terça-feira, 13 de abril de 2010

29604/05/06/07/08/09/10

29604

“que poder ter em vós minha homicida”
Não quero e nem tampouco se permite
Vivendo muito aquém de algum limite
Seguindo sempre rumo à despedida
Do inglório caminhar de quem pensara
A sorte ser diversa do que agora
Aflora-se no medo aonde ancora
O barco se perdendo em vã seara,
Assemelhando sempre ao quanto pude
Vencido por grilhões em outros mares,
E tanto não pudessem meus altares
Deixando para trás a juventude
E vendo-vos decerto pude ver
Retrato do que dita o desprazer.

29605

“maior glória de pena já não peço”
Tampouco se faria para quem
Da vida em voz ativa seguem aquém
Sabendo cada vez mais do tropeço
E tanto não se mostra noutra face
O verso se inundando do vazio
Mesquinha a fantasia em que me guio
Gerando a cada tempo novo impasse
Peçonhas tão comuns, e delas fujo
Não pude e nem decerto ainda creio
No quanto se mostrasse em tom alheio
Se o passo já moldasse um ar mais sujo
Medonhas faces ditam o meu medo
Enquanto ao mesmo não, tanto concedo.


29606

“porque sendo-me vós a matadora,”
Não pude acreditar em melhor sorte
Sem ter quem na verdade me suporte
A sorte noutro tanto já se fora
Metáforas geradas pela atroz
Necessidade espúria de seguir
E tento sem fortuna algum porvir
Gerando com ternura a minha voz,
Escrevo com carinho, mas sei bem
Do quanto nada serve algum alento
E tanto quanto posso me atormento
Sabendo do vazio que inda vem,
O mundo sem saber de algum por que
Enquanto o corte adentra e ninguém vê.

29607


“se isto que ora padeço é morte ou vida:”
Não posso discernir e nem pretendo
O passo se negando ao dividendo
Enquanto mesmo vejo o tanto acida,
Esgarço-me no vago do não ser
E meço com palavras meu caminho
Por vezes no passado ainda aninho
Sabendo do presente em desprazer
Nefanda realidade, mundo atroz
Audazes; outras fases. Nada vejo
O tanto se mostrasse do lampejo
Aonde o meu caminho perde a foz,
A voz já não permite outra saída
A morte se traçando dita a vida.


29608


“e que saiba eu de vós, por quem pereço,”
Se nada ainda pude ou poderia
O quanto se demora a fantasia
Não sabe a ventura um endereço
E verso sobre a vossa luz embora
Eu tente mesmo em vão nova certeza
Seguindo contra a imensa correnteza
A morte a cada verso mais aflora
E teimo por saber outro momento
Onde pudesse ver nova esperança,
Porém a vida em fúria não avança
E sempre que me vejo, eu me atormento
Mortalha do que fomos se apresenta
A morte não seria uma tormenta?

29609


“Mostrai-me este segredo já, senhora,”
Se eu vejo muito aquém do que procuro
Do tanto que pudesse e sei escuro
O quadro aonde a morte revigora
No vento do passado sigo imerso
E nada pode mesmo trazer luz
Se o verso noutro verso reproduz
Sentido sem o qual nada é diverso
Do pouco que me resta ou restaria
Não vago sobre os mares do presente
E quanto mais o nada se pressente
Ao menos não se vê a alegoria
E tendo o nada além sou muito menos
Do que pensara em dias mais serenos.


29610


“com morte dolorosa, em mil maneiras”
Atrozes violentas noites vãs
E delas não se vêm outras manhãs
Persisto muito aquém das lisonjeiras
Facetas onde tanto não espelho
E gero-me do todo que gestasse
Na vida demonstrando nova face
Sentindo o quanto pude me aconselho
E vivo cada passo por viver
Sentindo o desmantelo deste todo
E sobra-me deveras mero lodo
E nele me aprofundo sem saber
Dos charcos onde a vida segue em vão
E deles novos charcos moldarão.

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