terça-feira, 13 de abril de 2010

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29590


“Uma parte de mim é só vertigem”
Mergulho em precipício, vago tombo
E quando qualquer mundo ainda arrombo
Não levo do passado nem fuligem,
E tanto se pudesse noutro tanto
Viver em carrosséis dores e risos
Talvez fossem menores prejuízos
Quem sabe na verdade ou nada canto,
E tento disfarçar em voz macia
Ou mesmo na calada se inda resta
A face do não ser torpe e funesta
Do quanto tantas vezes poderia,
E assim dicotomia em tons diversos
O mundo cabe inteiro nos meus versos...


29591


“outra parte se sabe de repente”
Do quanto não podia, mas atento
E se prossigo mesmo contra o vento
Não deixo que este nada se apresente
Apascentando o quando se pressente
Do verso feito em dor e sofrimento
Ou quando noutro verso busco alento
O quarto se tornando florescente,
Alheio ao que pudesse num instante
Sou vago enquanto vago pelo não
E tendo esta real transformação
Mergulho dentre em mim criando abismo
E sangro até poder já me fartar
Aonde não pudesse te encontrar
Surpreso com mim mesmo, ainda cismo.


29592

“Uma parte de mim é permanente”
E nela me transporto em passo firme
Por tanto quanto ainda se confirme
Deveras nada além mais se pressente
E quando da verdade já se ausente
O mundo que talvez a sorte firme,
Sem nada do contrário, reafirme
E assim sigo constante e sem repente,
Assíduo companheiro do mim mesmo
Em poucas variantes me ensimesmo
E sem saber do quando poderia
Exato como fosse bem mais prático
O rosto de um exausto matemático
Expressa o que jamais diz fantasia...


29593


“outra parte se espanta”
Com esse meu retrato
Por vezes me maltrato
Enquanto em fúria tanta
Degenerando encanta
Regenerando mato
E tanto quanto fato
O pouco se quebranta
A sorte desairosa
A rosa por consorte
A morte a cada instante
Instante noutro quase
E sigo cada fase
Num ritmo galopante.

29594


“Uma parte de mim almoça e janta:”
Enquanto se enfastia já burguesa
Sentada ao esperar a sobremesa
A fome se expressando em força tanta
O quanto do vazio dita a manta
A vida sem sequer saber surpresa
Do quanto poderia não sei presa
Do quanto não se pode e se adianta.
Pacífico deveras cidadão
No nada vejo apenas negação
Prevejo dia sim, começo e meio,
Sem nada que inda possa transformar
O sol redime o frágil do luar,
Mas tanto se divirjo, enfim receio.


29595

“outra parte delira”
Navega noutros mares
E busca por luares
Bebendo assim a lira
E quanto mais se atira
Enfrenta os procurares
E quanto diz altares
Expressa falhas miras
Vagando em tempestade
Porquanto quer e brade
Insossegado ser
Se não posso voar
Aonde me encontrar
Se tudo posso ver?


29596



“Uma parte de mim pesa, pondera”
E quando se pensando mais audaz
Deveras o caminho se desfaz
Não vejo numa esquina nova fera
E tanto se pudesse em primavera,
Porém se há flor ou não, já tanto faz
O passo nunca foi feliz, mordaz,
Eu sei de onde provenho e o que me espera,
Assisto ao mesmo fato, este espetáculo
A vida não precisa de um oráculo
Repito a velha estrada em ar comum,
O quanto poderia ser além
No todo feito em nada que contém
Ao fim dos sonhos, vejo, então, nenhum.

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