sábado, 17 de abril de 2010

30052/53/54/55/56/57/58/59/60/61/62/63/64

30052

Pecaminosos rumos ditam sombras
E quanta vez eu tive em minha mente
A sorte em que a tempesta se apresente
E dela cada passo em que me assombras,
Metáforas à parte resta a morte
E não abro mais mão de algum segundo
E quando em fanatismos me aprofundo
Redundando deveras noutro aporte
E quase se percebe mesmo assim
O pendular caminho em me entrego,
Prefiro este sonâmbulo qual cego
Ao quanto de um noctívago há em mim,
Servindo a quem semeia esta vergasta
A morte com agora não contrasta.


30053


Não posso controlar mais o que sinto
E nem talvez me reste muitos dias,
Aonde se pudesse em alegrias
O mundo há tanto tempo sinto extinto,
E quando remodelo, ou mesmo pinto
Em aquarelas tantas, fantasias,
O gozo do passado em que recrias
A sorte em deferência eu tento e minto
Omito de mim mesmo, eis a tolice
O quanto a vida sempre tanto disse
E nesta vaga noite me aprofundo
Nos ermos de mim mesmo e nada encontro,
E neste pouco ou tanto desencontro
Galgando em solidão encaro o mundo.


30054


Sou a sombra de um homem, nada mais,
Esboço do que um dia foi sincero
E quando algum momento; ainda espero,
Os dias revivendo os vendavais
E deles ouço sempre este jamais
O peso do viver deveras fero
Enquanto no vazio eu me tempero
Secando dentro em mim mananciais
Assisto a que pudesse ser colheita
Na agreste condição nada se espreita
Somente a seca imensa, esta aridez,
O quanto poderia no passado,
O mundo noutra cena, desolado
Aonde poderia, enfim, desfez...


30055

Calcando os infinitos onde tanto
Não soube traduzir felicidade
Medonha face exposta desagrade
Quem sabe noutros tempos o áureo manto.
E quando ainda tento, e já me espanto,
O corte se aprofunda e com saudade
Falando de outra vida, a realidade
Moldando a cada passo este quebranto,
Quimeras acumulo dentro da alma,
Nem mesmo a poesia ainda acalma
Dos traumas que carrego eu sei tão bem,
Alaga-me decerto a solidão
E nesta eterna noite em negação
Somente este vazio me contém...


30056

Resisto muitas vezes ao que um dia
Pensara ser deveras solução
E tanto quando pude a sensação
Desta mortalha ainda o tempo adia,
Mas nada do que possa a poesia
Mudar caminho tosco e sem timão
Aonde poderia a direção
Deveras enfrentando a ventania
Vergastas dilaceram minha pele
Enquanto este cenário me compele
Dicotomias tantas eu enfrento,
Não posso condenar este andarilho
Porquanto tão errático hoje trilho,
Apenas no tormento me apascento...


30057


Ecoa dentro em mim cada pedaço
Das trevas onde um dia deambulo
E quando qualquer resto ainda engulo
O sonho de um lirismo assim desfaço,
Herdara esta mania de outro traço
E nele com ternura perambulo,
Mas quando se mostrasse em tom mais fulo
Uma alma não encontra mais regaço.
Assusta-me saber do estar a pique
Enquanto a poesia quer repique
A vida desolada diz do não
E dele as fantasias, carnavais
Os ditos mais audazes, sensuais
Apenas ressoando a solidão...


30058


Acordo quando encontro este cenário
Aonde se mergulha o torpe sonho
E quando pra mim mesmo hoje componho
Meu canto nunca foi tão necessário,
Mortalha se aproxima e meu fadário
A cada amanhecer, tosco eu proponho
E tanto poderia ser risonho,
Mas sei ser totalmente temerário
Embora a podridão restrinja aos pés
Minha alma não conhece, pois galés
E sendo libertária segue em frente
Até que esta mortalha então me vista
Futuro desolado e pessimista
Apenas o vazio uma alma sente.


30059


Ocasos costumeiros de quem sonha
Devaneios apenas nada mais,
E tanto poderia mais banais,
Mas quando a cena exposta é mais medonha,
Riscado do papel qualquer figura
Que ainda possa dar forma ao que canto
E tanto se mostrasse em medo e espanto
Diverso do que em mim, tolo, perdura,
Acenos do futuro se perdendo,
Negando cada passo rumo ao que?
O todo se desfaz, uma alma vê
Apenas no vazio o dividendo,
Herdeiro deste nada; o mesmo deixo,
Por vezes eu reluto, e inútil, queixo...


30060


Pecado é ser o não enquanto pude
Viver felicidade. Relativa...
Uma alma tão somente sobreviva
Ausente desde quando a juventude,
Não quero nem mudando de atitude
O quanto a minha sorte mesmo priva,
A morte se mostrando a alternativa
Por mais que isto pareça amargo ou rude.
Espero este cenário mais diverso
E tento com a fúria do meu verso
Embora saiba bem o quanto eu valho,
Não pude descrever outra versão
O mundo não encontra a solução
E a solidão me leva me torpe atalho...



30061

Acuado por tantas heresias
Performances diversas morte e vida
E quando este caminho se decida
Deixando no passado as fantasias
Mergulho neste vão e nele guias
Sabendo que não há sequer saída
Apenas preparando a despedida,
As horas que inda restam são sombrias.
Neófito nas ânsias mais audazes
E quando a solução deveras trazes
Não tendo uma outra opção sigo sozinho,
Mas sei que tudo molda este cenário
No quanto o meu morrer é necessário
E quando do vazio eu me avizinho.

30062


Servindo a quem se mostre mais cruel
Meu verso não produz qualquer efeito
E quando me amortalho e insone deito
Vagando o pensamento sempre ao léu
Acordos do passado em vil papel
Arcando com os erros, tosco pleito
E tanto poderia estar aceito
Aonde a virulência dita o fel,
Apenas o que resta ao sonhador
A cada novo instante decompor
O quanto inda restara em viva voz,
E sendo a realidade sempre assim,
O sonho determina agora o fim
E sei o quanto a morte é mais veloz...


30063


Das lágrimas nem sombra, mas não quero
Tampouco poderia crer no apoio
De quem sabe decerto deste arroio
Infecto entre delírios, tosco e fero,
Aonde poderia ser sincero
O mundo se prepara em vão comboio
Deixando para mim o mero joio,
Eu sei que isto eu mereço, e assim espero
Nem mesmo a despedida dos meus filhos
Que tanto se fizeram noutros trilhos
Restando assim quem sabe a poesia,
Risonho prisioneiro? Nada disso,
O quanto de uma luz mera cobiço
Por onde a realidade nada cria...


30064


Talvez quem sabe um dia eu possa ter
A sorte de um momento em redenção
Embora vai distante o meu verão
No mundo não cabendo mais prazer,
Opaco caminhar eu passo a ver
E tento acreditar noutra versão,
Mas sinto finalmente esta aversão
Ao que trouxesse à luz algum poder,
E quando prenuncio a bancarrota
O barco sem caminho perde e rota
E a porta sempre aberta sabe a tranca,
O peso de uma vida em dores tantas
Ao mesmo tempo ainda vens e espantas
Enquanto a realidade me desanca.

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