quarta-feira, 14 de abril de 2010

29726/27/28/29/30/31/32/33/34

29726

“Pois, sou outono. Vem, vem e me toca”
E saiba que ao tocar a pele em rugas
Ainda se preparam novas fugas
E nelas o prazer já desemboca
Sorvendo esta alegria, finalmente
Cansado de lutar contra o fastio,
O amor que novamente é desafio
O tanto se mostrando plenamente
E assim ao mergulhar neste delírio
Um andarilho imerso em solidão
Sabendo dos momentos que virão
Esquece totalmente o seu martírio
E bebe desta fonte inebriante
O mundo se renova ao mesmo instante.


29727




“sua última rosa desfolhada”
Há tanto morta em mim a primavera
Tomando cada passo esta quimera
Matando o que seria uma alvorada
A sorte se traduz em dor intensa
E nela com certeza ainda vejo
A morte insofismável do desejo
Não tendo quem deveras me convença
Do dia prometido em luz suave
Da mansidão após a tempestade
Enquanto este vazio me degrade
E o medo a cada não bem mais se agrave
O quanto poderia haver em mim
Há tanto destroçando o meu jardim...


29728



“sem teu calor não pode mais ter vida”
Quem tanto procurara outro caminho
E vendo-me decerto assim sozinho
A morte a cada passo sendo urdida
A treva toma conta do que fora
Num tempo mais feliz bela paisagem
E agora a neve entorna esta roupagem
Matando uma alma leve e sonhadora
Mergulho nesta insânia e rasgo o tempo,
Medonha face vejo neste espelho
E quando no vazio me aconselho,
Encontro a cada passo o contratempo
Beijando o teu retrato amarelado,
A vida se condena ao vão passado.



29729



“por dentro é sombra, vencimento, nada;”
Assim vou prosseguindo até o fim,
Matando o que restara, amor, em mim,
A sorte totalmente destroçada
Risonho sonho diz da juventude
Mortalha do presente no futuro
O quanto em morte/vida me asseguro
Caminho que deveras nada mude,
Mesquinhos os momentos que inda tenho
E neles não encontro mais a paz
Do Amor que tantas vezes satisfaz
Só resta esta vontade em tolo empenho,
Vasculho nesta insânia que sou eu
E encontro o que decerto se perdeu.


29730



“Esse outono é cruel, grade florida,”
Deixada numa ausente primavera
A sorte a cada passo destempera
Regendo solidão, matando a vida
Ainda o que restara sendo pouco
Não trama novo rumo; e quem pensara
Apenas numa noite mansa e clara
No imenso turbilhão, já me treslouco
E vago sem destino em noite vil
Persigo qualquer luz, mas nada resta
Apenas esta imagem mais funesta
O amor sem ter caminho não se viu
E morto desde quando em frio tanto
Outono fez se ouvir em torpe canto...


29731


“e me engana outra vez quando me beijas”
A furiosa noite em tempestade
Porquanto ainda viva cante e brade
Deveras muito aquém do que deseja
Uma alma sonhadora em luz tão forte
Ausente dos meus olhos a esperança
Enquanto no vazio o passo avança
Sem ter sequer na vida algum suporte
Mergulho neste pouco que pensara
Bastante, mas somente o que se vê
A vida sem carinho e sem por que
A sorte se mostrando bem mais rara,
Mortalha em torpe luto e nada mais,
Onde quisera dias magistrais...


29732


“quer alegrar-me,mas no entanto é triste”
Ilusões não bastam, quero a luz
E quando ao mesmo nada me conduz
O passo pelo qual o sonho insiste
Amedrontado mesmo, nada vejo
E creio tão distante este momento
No qual deveras tento e me apascento
Vivendo a realidade de um desejo
Anseios tão diversos não encontro
E quando tento um passo mais audaz
Apenas a mortalha é o que se traz
Na vida feita em dor e desencontro
Apronto cada dia em luz sombria
A primavera, morta, não me guia...


29733


“esse outono angustiado que me arejas,”
Este medo sutil de nova senda
A sorte com ternura não atenda
O quanto mais em luzes tu desejas
Não pude perceber outra saída
A morte poderia me aplacar
E assim ao ver distante o imenso mar
O quanto se prepara é despedida
Não tendo em minhas mãos a solução
O tanto se desnuda em voz funesta
E vivo o que talvez adentre a fresta
Pensando noutros brilhos que virão,
Mas sei do outono e nele já me interno
Aguardo finalmente o torpe inverno...


29734

“Este outono que em ser galante insiste”
Depois de tanta luta em noites vãs
A vida sem saber d’outras manhãs
Deixando o coração deveras triste
Ansiosamente busco por notícias
Que possam me trazer algum alento
Mas quando mais procuro e me atormento
Do tempo só encontro tais sevícias
E assim ao perpetrar este vazio
Somenos importância tem a morte,
Sem ter momento algum que me conforte
O coração se mostra amargo e frio,
Na gélida expressão desta borrasca
Ao peito só restando uma nevasca...

Nenhum comentário: