quarta-feira, 14 de abril de 2010

29782/83/84/85/86/87/88

29782

As lágrimas que trago aqui comigo
Traçando em minha face a desventura
E quando novo tempo se assegura
O medo perpetua o desabrigo
Vencido pela angústia a cada instante
Vivendo o que pudesse ser maior
O mundo desabando em tom menor
A melodia outrora fascinante
Apenas traduzindo a realidade
E tanto se transcende ao que talvez
Pudesse renovar o que se fez
Em dura e tão temível tempestade
Escondo-me da fera solidão
E dela amortalhado o meu verão...


29783


Aonde se pudessem ver os céus
Somente a solidão tomando a cena
O amor que tantas vezes me serena
Não sabe de outros rumos, negros véus
E quando se pensara em fogaréus
A sorte se mostrando mais amena
Agora se esvaindo me envenena
Percorro sem sentido tantos léus
E alheio ao que pudesse me trazer
Ainda o que não posso conhecer
Felicidade, um dia tanto quis
E quando me encontrando solitário
O tempo se mostrando temerário
Cevando a mais profunda cicatriz...


29784


As dores me acompanham, duro fado
E tanto poderiam traduzir
Felicidade além, mas meu porvir
Retrata fielmente o meu passado
O dia em plena paz, tanto sonhado,
Aonde se pudesse este elixir
Apenas o terror sinto bramir
Deixando o meu caminho desolado,
Mortalha de um amor que tanto outrora
Vencera meus anseios, mas se aflora
Somente a imensidão deste vazio
E quanto mais atroz o temporal
O sonho se renova em ritual
E assim a minha sina, desafio...



29785


Não quero mais seguir por sobre os mares
Intensa esta procela que ora vejo,
Aonde poderia ser sobejo
Aonde poderiam ter luares,
Deveras quando espero, se notares
Ainda tão distante do azulejo
Encontro desvairado este lampejo
Matando a poesia em seus altares
Assisto ao fim de tudo em precipícios
E quando se pensara em bons ofícios
A sorte não me traz outra verdade
Senão a face escusa deste abismo,
Somente cada passo em cataclismo
O meu destino assim já se degrade...


29786


Encontro-a em face opaca, e mesmo vã
Esboço a cada verso o que inda sonho,
A face de outro tempo mais risonho
Ainda se mostrasse novo afã,
Mas quando me percebo na manhã
Somente um duro esgar, tosco e medonho
E nele cada verso que componho
Retalha a vida amarga e tão malsã
Assim ao caminhar de peito aberto
Uma esperança aos poucos eu deserto
E morro a cada dia mais ausente
Sem ter sequer a luz que me guiasse
A vida se mostrando em torpe face
Negando uma alegria que apascente...


29787


Sentindo como enfim abrisse os braços
E tanto me tocasses com prazer
Quem dera se pudesse amanhecer
Traçando com firmeza belos laços.
Porém os dias seguem sendo baços
O fato de somente reviver
O quanto imaginara sem poder
Deixando os meus caminhos bem mais lassos
Mesquinhos dias vejo amortalhados,
Aonde se mostrassem frios fados
A sorte poderia ser diversa,
Mas tudo não passando de ilusão
Os dias sem prazer se mostrarão
Aquém do que decerto o sonho versa.


29788


Amor ao penetrar tantos espaços
Trazendo raro brilho a quem se deu
E tanto noutro encanto teu e meu
Os dias não seriam sempre lassos,
Medonhos os caminhos, falsos traços
O rumo que decerto se perdeu
Na ausência de prazer só conheceu
Do encanto deste amor, meros e escassos
Resíduos do que fora a primavera
Ausente de quem tanto precisava
A sorte se mostrando em fúria, e brava
A trava se traçando em meu caminho,
Aonde imaginara mais suave
A cada novo não a dor se agrave
E assim prossigo em vão, sempre sozinho...

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