sábado, 17 de abril de 2010

30041/42/43/44/45/46/47/48/49/50/51

30041

Não se vê qualquer sinal
Do que fora noutras eras
Poesia em que temperas
Um divino ritual
O caminho magistral
Hoje feito pelas feras
Não se pode em primaveras
Onde eterno este invernal.
E percebo quanto eu falo
Mesmo quando crio calo
A verdade após o quanto
Verso tanto poderia,
Mas a noite sendo fria
Espalhando este quebranto.

30042


A peçonha diz serpente
A serpente diz do fogo
E deveras neste jogo
Não há fé que me apascente
Não que seja algum demente
Desde quando agora e logo
Se por vezes inda rogo
É que ainda sou temente,
Vivo as cenas do abandono
Vivo as trevas do que agora
Tão somente vejo aflora
E não deixa sobrar nada
A seara destroçada,
Só me dá cansaço e sono...


30043

Não resisto se a sereia
Inda vem em cantoria,
Nem tampouco se inda cria
Num sertão a lua cheia,
Mas a sorte não rodeia
Quem perdendo a fantasia
Assassina a poesia
E deveras não clareia
Sem arreio este corcel
Galopando agora ao léu
Caminhada tão confusa
Pobre mesmo desta que
A beleza não mais vê,
Tenho pena desta Musa...


30044


Rastros vejo do que um dia
Poderia ser diverso
Se eu ainda tento um verso
Onde nada caberia
Não me venha em heresia
Já dizer do quão disperso
Possa ser este universo
Nele o rastro não me guia,
Esgotando toda a sorte
Sem ter nada que suporte
A verdade dita o rumo,
E se tanto sou culpado,
Vejo as sombras do passado,
Qualquer coisa hoje eu consumo.


30045


Reduzido agora a pó
Nada mais quero pra mim,
Sendo agreste o meu jardim,
Esta vida dando um nó,
Caminhando sempre só
Vejo as marcas de onde vim
E teimando até o fim,
Já não quero pena e dó,
Sei da minha desventura
A decerto uma amizade
Tanto bem nos agrade,
Mas deveras nunca cura,
Hoje eu falo de quem tanto
Se perdeu em desencanto.


30046


Pego às vezes a carona
Neste rabo de cometa
E se adentro em qualquer greta
A verdade já se adona,
Moça bela e solteirona
Tanto engano que cometa
Minha amiga não prometa
Que este sonho te abandona.
Risca o céu a poesia
E transforma qualquer forma
Muitas vezes já deforma
Ou diversa face cria,
Não pudesse a melodia
Quando o encanto se conforma.


30047


Jogo às vezes pra torcida,
Mas não quero ver a história
Repetindo a falsa glória
De quem tanto já duvida
Do que fora despedida
Noutra forma de vanglória
Na verdade é merencória
Morte quando em plena vida.
A toalha vez em quando
Sobre o chão deste tablado,
Se o caminho foi forjado,
Logo sigo desvendando,
Quando vejo nada resta
Só tal sombra hoje funesta...

30048


Carpideiro coração
Na verdade foi demais
Enfrentara temporais
E soubera a direção,
Mas agora se verão
Os momentos terminais
Das estâncias divinais
Transformando em negação
O que um dia fora sim
E se perde sem um fim,
Recomeça noutra senda.
A vertente que se vê
Continua sem por que,
Sem ninguém que hoje me entenda.


30049

Pudesse semear com tal fartura
Sabendo da colheita em garantia,
Mas quando a sorte atrasa ou mesmo adia
Gerando após o brilho uma amargura
Deveras tanta coisa se procura
E uma alma de poeta fantasia,
Mas logo realidade mostraria
Às quantas anda agora esta loucura.
Perdendo qualquer nexo um helianto
Embrenha o seu olhar em novo encanto
Confunde noite e dia, sol e lua,
Mas quando se percebe noutro fato,
O quanto poderia ser mais grato
Em senda bem diversa agora atua.


30050


Atenda ao telefone e por favor
Não deixe de avisar que não voltei,
O amor que um dia fez de mim um rei
Agora se morrendo em vão torpor,
Não posso mais ver filme feito horror
Tampouco com seus olhos desenhei
O girassol que um dia imaginei
E agora se morrendo em outra flor.
Cadeiras já quebradas, pés torcidos,
E sendo assim os dias resolvidos
Não vou ficar aqui só de bobeira,
E quando esta figura se apresenta,
Certeza de uma noite violenta,
Palavra tão macia é traiçoeira..


30051


O amor que tantas vezes eu queria
Disperso noutros rumos ora vejo
E quando se mostrasse em tal desejo
A morte se aproxima em agonia.
Carcaça se renova enquanto cria
Um dia mais amargo e se prevejo
Final do farto amor, mero lampejo,
A face caricata, o que se via.
Servindo tão somente de palhaço
Ainda este caminho eu não desfaço,
Mas sei que depois disso nada vem,
E tendo esta certeza, sou teimoso,
Aonde quis um sonho majestoso
Não vejo sequer sombra mais de alguém...

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