29812
“Trouxe-o primeiro o fado. Em mar e em terra”
O medo de seguir contra a torrente
E nela todo o não atroz se sente
Enquanto uma esperança já se encerra
Mundana sorte dita este caminho
Ausência de ternura, morte em vida
E quanto se percebe sem saída
O quanto poderia mais sozinho,
Vencido pela angústia nada tendo
Ao menos poderia crer no fato
Diverso deste quando eu me retrato
Ocaso de um viver que se perdendo
Não gera outra semente e chega ao fim
Deixando desolado este jardim...
29813
“A avidez do colono, empresa grata”
Cevando com ternura em mansidão
Mantendo esperançosa plantação
Assim em tal desejo se arrebata
O sonho mais audaz que poderia
Gerindo cada passo rumo ao tanto
Aonde se tentasse novo manto
Tecido pelas mãos da fantasia,
A vida não permite que se creia
Nas variantes todas de um amor,
Podendo ser quem sabe o agricultor
Que tanto produzira mesmo à meia
E assim ao se fazer em nova senda
Desejo de quem sonha já se atenda...
29814
“Fiz que as vizinhas lavras contentassem”
Com toda esta certeza que se trama
Aonde se pensara em charco e lama
Momentos mais felizes se cevassem,
Assolam-me vontades mais audazes
E delas a colheita é garantida
Ao renascer em mim o bom da vida
No quanto ainda em luzes tu me trazes,
Descreve-se noctâmbulo caminho
Aonde por dever eu me alinhava,
A vida não se vê nem serva, escrava
Se em teus dias melhores já me alinho,
Assim não se derrota quem porfia
Usando como esgrima a poesia.
29815
“Rudes canções, e egresso das florestas,”
Vagando pelas ânsias do que posso,
O amor que tantas vezes cri ser nosso
Agora em novos rumos, tu já gestas
Vencido pela angústia nada sinto
Somente esta vontade de esquecer
Aonde poderia amanhecer
O sol há tantos anos quase extinto
Neblinas decorando este horizonte
Grisalho este caminho em que me perco,
As sortes mais atrozes fecham cerco
Sem ter qualquer saída, não se aponte
Sequer a direção do pensamento
E assim me vendo só, eu me atormento.
29816
“Eu, que entoava na delgada avena”
Enriquecendo o passo com o sonho,
Enquanto aos meus caminhos me proponho
A vida em derrocada já se acena,
Não posso suportar tamanho engodo
E vejo o meu retrato em luzes grises
Ao perceber na vida tais deslizes
Enfrento agora ao fim, imenso lodo
E podo-me dos sonhos mais falazes,
Mergulho nesta insânia que me deste,
Aonde se fez belo, agora agreste
Traçando este viver que enfim me trazes,
Morrendo qual se fosse um esfaimado
Cordeiro exposto às fúrias deste prado.
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