terça-feira, 13 de abril de 2010

29668/69/70/71/72/73

29668


“dos sonhos dos cansados lavradores,”
Justiça social, sol para todos
E quando se percebe a vida em lodos
Somente desfrutando desamores
E deles se porfia uma esperança
Diversa da que sempre se apresenta
A vida não sonega esta tormenta
Enquanto no vazio já se lança
A lança penetrando em minha pele
Rasgando cada parte deste sonho
Figura de um passado tão medonho
Na sorte desairosa se repele
E tudo o que vivi não poderia
Senão trazer ao fim mera agonia...


29669


“Fuljo — branco de neve nas alturas”
Rolando sobre montes, cordilheiras
E tanto quanto vês ainda queiras
Belezas em suaves formosuras
Ascendo ao quanto pude e nada tenho
Mergulho neste vão que dita a vida,
E quando a sorte vejo enfim perdida
Fechando com rancor, a face e o cenho,
Vestindo esta ilusão nada restara
Nem mesmo a lua plena sertaneja
Além do que decerto já se almeja
A Diva reina inteira, plena e clara,
Mas tanto poderia e nada diz,
Do amor felicidade? Em mim é gris...

29670


“neve toda a alma verde do sertão”
Tomada pela essência divinal
Da lua em seu sublime ritual
Traçando com ternura esta visão,
E tanto poderia ser assim
A vida de quem luta o tempo inteiro
A sorte se emoldura no canteiro,
Mas a aridez destrói qualquer jardim,
Nefasta realidade em bala e espreita
O corte se aprofunda e já profana
Uma alma que pudesse soberana
Agora no vazio se deleita?
Não pude desvendar esta incerteza
E o mundo se perdendo em correnteza.


29671


“ouro de neve branca, de bendita”
Extrema maravilha em noite imensa
E quanto mais na lua já se pensa
A sorte novo rumo nunca dita,
E quando mergulhar neste abandono
Devastação tomando esta seara
O peso do viver já se declara
E o corte do meu sonho, tira o sono,
Escravo novamente do que tanto
Pudesse imaginar bem diferente
Sem ter sequer o encanto que apascente
O mundo se cobrindo em turvo manto,
Brumosa noite mata a lua cheia
A fúria do não ser já me incendeia.


29672


“do caipira, ouro feito de algodão,”
Jorrando nesta noite caprichosa
Uma alma regozija, sonha e goza
Tomando com firmeza este timão,
Mas nada do que fora mais sublime
Ainda permanece no horizonte
Porquanto a lua bela já desponte
A velha sensação de dor e crime,
Mortalha da injustiça toma tudo
E tendo esta certeza não reluto,
O quanto poderia ser sem luto
Eu sei de tal alvura e não me iludo,
Retalham-se momentos do passado
E o quanto do futuro desolado...


29673


“Ouro branco, esperança da alma aflita”
Não pude discernir tanta beleza
Se toda a sorte morre, fosse presa
Da vida que deveras tanto grita
E molda novo tempo mesmo aonde
O mundo não se mostre diferente
O quanto do calor já se freqüente
Enquanto a treva chega e tudo esconde,
Mergulho sem sentido no que fora
Somente algum resquício de uma vida,
E agora se percebe tão sofrida
Aonde poderia sonhadora,
Da lua esta mortalha em lutos feita
Enquanto a poesia ao léu se deita...

Nenhum comentário: