terça-feira, 13 de abril de 2010

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29655

“ficou-me longe o termo da jornada”
Embora não descanse um só segundo
Do quanto nada tenho se me inundo
Depois de certo tempo tenho o nada?
Assim o que fazer do velho canto
E dele refazer nova esperança?
Ao longe cada passo não alcança
Deveras o que quero e busco tanto
Servindo como fosse qualquer veste
Mortalha diz do luto e não da vida
Portanto ao ver a escada destruída
Apenas o final já me reveste
E sinto o quanto pude, mas não vi
E assim voltando o tempo estou aqui.


29656


“consegui, afinal, haver subido:”
Degraus entre degraus e nada além
Enquanto a realidade inda não vem,
O quanto imaginara ser infindo
Apenas indicando qualquer ponto
Aquém do que pensara ou mais quisera
A vida se prepara e a primavera
Deixada para trás, nem mais desconto
Vencido sem saber se ainda resta
Alguma luz após os temporais
Ausente dos meus olhos qualquer cais
Realidade assim, sempre funesta
Espúrio caminheiro do vazio
O tanto que desejo? Só porfio.


29657


“Hoje vejo, porém, que quase nada”
Do quanto desejei ainda tenho,
Porquanto valeria algum empenho
Se a sorte há muito tempo abandonada?
Risonho mundo feito em flórea luz
Anseio pelo quanto ainda pude
E vendo tão distante a juventude
Somente esta mortalha me conduz
Mesquinharia é fato, nada além
Do todo que pensara mais freqüente
E quanto dos meus sonhos já se ausente
Apenas o vazio me contém
Retorno à casa velha, este sobrado
Há tanto que bem sei abandonado.


29658


“de um grande bem, raríssimo atingido”
Ao grande abismo um salto e nada mais,
Assim ao transcorrem rituais
O tempo do presente revolvido
Nas ânsias do futuro, o que não há
Nem mesmo se pudesse inda haveria
A roda da fortuna, a fantasia
E tudo desabando aqui ou lá,
Assisto ao meu momento crucial
E sinto que jamais resistirei
Do quanto nada tenho nem terei
A morte se mostrando triunfal,
Risonha tempestade me domina
Secando desde agora qualquer mina.



29659


“que nos conduz à estância desejada”
O sonho quanto muito nos ajuda
E tendo a sorte grande ou tão miúda
A muda pode dar em tudo ou nada,
Vestindo esta ilusão sobeja e farta
Ao mesmo tempo a luz que me inebria
Deveras pode ser a da agonia
A vida tantas vezes me descarta
Jogando pelas ruas o meu sonho
E nada pode ser pior que o vão
E tanto me acostumo à negação
Sabendo deste tanto que em medonho
Ar posso desfrutar somente o quando
Há tempos me procuro, disfarçando.



29660


“Essa escada de mármore polido”
Apenas não traduz realidade
O tanto que deveras já me agrade
Morrendo em qualquer canto, ou destruído
Não pude controlar a minha voz
Nem mesmo poderia, pois decerto
O rumo se mostrando mais deserto
Traduz o que se fez cruel e atroz
Corroído caminho aonde outrora
Vivera com ternura, mas se vê
Apenas essa face démodé
E dela nem o resto me decora,
Mordaz e mesmo assim ainda tento,
Sabendo no final, o esquecimento.


29661


“Julguei da vida haver galgado a escada,”
Aonde perfilara uma esperança
Apenas a nefasta e degradada
Imagem decomposta ainda alcança
Quem sabe tantas vezes renegada
Ainda com a sorte uma aliança
E a morte se trazendo neste nada
Ao qual olhar espúrio enfim se lança
Capenga coração já decifrando
Momento onde talvez pudesse ter
Ao menos um segundo de prazer
E nele se desnuda assim nefando
Nevascas dentro em mim? Cruéis tormentos
E delas aumentando os sofrimentos

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