terça-feira, 13 de abril de 2010

HOMENAGEM A AGNELO REGALLA

FLOR NOCTURNA

Flor nocturna
Que com a lua
Desabrochas em meus braços
Flor soturna
Que pelas sombras da rua
Guias teus passos,
Flor amiga
Com pétalas de estrelas
E résteas de luar
Deambula noctívaga
Pelas vielas
E vem-me abraçar.
AGNELO REGALLA




1

“E vem-me abraçar”
A sombra de quem
Outrora meu bem
E agora no mar
A sorte a guiar
Farol não contém
A morte não tem
Nem sol nem luar.
Viver tão distante
De quem num instante
Já não vive aqui,
Quem dera pudesse,
O que vale a prece
Se há tanto eu perdi?

2

“Pelas vielas”
Esquinas tantas
Ainda encantas
Porém sem velas
Aonde atrelas
Rotas as mantas
A vida? Quebrantas
Rasgas as telas
Longe deformas
As regras, normas
Do quanto amei
O passo alheio
Nada rodeio
Vazia a grei.

3

“Deambula noctívaga”
Quem tanto eu queria
A morte, a agonia
Agora aqui vaga
O tempo diz nada
A lua se ausenta
O vento, a tormenta
Cadê a alvorada?
No nada que levo
Apenas o tanto
Amor, desencanto,
Vazio o que cevo
E vivo esta morte
Sem paz, nem suporte...


4

“E résteas de luar”
Aonde eu poderia
Ao menos fantasia
Distante navegar
Por ondas sem o mar
A vida sendo fria
O encanto, uma alegria
Jamais pude encontrar.
Vazio diz vazio
E se repete assim,
Do tanto de onde vim
O nada que ora crio
Ao menos qualquer brilho,
Em trevas, andarilho...

5


“Com pétalas de estrelas”
Jogadas sobre o mar
Aonde te encontrar
Aonde posso tê-las?
Somente por vivê-las
Ainda irei sonhar
E quanto a te buscar
Pudesse concebê-las
Recebo então do nada
A sorte anunciada
A morte se mostrando
Desnuda em minha frente
Sem nada que apascente
O brilho é vão, nefando...

6

“Flor amiga”
Onde posso
Meu e nosso
Desabriga
Sorte diga
Sou destroço
Não remoço
Alma antiga
Vida aquém
Busco quem
Possa dar
Mas sem sol,
Sem farol,
Sem luar?

7


“Guias teus passos,”
Sigo teus rastros
Vagando em astros
Ganhando espaços
E sinto nos traços
As bases e os mastros
Da vida meus lastros
Olhares baços
Procuram sorte
Aonde o corte
Se aprofundara
Não resta tanto
Resta o quebranto
O corte, a escara...


8


“Que pelas sombras da rua”
Nada mais eu poderia
Encontrar se a poesia
Noutro tanto não flutua
Bebo a sorte, solta e nua
Onde busco a fantasia
Perco o rumo e a alegria
Nesta noite ausente lua
Vicejando apenas isso
No vazio não me viço
E se eu tento, nada vejo
Tão somente o mesmo frio
E decerto sem estio,
O que vale meu desejo?





9

“Flor soturna”
Noite imensa
Se convença
Da ternura
Que procura,
Mas não pensa
Recompensa?
Amargura
Viva além
Saiba bem
Que se fez
Simplesmente
Se pressente
Pequenez...

10


“Desabrochas em meus braços”
Esperança que talvez
Inda ao longe quando vês
Esboçando novos traços
Perseguindo rastros, passos
Encontrando a insensatez
Toda a glória se desfez
E deveras sem compassos
Perco o senso e nada digo
Ao me ver em desabrigo
Navegando em mar sombrio,
O que tanto imaginara
Noite calma, doce e clara,
Nessa senda não desfio...


11

“Que com a lua”
Ausente sol
Sem ter farol
Que restitua
O brilho amua
E caracol
Sonho de escol?
Não ganha rua
Mortalha viva
A alma se priva
E morre só
Sabendo disto,
Ainda insisto,
Retorno ao pó.


12


“Flor nocturna”
Lua cheia
Incendeia
Tal candura
A brandura
Segue alheia
Perde a veia
Não perdura
Gira o tempo
Contratempo
Temporal,
Vida passa
E a fumaça,
Ato final...

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