segunda-feira, 12 de abril de 2010

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29522

“sem a morte recear”
Sem temores, peito aberto
Das algemas me liberto
Moçambique é , pois meu lar,
Navegando ganho o tempo
Servidão? Pois, nunca mais
Enfrentando os temporais
Não mais vejo contratempo,
Portugueses ou romanos
Moçambicano ou judeu
Novo canto conheceu
Libertários nossos planos,
Pescadores e poetas
Reis, quilombos; sonhos, metas.

29523


“ando entregue ao vento e às ondas”
Ninguém cala o sonhador,
Tantas vezes medo e dor,
Nunca mais o canto escondas
Nas senzalas do passado,
Na miséria em fome tanta,
Liberdade se agiganta
Ouço dela o forte brado
Africano coração
Terra bela, tropical,
Esperança toma a nau
E concebe a direção
Se dos sonhos tenho sede
Nas palavras teço a rede.


29524


“sempre longe do meu lar,”
O meu povo em voz sofrida
Renascendo nova vida
Nela posso até sonhar
Decifrando este futuro
Com lições do meu passado,
Tendo agora vislumbrado
Porto firme tão seguro
Nada impede o meu caminho
Nem tampouco o mar imenso
E se tanto me convenço
Neste sonho ora me aninho,
Liberdade, liberdade!
Que mais alto o peito brade!


29525


“em frágil casquinha leve,”
Em jangadas nordestinas
Se deveras desatinas
Que a esperança sempre leve
Muito mais do que pensava
Quem decerto conheceu
Este canto, teu e meu,
Nunca mais uma alma escrava
Tendo aberto este oceano
Pescador atinge além
E se o canto já contém
Não comete desengano
Vai singrando este horizonte
Até onde o sonho aponte.

29526

“à preguiça não as dou;”
Nem tampouco mais daria
Tendo em mim a poesia
Meu caminho se mostrou
Bem mais calmo e mais suave
Navegando em águas claras
E se tanta dor declaras
Sem ter nada que se agrave
Dores fartas noutros tempos
Esperança verdejando
Este dia bem mais brando
Ao vencer os contratempos
Vai gerando esta esperança
Nela o sonho a voz alcança.


29527

“se ao repouso marco as horas”
E jamais me entregaria
Tendo a voz da poesia
Nela os sonhos, pois, decoras
Percebendo quão é belo
O caminho de quem ama
Ao manter decerto a chama,
Novo encanto eu te revelo
E fazendo deste verso
O que tanto se fez meu,
O meu canto conheceu
Senso tanto e mais diverso
Expressando esta beleza
Vence sempre a correnteza.


29528


“eis que junto à praia estou;”
Depois de farta procela
O meu canto agora sela
O que tanto procurou
Poesia dita o sonho
O meu sonho dita a senda
Onde bem maior se atenda
Este quanto já proponho
Ao cevar o meu caminho
Nesta aurora boreal
O meu rumo, minha nau,
Da verdade me avizinho
Ao pescar cada emoção
A palavra é meu timão.


29529


“Antes que o sol se levante”
Percorrendo em mar bravio
O temor eu desafio
Tenho um sonho fascinante
Poesia é minha senda
Interroga-se este anzol
Arquipélago ou atol
Na vontade que se acenda
De viver a liberdade
E saber da maravilha
Coração seguindo a trilha
Deste tanto que me invade
Sou poeta e pescador,
Nas tempestas de um amor.


29530


“nunca outro mister busquei”
E nem mesmo se eu quisesse
Poesia dita a messe
Cada verso traça a lei
E se tanto quanto posso
Caminhar em luz tranqüila
A minha alma já desfila
Neste encanto meu e nosso
Venço toda tempestade
Não conheço mais temor
E se tento me propor
Não suporto qualquer grade,
Quando vejo o imenso mar,
Cada verso a me tomar.


29531


“a pesca me dá sustento,”
Coração ditando a norma
A verdade não deforma
Nem tampouco me apascento,
Mas se tenho o sonho eu vejo
Muito além e sigo em paz,
A vontade mais audaz
Completando o meu desejo
Sem temores, vou liberto
Singro mares, ganho céus
E coberto por tais véus
Não encontro um só deserto
Renascendo aonde quero,
Mesmo em sonhos sou sincero.


29532


“e no mar sempre vaguei;”
Sem temer qualquer tempesta
Ao abrir no peito a fresta
Tanto sonho enfim cevei
E se mostro a cada instante
A verdade ou mesmo um pouco,
Sem o verso me treslouco
Meu caminho se adiante
Na palavra que traduz
O que tanto se queria
Bebo em fonte a poesia
E transpiro em farta luz,
Assistindo desde então
Os momentos que virão.


29533


“é a cor que tenho em mim;”
O negro de minha pele
Tanto sonho que revele
A beleza de onde vim,
Das vergastas e dos medos
Dos medonhos dias traços
E se adentro novos laços
Deles bebo os seus segredos
Dos enredos que proponho
Das palavras que profiro
Sem senzala faca ou tiro
Só nas mãos mantendo o sonho,
Ninguém pode mais conter
O mais belo amanhecer!


29534


“a cor negra que eles tinham”
Como fosse marca rude,
Muito mais do que bem pude
Novos dias nos convinham
Galopando em martes tantos
Sem saber de qualquer medo
Nesta rede em que concedo
Os meus dias sem quebrantos
Vendo enfim nascer o sol
Dominando este cenário
Navegar é necessário
O meu mundo diz do anzol
E se tanto ainda luto,
Já rasguei há muito o luto.


29535


“de pais humildes provim”
Pescador por profissão
Tendo em mim tanta emoção
Cada sonho, um estopim
Ao me ver em mar distante
Nada temo, nem a morte,
Neste tanto que comporte,
Minha força se agigante
O poeta do poetas
Sendo também sonhador
Escolheu no pescador
As pessoas prediletas
E deveras com perdão
Dominou sempre o timão.


29536


“Eu nasci em Moçambique,”
Africano pescador
Entre medo, risco e dor
O meu barco quase a pique
Navegando em mar azul
Nestes tantos corações
Quando em várias direções
Norte, leste, oeste ou sul
Percebi quanto se deve
Com a força deste sonho,
Ao vencer temor medonho
Uma alma que seja leve
Entranhando este universo
Com a força em cada verso.

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