quinta-feira, 15 de abril de 2010

29817/18/19/20/21/22/23

29817

“A alma em mágico sonho embevecida”
Vasculha cada canto do que fora
Apenas uma imagem tentadora
E agora vai tomando a minha vida
Audácia traduzindo uma saída
Diverso do que tanto em sofredora
Face já se mostrara redentora
E sei que há tanto tempo está perdida,
Assisto ao meu momento terminal
Enfrento os temporais e deles vejo
Além do que pensara o meu desejo
Momento em que na ausência de degrau
Escalo meus anseios, sinto abismo
E em tais beirais atrozes, inda cismo...


29818

“Tudo em cadência harmônica lhe rouba”
Meu sonho em luzes feitas, hoje morto
O tempo sonegando qualquer porto,
Qual fosse algum leão sem garra e juba
Assim ao caminhar em noite escusa
A morte se aproxima do poeta
E a vida aonde fosse mais dileta
Dos erros, dos enganos vis, abusa.
E sendo um andarilho sem destino
Amortalhada senda é o que inda resta
Uma alma em tenebrosa voz funesta
A cada novo engodo, desatino,
E sinto a sorte em voz já procelária
Encontro na esperança uma adversária.

29819

“Zunindo o vento, murmurando as sombras,”
Enquanto não relutas e maltratas
Searas dos meus sonhos tão ingratas
Mergulham no vazio em que me assombras,
E tanto poderia ser feliz
Na ausência do terror que agora rege
O mundo sem destino; eu perco a sege
E a própria realidade contradiz
O sonho mais audaz, há tanto tempo
Imerso no vazio que legaste
Uma esperança atua e em tal contraste
Perece a cada novo contratempo,
Espúria fantasia, ledo engano,
O mundo se desvia noutro plano...


29820


“Da ave o gorjeio, o trépido regato,”
Assistem ao meu fim e nada sei
Do quanto poderia noutra grei
Se em mera fantasia eu me retrato,
Vencer os dissabores? Ledo fato
Vagando pelo quanto mergulhei
Não posso caminhar se decifrei
O medo pelo qual um mundo ingrato
Expressa este vazio pelo qual
O quanto se podia em magistral
Momento nada esboça e dita o fim,
Encontro esta brumosa tarde aonde
Uma esperança tola já se esconde
E seco, vejo sempre o meu jardim...


29821


“Lá te aguardava; e o eco da floresta,”
Ressoa dentro em nós, meros poetas
E quando a fantasia tu deletas
Apenas a verdade atroz me resta,
E assim ao me saber sem eira ou beira
Disperso cada passo rumo ao nada,
E tanto poderia quanto agrada
Sonhar com nova senda que se queira
Ausente dos meus dias tal momento
E nele sendo audaz, ainda quero
Fazendo deste sonho o mais sincero
Saber aonde existe algum alento,
Sofrido caminheiro do passado,
Apenas a mortalha é meu legado...


29822


“Quando, tão livre! o filho do deserto”
Seguindo por savanas, ritos vários
E nelas passos loucos, temerários
Deixando a solidão sempre por perto
O quanto poderia ter aberto
Caminhos que bem sei são necessários
E os dias não seriam tais falsários
Nem mesmo contra a fúria assim me alerto,
E tanto quis diversa mansidão
Sabendo das mortalhas que virão
Na caça sendo a presa, de um amor,
O mundo se mostrando em tom sombrio
Por vezes meu destino desafio,
Mas sinto como herança tal terror.


29823


“Ao som dos ferros o instrumento rude”
Brandindo em tempestades mais cruéis
E delas se percebem carrosséis
Deixando no passado a juventude
E quantas vezes luto e mesmo pude
Sentir este amargor da vida em féis
E nele em tantos brados, decibéis
Fazendo com que o passo enfim se mude,
Nesta atitude vejo a derrocada
Do quanto quis em mim outra fornada
De sonhos em momentos mais gentis
Apenas o vazio se recria
Aonde poderia a fantasia
E o mundo novamente, não mais quis...

Nenhum comentário: