quarta-feira, 14 de abril de 2010

29754/55/56/57/58/59/60

29754


“Com uma harpa de pétalas de flores,”
Gerando a primavera que sonhara
Assim a vida fosse mais clara
E nela com certeza meus amores.
Diversa da verdade que ora vejo
E traça-se em meus olhos mais sombria
A sorte a cada passo mais se adia
O coração se mostra então sobejo
Vagando pelas ânsias e delírios
E deles não conheço belas rosas
As horas que pensara majestosas
Florescem no canteiro cravos, lírios
Mortalhas do que fora uma ilusão,
E nelas novas dores nascerão.

29755


“Vêm-me em sonhos todas as formosas”
Manhãs que tanto quis desconheço
A cada novo dia outro tropeço
Espinhos onde eu pude crer em rosas
Assim seguindo rumo ao nada ter
Esgarçam-se os momentos em terror
Aonde poderia crer no amor
Sobeja tempestade em desprazer
E quanto do meu sonho já se fora
Estreitas ruas trazem mesmos nãos
E quando se cevara inúteis grãos
Aonde poderia tentadora
A sorte se mostrando assim atroz
Ninguém escutaria a minha voz...


29756

“Buscando justas e buscando amores,”
As ânsias mais atrozes nada dizem
Apenas os momentos em que bisem
Olhares desditosos em terrores
Alhures sinto o frio em descaminho
Aqui já nada tendo, resta o medo
E ainda quando em sonhos eu procedo
Diverso mergulhar trama outro espinho
E nada do que pude acreditar
Nem mesmo algum alento inda se vê
A vida se passando sem por que
Aonde pude crer n’algum luar
Mortalha em grises ares se tecendo
O mundo em tez brumosa me envolvendo...


29757

“E a guitarra imortal dos trovadores”
Toando em dissonantes ilusões
Enquanto em dores tantas me propões
Somente o que encontrara em dissabores
A porta se trancando nada traz
Semente se abortando nega a sorte
E tendo noutro tanto vago norte
O dia se traçando mais mordaz
Medonha face vejo do que tanto
Pensara noutro tempo mais feliz
O quanto amor deveras já desdiz
E neste não dizer vivo quebranto
Mergulho insanamente no vazio
E o quanto já pudesse desafio...


29758

“Brando a lança de lendas luminosas”
E ainda nelas crio embora a vida
Há tanto tempo perde uma saída
Deixando para trás as velhas rosas
E quanto mergulhasse em tal abismo
Não posso acreditar num amanhã
Assim se perfazendo agora vã
Mesquinha realidade aonde cismo,
Vagando em noite amarga e em tempestade
O medo se transforma em meu aporte
Sem ter sequer quem possa ou mesmo a sorte
Ainda em trevas feita ora me invade
O fardo se tornando mais feroz
Do amor perdendo rumo, fonte e foz.


29759


“Notas desfiro no arrabil das dores;”
E quanto mais pudesse ainda ter
A sorte desdenhosa posso ver
E nela não consigo mais as cores
Aonde se pudesse a primavera
Aonde se encontrasse este matiz
O mundo a cada dia mais desdiz
Deixando para trás o que tempera
A vida de um poeta. Inspiração
E traz somente o frio e nada mais
Bebendo tão somente os temporais
Ainda posso ver algum verão?
Somente inverno dita o dia a dia
E assim a morte em vida se porfia.


29760


“Sou cavalheiro e menestrel, chorosas,”
Verdades não consigo desvendar
E sonho com as fráguas do luar
Aonde se pensara em majestosas
Noturnas belas sendas, nada vejo
E tudo não passando do vazio
E quanto mais atroz, duro e sombrio
Caminho em que deveras o desejo
Apenas amortalha a fantasia
E mata o que pudesse ter ainda
Deveras nada trama a noite infinda
Restando tão somente esta agonia
E tanto poderia ser feliz
Distante deste sonho? Nada fiz.

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