Teu amor junto, aqui
E se tanto perdi,
Noite morre sombria
Coração traiçoeiro
Não esquece o canteiro...



14


“Como”
Fosse
Doce
Domo
Rumo
Claro
Raro
Sumo
Canto
Belo
Selo,
Manto
Lúdico...
Lúbrico!


15

“Que foge ao vento”
Passos além
Quando convém
Tchau! Sofrimento
Bebo este alento
Nele contém
Tanto do bem
Cessa o tormento
Viva esta festa
Tudo o que resta
É me fartar
Da poesia
Amor que se cria
Transcende ao luar!


16


“Deste hirto jasmim”
Da sorte dispersa
Amor quando versa
Domina o jardim,
Assim dentro em mim,
A sorte se imersa
Jamais tão perversa
Recende ao que vim,
Fazer poesia
Tecer alegria
Que a tanto procuro
Amor sem a luz
Ao nada conduz
Num céu tão escuro...


17


“Ao suspiro”
Meu desejo
Se azulejo
Já me atiro
E prefiro
Ser sobejo
Ao lampejo
Que ora miro
Vivo assim
Sempre alerta
Não deserta
Luz que quero
Se sincero
Meu jardim...



18


“O teu destino”
É meu caminho
O teu carinho
Se me fascino
Num desatino
Eu já me alinho
E sou vizinho
Do cristalino
Mundo por onde
Amor se esconde
E traça a sorte
Que me convenha
Segredo e senha
Que já conforte...



19


“Vem colar”
Corpo ao meu
Se perdeu
Sem falar
Ao tocar
Mata o breu
Sendo teu
Meu luar
Nada além
Do que penso
Tanto imenso
Mar contém
Quem a luz
Já conduz.


20


“E liberta-te”
É também sei
Viver a grei
Beleza em arte
Viver à parte
Do que sonhei?
Eu nem pensei
Tolo descarte,
Vagando assim
Sem medo ou dor
Ao me propor
Rego o jardim
Com sonhos tanto
Sem mais quebranto...


21


“Rasga a tua indecisão”
Sem saber de outro caminho
Já não posso mais sozinho
Novos dias mostrarão
Se deveras direção
Pela qual em ti me aninho
Mergulhando com carinho
Eterniza-se um verão
E decerto sendo assim
Nada temo, nem o tempo
Quando encontro contratempo
Tempestade, tudo enfim
Sendo teu já não se teme
Barco segue em firme leme...

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