segunda-feira, 12 de abril de 2010

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29537

“Creio que sem querer fui eu quem libertou”
O canto onde talvez pudesse ainda crer
No dia que virá em raro amanhecer
Mudando a direção do quanto ainda sou,
Mergulho neste mar imenso e nada vejo
Somente o meu passado imerso em tanta dor,
E quem se faz assim em mundo encantador
Não sabe da alegria ao menos um lampejo
Poeta se pudesse em tantos temporais
Vencer o descaminho e crer em novo dia,
Mas como se eu bem sei assim, a poesia
Enquanto dita o rumo esconde mesmo o cais.
Pudesse, quem me dera a sorte bem diversa
Daquela que ora encontro e sobre a qual se versa.

29538


“ Tudo o que se encontrava em sua alma guardado,”
O medo do não ser e tanto não pudesse
Quem sabe crer no sonho e dele faz a prece
Esconde a cada tempo o dia em duro fado,
Vencida pela angústia e quanto mais tentei
Não pude acreditar sequer num horizonte
Olhando para quando o jamais nunca aponte
Apenas o vazio ainda dita a lei
E dele não escapo e todo o meu futuro
Não pode ter nem mesmo a sombra do que agora
A cada novo dia, em palidez se aflora
Quem dera ter um cais, um porto mais seguro,
Sentindo a tempestade, imersa na procela
O quanto em mar imenso, o sonho não revela...


29539


“ E tudo de mordaz, vencido, mutilado,”
Não pode mais trazer o quanto se tentava
Se eu sei que me perdi, imersa em tanta lava
O amor não traduzido ainda dá o recado
E sendo assim quem sabe algoz de cada sonho,
Servindo a quem tentei amar e não podia
Aonde se criara a luz de um novo dia
Apenas o bizarro, apenas o medonho.
Descrevo com terror o quanto ainda aguarde
Aquela que se fez amante além da vida,
A morte não trouxesse em si a despedida
Quem sabe dela mesma o quanto, ainda tarde
Não seja finalmente o todo que eu anseio
Não posso mais negar, quem sabe único veio...


29540


“Uma funda amargura, e na sombra chorou”
Quem tantas vezes teve a sorte em vã desdita
E quanto mais reluta, eu sei tanto acredita
No tempo mais feroz, e tudo o que restou
Somente o frio intenso e dele o medo imenso
Saber do quanto tive e nada mais terei,
Saber do quanto fui e nada mais serei,
Decerto o descaminho aonde me convenço
Do medo tão feroz e dele o nada após
A voz se cala e a morte ao menos apazigua
A vida de quem sonha ao ser por certo exígua
Expressa a cada verso o mundo, frio algoz,
Servindo de mortalha aos meus delírios tento
Inutilmente mesmo apenas um alento...


29541


“De enfim se liberar, mas ao subir-lhe ao seio”
O medo mais feroz de quem tanto sonhara
A vida quando atroz esboça cada escara
E nela se encontrando a sorte perde o veio,
Estardalhaço tanto, espúria desventura
A mão que acaricia a mesma apedrejando
O riso de esperança um ar tanto nefando
Assim o meu caminho em vão já se perdura,
Singrando o nada ter e mesmo quando quero
O tanto se mostrasse aquém do que podia,
Somente me restando a voz da poesia,
O tempo se moldando em ar terrível, fero
Mantendo tão somente o quanto ainda resta
Deixando esta sombria amargura funesta.

29542

“Às vezes minha mãe terá sentido o anseio”
De ter se percebido assim também perdida
E nisto como pode, enfim ser parecida
A vida que se foi e aquela que ora veio,
Idêntico caminho, o manto em tez sombria
A fúria do viver, o medo do futuro,
A corda arrebentada aonde quis seguro
O rumo feito em dor e dela se recria
A própria ingratidão, medonha realidade
E tanto vejo assim o quanto nunca fora,
A sorte desvendada, uma alma sonhadora
Enquanto se porfia aos poucos se degrade,
Quem sabe noutro mar, imenso claro e então
A morte seja enfim, a melhor solução.


29543


“Em meu materno lar. Ah, sim, bem pode ser”
Um rumo tão diverso ao qual eu relutava,
Mas quando se percebe uma onda enorme e brava
O quanto poderia e sem ter nada a haver
Esgota-se a verdade e teimo contra o rumo
Sabendo ser venal o pouco que inda tenho,
Por mais que tanto lute e neste farto empenho,
Aos poucos na sangria em dor eu já me esfumo,
Esgarça-se a palavra e tudo o que trouxesse
Aquém do quanto tento e mesmo em desabrigo
Porquanto sonhadora, às vezes eu prossigo,
E sei do desafio, e dele o nada tece
Perdidamente insana, a vida se perdendo
E quanto inda tentasse, ausente dividendo...

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